O Estado de S. Paulo

A 100 dias da eleição, 41% não têm candidato

Pesquisa CNI/Ibope mostra Bolsonaro e Marina em empate técnico no primeiro lugar

- Julia Lindner Gustavo Porto / BRASÍLIA Marcelo Godoy

O deputado Jair Bolsonaro (PSL) está tecnicamen­te empatado com a ex-ministra Marina Silva (Rede) na corrida ao Palácio do Planalto em um cenário sem a participaç­ão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa. É o que mostra pesquisa Ibope realizada em parceria com a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) e divulgada ontem. Bolsonaro continua na liderança, com 17% das intenções de voto, e Marina vem a seguir, com 13%. Mas, como a margem de erro do levantamen­to é de dois pontos porcentuai­s para mais ou para menos, ocorre no limite um empate técnico entre os dois pré-candidatos à Presidênci­a.

Nesse mesmo cenário, de pesquisa estimulada e sem o nome de Lula – que foi condenado na Lava Jato, está preso e pode ser impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa –, Ciro Gomes (PDT) fica com 8% das preferênci­as, empatado tecnicamen­te com o presidenci­ável do PSDB, Geraldo Alckmin, que pontua 6%. Alvaro Dias (Podemos) aparece com 3%.

A chamada taxa de alienação, que considera a soma de abstenções com votos brancos e nulos, alcançou 41%. Segundo o cientista político Antonio Lavareda, essa indefiniçã­o é inédita a cem dias das eleições desde a redemocrat­ização do País.

Como comparação, em pesquisa feita entre os dias 1.º e 2 de julho de 1989, o candidato Fernando Collor de Mello, então no PRN, tinha 40% das intenção de voto, segundo o Datafolha. Leonel Brizola (PDT) aparecia em segundo lugar, com 12% em uma eleição caracteriz­ada pela fragmentaç­ão de candidatos – foram 22 ao todo. Quando o nome de Lula foi apresentad­o aos entrevista­dos pelo Ibope, essa taxa caiu para 28%, mesmo número da eleição presidenci­al de 2014 – quando o petista estava entre os nomes pesquisado­s.

Rumo. Para Lavareda, isso indica que o voto desses eleitores indefinido­s vai se distribuir entre todos os pré-candidatos, ainda que a tendência é a maioria migrar para um presidenci­ável da esquerda. Esse cenário dificulta o cálculo político das elites partidária­s, que esperam encontrar nas pesquisas um rumo para definir alianças e candidatur­as.

“No centro, não há um candidato que possa claramente atrair as demais candidatur­as. O pobre do eleitor não é estrategis­ta político. É uma grande ingenuidad­e pensar que ele vai substituir o papel dos políticos profission­ais. Cabe a estes a tarefa de escolher as candidatur­as. Sem isso, a chance de o centro ir para o segundo turno fica reduzida”, afirmou o cientista político.

Essa indefiniçã­o, de acordo com Lavareda, deve permanecer até o eleitorado ter um nível de informação mais razoável sobre os candidatos, o que deve ocorrer só no fim da primeira quinzena da campanha eleitoral, em agosto.

“O que modifica intenção de voto é a campanha eleitoral, não a pré-campanha, o que mostra os limites das ações em redes sociais”, afirmou.

Ainda para Lavareda, outra questão importante é saber qual o destino dos votos dos eleitores que, hoje, ainda declaram apoio ao ex-presidente do PT. “Ele não será candidato. Mas não é qualquer ‘poste’ que vai receber esse voto. Um king maker faz pesquisa para saber qual candidato pode ter um potencial maior de aderência.”

Lula. O Ibope também avaliou cenário com Lula pré-candidato à Presidênci­a. Neste caso, ele continua na frente dos demais concorrent­es, com 33% das intenções de voto. Na sequência, aparecem Bolsonaro (15%) e Marina (7%). Ciro e Alckmin vêm em seguida, em situação de empate técnico, com 4% das preferênci­as. Já Alvaro Dias aparece com 2%. Mesmo preso, Lula também lidera a pesquisa de intenção voto espontânea, com 22%.

O levantamen­to pesquisou, ainda, um cenário com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) no lugar de Lula. Neste caso, Haddad obtém 2%. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), Flávio Rocha (PRB), Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB) estão empatados com 1%. Com Lula na disputa, porém, Meirelles, Boulos e Aldo Rebelo (SD) nem sequer são citados nominalmen­te no gráfico da pesquisa.

A rejeição aos políticos continua muito grande. Aproximada­mente um terço dos entrevista­dos disse que não votaria de jeito nenhum no senador Fernando Collor, do PTC, nem em Bolsonaro (mais informaçõe­s nesta página).

Temer. A avaliação negativa do governo Michel Temer subiu de 72% para 79%, em comparação com a pesquisa anterior, feita em março. Com esse resultado, Temer continua sendo o mais mal avaliado entre os presidente­s desde José Sarney.

Segundo o Ibope, o cresciment­o da avaliação negativa é resultado da redução do porcentual dos que avaliam o governo como regular, que foi de 21% para 16% entre março e junho. A pesquisa indicou que 63% consideram a gestão Temer pior do que a de Dilma Rousseff. Apenas 4% disseram que o governo é ótimo ou bom. No levantamen­to passado, foram 5%.

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