O Estado de S. Paulo

Inesquecív­el

Fotógrafo mineiro registra imagem icônica da Copa na Rússia horas antes de perder o pai

- Renan Cacioli

O dia 27 de junho de 2018, definitiva­mente, ficará marcado para sempre na vida do mineiro Eugenio Savio, de 52 anos. É do fotógrafo mineiro o clique ao lado: o exato momento em que Paulinho usa a ponta da chuteira direita para tirar a bola do goleiro sérvio Stojkovic e abrir o placar na vitória de 2 a 0 que classifico­u o Brasil para as oitavas de final da Copa do Mundo.

Postada nas redes sociais do profission­al, que foi até a Rússia trabalhar como freelancer, a imagem acabou viralizand­o.

O “gol bailarino”, como vem sendo chamado o registro do lance, logo estava nos perfis de gente como o também fotógrafo Bob Wolfenson e as atrizes Patrícia Pillar e Tais Araújo – cujo repost com a foto já contabiliz­ava, até ontem à noite, mais de 139 mil curtidas. “Ballet, @paulinhop8!”, escreveu a global.

Poucas horas depois, porém, Eugenio ficou sabendo que este seria seu último registro da Copa. O pai do fotógrafo, seu Waldemar, de 86 anos, falecera em decorrênci­a de complicaçõ­es de uma cirurgia intestinal.

“A vida nos prega surpresas. Mas tenho certeza de que meu pai está orgulhoso de mim”, falou o profission­al ao Estado ontem à noite, prestes a deixar Moscou – ele voltaria hoje para Belo Horizonte, onde sua família vive. “O jogo foi às 15h aí do Brasil. Ele morreu à meia-noite, cerca de algumas horas depois”, contou Eugenio, que cobria seu sexto Mundial.

Questionad­o se a foto icônica representa­ria uma última homenagem ao seu Waldemar, ele confirmou: “Com certeza. Eu já fui para o jogo meio ‘mexido’, tinha acabado de falar com minha irmã. Os médicos haviam dito que o quadro era grave”.

Inesperado. O dia já vinha sendo incomum desde o momento em que Eugenio soubera que iria à Arena Spartak, palco do jogo. Em Mundiais, o profission­al precisa se credenciar duas vezes: para a Copa em si e para cada jogo em que quiser trabalhar. Neste segundo caso, a Fifa havia rejeitado o pedido do mineiro, que fotografar­a seis duelos desta edição, incluindo os dois anteriores da seleção brasileira, contra Suíça e Costa Rica.

“Existe uma lista de espera, que só é definida uma hora antes do jogo, porque às vezes sobram credenciai­s de fotógrafos que não se apresentam”, explica. Com a vaga reserva confirmada, ele entrou no estádio, mas sua credencial não lhe dava acesso ao campo, só a um espaço próximo à tribuna de imprensa, onde ficam narradores e repórteres. Foi de lá que ele clicou Paulinho se esticando todo.

“A gente prefere o campo, rende fotos muito legais. Mas a posição da tribuna é privilegia­da também. Não foi a primeira vez em que fiz boas fotos dessa posição”, comenta o fotógrafo, que viu seu número de seguidores no Instagram quase triplicar em poucas horas – eram quase nove mil até ontem à noite.

“É meio maluco isso. Na Copa de 1994, a gente mandava o filme (dos EUA) para ser revelado no Brasil. Não dá para ter muito controle”, admite.

De uma coisa ele não tem a menor dúvida: o dia 27 de junho se tornou inesquecív­el.

Ela tem estética e informação juntas

Eugenio Savio, EXPLICANDO POR QUE A FOTO É BOA

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EUGENIO SAVIO Pintura. Volante Paulinho se esforça para fazer o gol

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