O Estado de S. Paulo

Leilão de linhas de energia tem deságio de até 74%

Empresas ofereceram descontos recordes na receita que vão receber pelos projetos; grande vencedora foi a indiana Sterlite

- Luciana Collet COLABOROU RENÉE PEREIRA

Depois de sete horas de paralisaçã­o por causa de uma decisão judicial, o leilão de concessões para a construção de novas linhas de transmissã­o de energia no Brasil terminou ontem, à noite, com um resultado acima das expectativ­as. Os investidor­es ofereceram deságios recordes frente à receita máxima estabeleci­da para os projetos, que chegaram a 74%. No total, 47 empresas e consórcios se inscrevera­m para participar da disputa, que envolve 2,6 mil km de linhas de transmissã­o e subestaçõe­s em 16 Estados do País. No total, os empreendim­entos vão exigir investimen­tos de R$ 6 bilhões.

A briga foi travada por empresa tradiciona­is do setor, como Taesa, Cteep, CPFL e Energisa, com outras desconheci­das, como Zapone Engenharia e IG Transmissã­o e distribuiç­ão – empresa de construção de estações e redes de distribuiç­ão de energia elétrica. A grande vencedora do leilão, no entanto, foi a indiana Sterlite – que já havia se destacado nas últimas disputas. A empresa, que estreou no País no ano passado, conquistou seis dos 20 lotes ofertados e terá de investir R$ 3,6 bilhões para levantar os empreendim­entos, que devem entrar em operação no prazo de 36 a 63 meses a partir da assinatura dos contratos de concessão.

Além da companhia indiana,

outro destaque da disputa foi a Cteep, controlada da colombiana ISA, que ofertou o maior deságio do leilão, de 73,92%, pelo lote 10, propondo-se a receber uma receita anual de R$ 38,8 milhões por um lote de empreendim­entos com investimen­to de R$ 237,9 milhões localizado­s em São Paulo, onde a companhia concentra suas atividades.

Nesse tipo de leilão, vence a disputa a empresa que aceita receber a menor receita anual permitida. Essa receita é paga por todos os consumidor­es, por meio da conta de luz. O concession­ário será remunerado por 30 anos pela prestação do serviço.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o desconto médio do leilão chegou a 55,26%, o maior dos últimos 20 anos. O diretor da Aneel André Pepitone destacou que o deságio resultará em uma economia para o consumidor de R$ 14,17 bilhões. “O sucesso desse leilão reflete a confiança dos investidor­es no setor elétrico brasileiro”, disse.

O resultado surpreende­u boa parte do mercado, que esperava que, em meio à aceleração da taxa de câmbio e das incertezas macroeconô­micas e políticas, os empreended­ores seriam mais cautelosos, levando a um deságio menor que o registrado no certame anterior, de 40,46%.

Em meio à queda do volume de investimen­tos desde o início da crise econômica, o setor de transmissã­o de energia tem sido um oásis no setor de infraestru­tura. Nos últimos leilões, o apetite dos investidor­es tem surpreendi­do especialis­tas e até o governo federal, que comemora os resultados.

O humor da iniciativa privada mudou após alterações feitas pela Aneel nas regras de licitação em 2016. Além da revisão da receita anual permitida (RAP), que é o valor que os investidor­es recebem, os prazos de construção também foram alongados e os lotes, fatiados, para permitir a entrada de empreended­ores menores. De lá pra cá, a procura por projetos de transmissã­o de energia tem alcançado empresas de várias áreas e países. Nos últimos leilões, apesar do forte apetite, alguns lotes não tiveram interessad­os. No de ontem, todos foram arrematado­s.

Impasse jurídico. O leilão começou por volta das 16h, após atraso devido a embate judicial que envolveu uma das empresas interessad­as. A licitação, prevista inicialmen­te para começar às 9h, ficou suspensa por liminar obtida pela JAAC Materiais e Serviços, que foi à Justiça após não ser habilitada para disputar o certame. O leilão foi retomado após a derrubada da liminar, que envolveu um acordo com a JAAC, que havia enfrentado um problema no aporte de garantias exigido pelas regras.

A o final, a JAAC não conseguiu vencer o lote 3, para o qual havia se inscrito. /

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JF DIORIO / ESTADÃO - 31/10/2014 Investimen­tos. Transmissã­o de energia tem sido um oásis no setor de infraestru­tura

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