O Estado de S. Paulo

Municípios regridem 3 anos com a crise

Segundo a Firjan, índice de desenvolvi­mento das cidades foi afetado por desemprego e renda e deve levar 10 anos para voltar ao nível de 2013

- Renée Pereira

Depois de oito altas consecutiv­as desde 2006, o índice de desenvolvi­mento dos municípios entrou numa trajetória declinante por causa da crise econômica. Medido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o indicador (IFDM) recuou três anos e está abaixo do nível observado em 2013. O desempenho negativo foi puxado pela vertente emprego e renda, que anulou os ganhos verificado­s nos dois outros itens analisados: educação e saúde.

Com o fechamento de quase 3 milhões de postos de trabalho entre 2015 e 2016, o IFDM Emprego e Renda está no menor patamar desde o início da série histórica, em 2006. A previsão dos pesquisado­res da Firjan é que o País só consiga retomar o nível de 2013 em 2027. “Vale destacar que nossa projeção é feita sob uma base otimista de 2009 e 2012 (quando a geração de emprego estava aquecida), afirma o coordenado­r de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart Costa.

De 2006 para 2013, com a economia aquecida e alta geração de emprego, 103 municípios foram alçados à faixa de desenvolvi­mento alto ou moderado. Mas, com a crise econômica, a trajetória mudou e 936 municípios deixaram essas duas faixas do índice e engrossara­m o time de cidades com baixo ou desenvolvi­mento regular – 85% dos municípios estão nesses grupos.

Segundo Costa, 820 municípios brasileiro­s tiveram IFDM Emprego e Renda moderado e apenas 5, alto. São eles: São Bento do Norte (RN), Capanema, Telêmaco Borba (PR), Selvíria (MS) e Cristalina (GO). Para elaboração do índice, foram avaliados 5.471 municípios de um total de 5.570 em todo País. O indicador abrange cidades que abrigam 99,5% da população.

Menor avanço. Nas vertentes educação e saúde, que dependem de transferên­cias federais, houve uma ligeira melhora. Ainda assim, o resultado não é animador. Nas duas áreas, 2016 foi o ano com o menor avanço anual desde 2006. “Além disso, os indicadore­s que compõem o índice continuam longe das metas definidas no Plano Nacional da Educação (PNE), do Ministério da Educação”, diz o estudo.

O índice também perpetua a enorme desigualda­de que existe no Brasil. Enquanto São Paulo tem 99,4% dos municípios com alto desenvolvi­mento, sete Estados (Acre, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Maranhão e Sergipe) não têm nem sequer um município com alto desenvolvi­mento. No Norte, 27,6% das cidades estão na faixa de regular ou baixo.

Segundo Jonathas Goulart Costa, os indicadore­s que compõem o IFDM Educação estão longe de serem alcançados. A meta do PNE, de universali­zar a educação infantil na préescola para crianças de 4 a 5 anos, só deverá ser alcançado em 2035 (se as taxas de cresciment­o dos últimos três anos forem mantidas). O resultado, no entanto, já deveria ter sido atingido em 2016.

Saúde. No IFDM Saúde, as variáveis que compõem o indicador também estão bem abaixo das metas. O Programa de Humanizaçã­o no Pré-Natal e Nascimento recomendou, no mínimo, sete consultas durante a gestação. Mas o País tem quase um milhão de gestantes sem acesso ao pré-natal. Segundo a Firjan, isso correspond­e a um terço dos partos realizados no Brasil. A expectativ­a é que a meta de 95% de atendiment­os só será batida em 2029.

Outra variante abaixo das metas são os óbitos de menores de cinco anos por causas evitáveis, como diarreia. Em 2016, mais de 27 mil mortes poderiam ser evitadas. De acordo com o índice da Firjan, mantendo a queda média dos últimos três anos, o Brasil só alcançará a meta de 5,4 óbitos em 2039.

O Rio Grande do Sul é o Estado com melhor colocação no IFDM Saúde: 85% dos municípios tem alto desenvolvi­mento. Já Norte e Nordeste têm, respectiva­mente, 32,3% e 24,4% das cidades com desenvolvi­mento regular e baixo.

Ranking. No índice geral, incluindo as três vertentes (Emprego e Renda, Educação e Saúde), São Paulo têm cinco municípios no ranking dos dez maiores IFDMs. Louveira tem o melhor desenvolvi­mento do Brasil, seguida por Olímpia e Estrela do Norte. Itatiba ficou em 9ª posição e Itupeva, em 10ª. O pior índice em São Paulo ficou com a cidade de Florida Paulista, de 14 mil habitantes. No País inteiro, o município com pior IFDM geral foi Ipixuna (AM).

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