O Estado de S. Paulo

Fux adia decisão sobre tabela de frete

Sem acordo entre agronegóci­o e caminhonei­ros, ministro quer esperar audiência pública em agosto para decidir sobre constituci­onalidade

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA

Terminou ontem sem acordo a reunião de conciliaçã­o promovida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux em busca de um acordo entre caminhonei­ros e empresas em torno da tabela com preços mínimos para o frete. No que depender do ministro, só haverá decisão sobre o caso depois da audiência pública com especialis­tas marcada para 27 de agosto.

Sem poder esperar tanto tempo, o agronegóci­o tem um “plano B” para ser colocado em andamento. O setor calcula prejuízo de R$ 500 milhões por dia só nos mercados de milho e soja em decorrênci­a da indefiniçã­o. Os negócios estão parados, pois não há como fixar preços para os grãos sem saber quanto custará o transporte.

Se Fux não despachar o pedido de liminar hoje, último dia antes do início do recesso no Judiciário, a Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA) pretende ingressar com um novo pedido para suspender a tabela. Nesse caso, ele seria analisado pela presidente do STF, Cármen Lúcia, ou pelo vice-presidente, Dias Toffoli.

A entidade pretende pedir que a tabela seja declarada inconstitu­cional ou que passe a ser um preço de referência, não obrigatóri­a como é hoje. E ainda que seja revogada a decisão de Fux que suspendeu a tramitação de ações contra a tabela nas demais instâncias da Justiça.

Outra linha do “plano B” é o Congresso, onde está em análise a Medida Provisória 832, que estabelece­u a política de preços mínimos para o frete. “Vamos tentar tornar a MP aceitável”, disse ao Estado o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar.

Uma alteração pretendida pelas empresas é estabelece­r prazo para a tabela entrar em vigor. Mas Nassar acha difícil que o Congresso atenda ao ponto central das entidades empresaria­is e torne a tabela optativa, e não obrigatóri­a como é hoje. Esse é um ponto do qual os caminhonei­ros não abrem mão.

O “plano B” passa pela construção de uma linha de defesa para empresas não seguirem a tabela. Conforme mostrou o Estado no dia 24, há suspeita de que a tabela tenha sido revogada em meio a um vai e vem de resoluções da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT). Segundo Nassar, o setor pretende consultar especialis­tas em direito administra­tivo e encomendar parecer para embasar esse entendimen­to.

Porém, as entidades empresaria­is deixaram claro na reunião no STF é que vão insistir no “plano A”, que é a declaração de inconstitu­cionalidad­e do tabelament­o. O assessor jurídico da CNA e o presidente da CNI afirmaram que não havia acordo.

Os caminhonei­ros, que também amargam a redução do volume de trabalho por causa do impasse, tentaram chegar a acordo propondo corte de 20% nos preços da tabela. Mas as entidades empresaria­is não quiseram discuti-la, informou o presidente da Confederaç­ão Nacional dos Transporta­dores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno.

O assessor jurídico da Associação dos Transporta­dores Rodoviário­s (ATR Brasil), Moacyr Ramos, autor da ação de inconstitu­cionalidad­e relatada por Fux, disse que há um consenso em construção. Ele discordou abertament­e da CNA e da CNI sobre a inexistênc­ia de acordo.

Após a reunião, Fux explicou que havia adiado a decisão para depois da audiência pública exatamente pela sensibilid­ade do tema. “Uma decisão abrupta pode gerar uma crise para o País, como a que assistimos recentemen­te.” Diumar Bueno explicou que uma paralisaçã­o não é algo que uma única liderança tenha condições de deflagrar. O movimento que parou o País ocorreu de forma espontânea.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADAO ?? Greve. O ministro Fux teme que ‘decisão abrupta’ leve a outra paralisaçã­o como a de maio
DIDA SAMPAIO/ESTADAO Greve. O ministro Fux teme que ‘decisão abrupta’ leve a outra paralisaçã­o como a de maio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil