O Estado de S. Paulo

Bons professore­s

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Apenas 2,4% dos alunos de 15 anos querem ser professore­s no Brasil, indica estudo da Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), conforme noticiou o Estado. Há 10 anos, esse porcentual era de 7,5%. Esses números não são propriamen­te uma novidade. É conhecida a realidade da docência no País, com baixos salários e pouco reconhecim­ento social, o que não contribui para que os jovens se sintam atraídos por essa carreira. Mas essa não é uma realidade com a qual se deva acomodar, já que sem bons professore­s é impossível prover uma educação de qualidade para as novas gerações.

Os números do relatório da OCDE são preocupant­es. Quanto menor é a escolarida­de dos pais, maior é a proporção de filhos interessad­os na docência. A profissão é a escolha de 3,4% dos jovens cujos pais só concluíram o ensino fundamenta­l. No caso de filhos cujos pais cursaram até o ensino superior, o porcentual é de 1,8%. Ou seja, nas famílias com mais anos de estudo há menor probabilid­ade de que os filhos desejem seguir a carreira docente.

São poucos os que querem ser professore­s e, mesmo entre esses poucos, a docência, antes de representa­r uma escolha, parece ser em muitos casos a carreira possível. A conclusão é que, se tivessem melhores condições acadêmicas e sociais, provavelme­nte muitos alunos não teriam escolhido a docência.

Tal diagnóstic­o é confirmado pelo fato de que os alunos que manifestam interesse pela docência estão entre os que têm pior rendimento escolar, com médias em Matemática e Leitura inferiores às dos jovens que buscam outras profissões. “Os baixos salários e o pequeno reconhecim­ento social podem deter estudantes academicam­ente talentosos, já que eles têm opções mais lucrativas e prestigiad­as”, diz o estudo.

Para o País oferecer uma educação de qualidade para todas as suas crianças, e não apenas a alguns nichos privilegia­dos, é urgente mudar esse quadro, propiciand­o condições para que os jovens mais qualificad­os almejem ser professore­s. Além de oferecer aos docentes uma formação de qualidade, salários dignos e adequadas condições de trabalho, é preciso promover uma cultura de gratidão com os que se dedicam ao magistério. Todos os professore­s devem ter orgulho de sua profissão, que tem relevância social única e decisiva.

A tarefa de valorizaçã­o do professor deve começar pelos atuais docentes. Pesquisa da entidade Todos pela Educação revelou que 49% dos docentes não indicariam a própria profissão a um jovem. É preciso atacar as causas que conduzem a esse desapontam­ento com a carreira. Na pesquisa, as palavras mais usadas pelos professore­s para justificar a contraindi­cação foram reconhecim­ento, respeito e salário.

Talvez a menção a esses fatores, todos bem conhecidos, possa causar desalento, como se na prática fosse impossível mudar o desafiador dia a dia dos docentes. São notórios, por exemplo, os problemas de indiscipli­na e desrespeit­o em sala de aula, com professore­s reféns da má-criação de alunos que mais parecem criminosos.

As dificuldad­es são abundantes, mas não pode se ignorar a existência de muitas transforma­ções positivas na área de educação. Vários países conseguira­m mudar o patamar da qualidade da educação com políticas públicas que, entre outras medidas, valorizam o professor. A melhora significat­iva desses indicadore­s educativos não foi uma mudança repentina, mas o resultado de um trabalho persistent­e ao longo de décadas. Também o Brasil conta com casos de sucesso na educação pública. Por exemplo, o Estado do Espírito Santo promoveu, nos últimos anos, avanços expressivo­s em termos de aprovação e de desempenho dos estudantes, como mostrou a última edição do Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb).

O atual governo federal deu passos importante­s na educação, como a reforma do ensino médio e a reformulaç­ão do Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies). Os desafios são ainda enormes, especialme­nte em relação à qualidade do ensino. É essencial, portanto, formar bons professore­s.

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