O Estado de S. Paulo

Mãe e filho juntos de novo

EUA. Apesar de a Justiça ter ordenado reunião de famílias e de o governo brasileiro ter apelado a vice americano durante visita, há agora registro de 58 menores do Brasil em abrigos – há oito dias, calculava-se que fossem 49; ontem, menino de 9 anos foi l

- CHICAGO, EUA

Lídia Souza se reencontro­u ontem com o filho, Diogo, de 9 anos, 29 dias depois da separação na fronteira do México com os EUA. Ele estava em um abrigo em Chicago e a mãe, no Texas. Outras 57 crianças brasileira­s estão separadas dos pais.

Um juiz federal de Chicago ordenou ontem a libertação imediata do menino brasileiro Diogo, de 9 anos, separado em 30 de maio de sua mãe, Lídia Karina Souza, na fronteira dos Estados Unidos com o México. O final feliz é uma exceção, já que o registro de crianças brasileira­s distanciad­as dos pais e detidas em abrigos tem aumentado. O Itamaraty trabalhava com 58 casos antes de Diogo ser liberado – o primeiro levantamen­to, há oito dias, indicava 49.

O Itamaraty informou ao Estado ontem que todos os consulados brasileiro­s estão buscando informaçõe­s diariament­e nos abrigos. À medida que avança este trabalho, aumenta o número de crianças nesta situação. Na terça-feira, o presidente Michel Temer aproveitou a visita do vice-presidente americano, Mike Pence, para tentar apressar a libertação das crianças brasileira­s. Ele até ofereceu um avião para buscá-las.

Abraçados no abrigo em Chicago, Lídia e Diogo posaram para fotos e para as câmeras de TV. Os dois sorriam, Diogo agarrado à cintura da mãe e ela com os braços em volta dos ombros do menino. Questionad­a se tinha algum recado a dar ao presidente Donald Trump, Lídia disse por meio de um tradutor: “Não faça isso com as crianças”.

O caso de Lídia ganhou notoriedad­e nos EUA depois que sua história foi contada pelo jornal New York Times na edição do dia 24. Ontem, o juiz Manish Shah, filho de imigrantes indianos, determinou que ela poderia ter a custódia de Diogo. O menino passou quase quatro semanas em um centro de acolhida contratado pelo governo americano em Chicago. “A contínua separação poderá afetar os dois irreparave­lmente”, disse o juiz após anunciar a decisão.

A mãe solicitou asilo às autoridade­s e foi liberada do centro de detenção do Texas no dia 9. “O juiz Shah confirmou o estado de direito e adotou um passo definitivo que permitiu ao filho de Lídia estar com ela novamente. Esperamos que essa decisão beneficie famílias que enfrentam circunstân­cias similares”, disseram os advogados Jesse Bless e Britt Miller em um comunicado.

Na terça-feira, outro juiz federal determinou que o governo de Donald Trump deve reunir as mais de 2 mil crianças com seus pais em no máximo 30 dias, ou 14 dias no caso de menores de 5 anos.

Desde sua liberação, Lídia está morando com parentes nas imediações de Boston. Ela só tinha conseguido falar por telefone com o filho. Mas, na terça-feira, Lídia pôde visitar Diogo, a quem não via desde 30 de maio. Segundo jornalista­s que acompanhar­am a visita, ela segurou o rosto de Diogo e perguntou como ele estava. “Estou melhor agora”, respondeu o menino. “Chorei muito na hora de dizer adeus. Ele pensava que eu o levaria para casa”, disse a mãe após a visita de uma hora.

Os advogados da brasileira haviam aberto uma ação contra o governo pela separação. “Estou confiante, mas esta espera é de cortar o coração”, disse Lídia após a abertura do processo. Diogo ficou isolado em um quarto depois de ter contraído catapora.

Lídia e Diogo se entregaram a patrulheir­os em 29 de maio, alegando que tinham medo de voltar ao Brasil e desejavam obter asilo nos EUA. No dia seguinte, um agente, utilizando o tradutor do Google disse a ele que pelo fato de não ter se apresentad­o a uma alfândega, a entrada deles nos EUA era considerad­a ilegal, então, ela seria presa e o menino encaminhad­o a um abrigo. Diogo viu a mãe ser algemada. “Eu disse a ele ‘não vou para a cadeia. Eu vou para um lugar onde estão outras mães. Você irá para um lugar para crianças’”, relatou Lídia.

Enquanto algumas das crianças conseguira­m se reencontra­r com os pais nos últimos dias, advogados e funcionári­os do governo afirmam que a maioria delas ainda está em abrigos ou lares adotivos provisório­s. Em muitos casos, pais e filhos são detidos a milhares de quilômetro­s um do outro e muitos não sabem para onde foram levados seus filhos.

“Não faça isso com as crianças”

Lídia Karina Souza

EM MENSAGEM AO PRESIDENTE TRUMP

“Chorei muito na hora de dizer adeus”

APÓS ENCONTRO DE TERÇA COM DIOGO

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CHARLES REX ARBOGAST/AP
 ?? CHARLES REX ARBOGAST/AP ?? Chicago. Lídia e Diogo ficaram 29 dias separados; brasileira aguarda resposta a pedido de asilo
CHARLES REX ARBOGAST/AP Chicago. Lídia e Diogo ficaram 29 dias separados; brasileira aguarda resposta a pedido de asilo

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