Uma Copa para chamar de sua
Ofutebol entrou tarde na minha vida. Quando criança, eram o tênis e a Fórmula 1, esportes que meu pai acompanhava, que mobilizavam as atenções em casa. Em vez de Zico, Sócrates, Falcão e Toninho Cerezo, lá estavam Ivan Lendl, Boris Becker, Jimmy Connors e, claro, Ayrton Senna e Nelson Piquet.
O tempo passava lentamente enquanto aquelas longas partidas de tênis e as corridas transcorriam. Termos como saque, game e tie-break faziam muito mais sentido do que impedimento, marcação e lateral. Eram os anos 1980.
Durante anos, olhei com estranhamento para as pessoas que se amontoavam em frente à televisão para ver futebol. Passava ao largo das discussões sobre pênaltis, marcações e faltas e também das mesas redondas e dos campeonatos. Não me importava com datas de jogos para marcar programas. Nem entendia o poder de um clássico.
Foi a Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão, disputada em 2002, que me fez descobrir o futebol. É a Copa que eu chamo de minha. Pouco antes do evento começar, um site decidiu explicar os esquemas táticos das seleções de maneira mais interativa. A internet ainda estava se desenvolvendo e, portanto, esse tipo de ferramenta era ainda uma novidade.
Na época, o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, optou pelo 3-5-2, e eu não fazia ideia do que se tratava. Um infográfico 3D mostrava o posicionamento dos jogadores no campo, de acordo com o esquema tático. O que antes pareciam números sem uma sequência lógica para mim passou a fazer sentido. A Copa da Coreia e do Japão mudou minha percepção do futebol e, se não bastasse, vivi o Brasil campeão.
Agora, sim, eu entendia por que as pessoas se amontoam em frente à televisão para ver futebol, por que as discussões sobre pênaltis, marcações e faltas são tão acaloradas, por que uma partida emociona, aproxima e conecta as pessoas, mesmo quando elas não se conhecem.
Animada, passei a acompanhar o Campeonato Brasileiro de perto. Historicamente são-paulina, a família do meu marido se animou com a minha mais nova paixão, o futebol. Ganhei a camisa número 2 do São Paulo Futebol Clube do meu sogro, passei a identificar os jogadores e suas posições, as noites de quarta-feira se tornaram especiais e conheci, finalmente, o Estádio do Morumbi. Vi a estreia do meia Ricardinho contra o Grêmio, em uma festa em que o tricolor paulista venceu por 3 a 0.
Hoje, em casa, o futebol ocupa um espaço diferente – e os filhos adolescentes são os principais responsáveis. Diferentemente de mim, eles já nasceram com time, e impedimento, marcação e lateral fazem parte do dia a dia, assim como o noticiário esportivo e, principalmente, os canais de futebol no YouTube. Os dois ainda não viram o Brasil ser campeão e estão à espera de uma Copa para chamar de sua. E você, qual Copa chama de sua?