A cinco cadeiras de distância, coronel desconhecia Medvedev
O presidente da CBF, coronel Antônio Nunes, estava a cinco cadeiras de distância do primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev, um dos homens mais poderosos do país. Mas, um dia após acompanhar a vitória do Brasil no camarote do estádio do Spartak, o cartola brasileiro afirmava desconhecer a existência do russo e até mesmo que estivesse no jogo.
“Quem?”, indagou o coronel, ao ser questionado pelo Estado se havia trocado algumas palavras com o chefe de governo russo. “Falei é com o embaixador do Brasil”, disse.
Nunes, ao chegar ao estádio na quarta-feira, foi colocado longe do presidente da Fifa, Gianni Infantino. Ele deveria se sentar ao lado do cartola máximo do futebol, conforme estabelece o protocolo da Fifa em jogos da Copa do Mundo.
Em seu lugar, foi estabelecido que o representante brasileiro seria Fernando Sarney, vice da CBF e membro do Conselho da Fifa. Assim, com Sarney de um lado e Medvedev de outro, Infantino não teve qualquer necessidade de fazer contato com Nunes. Coube a Sarney a interlocução com Medvedev. Os dois falaram de futebol e de alguns jogadores.
Medvedev foi presidente russo entre 2008 e 2012, alternando-se no poder com Vladimir Putin, seu aliado.
Mas Nunes ainda teve de ceder mais um lugar para Alejandro Domingues, presidente da Conmebol. Só então o brasileiro encontrou seu assento.
Sem amigos. Nunes, apenas uma figura decorativa até Rogério Caboclo assumir a presidência da CBF em 2019, acabou se transformando em um problema para a confederação. Ele entrou no lugar de Marco Polo Del Nero, banido do futebol por corrupção. Mas, em Moscou, causou uma série de constrangimentos.
O primeiro foi seu voto para o Marrocos, na disputa sobre quem sediaria a Copa de 2026. O acordo na América do Sul era de que todos votariam pela candidatura conjunta de Estados Unidos, México e Canadá.
Depois disso, um de seus assessores, Gilberto Batista, se envolveu em uma briga com um torcedor e acabou sendo enviado de volta ao Brasil.
Dentro da Fifa e da Conmebol, a presença do coronel é motivo de mal-estar e não são poucos os que querem evitar o contato com o brasileiro. Infantino já chegou a sugerir seu afastamento. Na confederação sul-americana, também foi debatido entre os dirigentes uma fórmula para que ele deixasse de participar das reuniões.
Mesmo a CBF já sugeriu que ele retornasse ao Brasil. À reportagem, Nunes garantiu que não volta. “Eu fico, claro que fico. Até o final”, disse. Ao fim da partida contra a Sérvia ele deixou o camarote sozinho.