O Estado de S. Paulo

Sergio Guizé, o ator que se transforma

Presente em ‘Além do Homem’ e ‘Mulheres Alteradas’, ele anuncia a volta à TV na segunda temporada do ‘Popstar’

- Luiz Carlos Merten

Paulista de Santo André, Sergio Guizé completa, aos 38 anos, 20 anos de carreira. Na TV desde 2004 – uma participaç­ão em

Da Cor do Pecado –, ele estourou como o Cândido de Êta Mundo Bom, em 2016. Desde então, não para de trabalhar, e admite que está precisando de umas férias, mas só depois de uma atração muito especial na TV, em setembro. Um filme em cartaz, outro com estreia na próxima quinta, 5, outros quatro a caminho, isso sem falar no teatro, em que se mantém muito ativo e no qual está sempre cheio de planos. Uma caracterís­tica – duas. Guizé adora mudar, ousar. E, quando se atira num papel, vai fundo. Busca as motivações mais profundas do personagem, se entrega.

Foi assim que, depois do Candinho da novela de Walcyr Carrasco, livremente adaptado de contos do iluminista francês Voltaire – Cândido, ou O Otimismo –, fez o marido violento de

O Outro Lado do Paraíso. “O Gael era realmente muito perturbado.” Nos filmes em cartaz, faz, em Além do Homem, de Willy Biondani, um pesquisado­r brasileiro que tenta triunfar no mundo intelectua­l francês e se arrisca a ser, autofagica­mente, devorado nos choques culturais do interior de Minas. É um filme que tem ambições autorais e artísticas, e não que o outro, Mulheres Alteradas, que Luiz Pinheiro adaptou dos quadrinhos de Maitena Burundaren­a, não as tenha, mas é comédia, terá lançamento maior (no dia 5), quem sabe um blockbuste­r. Aqui, Guizé faz Dudu, o marido de Keka, Deborah Secco. Enquanto a mulher tenta salvar um casamento falido, Dudu empurra com a barriga, à espera de que Keka se canse, e aceite o inevitável. O casamento, em definitivo, acabou.

“Tivemos uma preparação muito interessan­te. O Luiz (diretor) adora construir as cenas longas, em plano-sequência e a preparação estimulava a gente a criar situações. Eu propunha esse Dudu mais pusilânime, que provocava as mulheres e elas reagiam.” Já o Alberto de

Além do Homem foi completame­nte diverso. “Esse filme teve uma produção mais acidentada. Íamos filmar em Paris e ocorreram os atentados. A produção foi retardada e aproveitei para aprimorar meu francês.” Alberto forma uma dupla às vezes cômica com Tião/Fabrício Boliveira, que faz o motorista encarregá-lo de levá-lo ao interior das Gerais, na área em que sumiu um pesquisado­r francês, possivelme­nte devorado por nativos.

Tião faz uns olhos de quem quer ter sexo com Alberto. “O comer, no caso, é metafórico e o que está em discussão é a antropofag­ia, que faz parte da história brasileira, com nossos índios canibais, e da própria cultura, com a Semana de 22.” O filme é muito bonito visualment­e. “Willy (o diretor) era fotógrafo e tem, muito naturalmen­te, esse olho para a beleza.” O repórter reclama que muito desse Brasil interioran­o e multicolor­ido parece coisa para turista – para francês ver. “Você acha? O Willy é um cara tão sensível, tão comprometi­do. Não creio que seja isso.” Atenção, galera – pode ser plus a mais para quem se interessou pelo filme, mas Sergio Guizé aparece nuzinho – nu frontal – em cena. Ele fala o tempo todo calmamente, pausadamen­te. “Ah, mas qual é o problema? Se a cena faz sentido, tem exigência dramática, não vejo problema nenhum em ficar nu. Na verdade, fui eu que propus ao Willy, porque achei que desnudar o Alberto ia permitir que a gente chegasse mais nas entranhas dele, eliminando a casca que criou.”

De novo, a preparação foi fundamenta­l. “Tivemos uma preparador­a do (Teatro) Oficina, a Juliane, que fez um trabalho muito sério, uma coisa assim xamânica que foi muito importante. Todo esse projeto (Além do Homem) foi muito bem pensado e preparado; gostaria que as pessoas percebesse­m isso.” Além de Guizé e Boliveira, o filme conta com a participaç­ão do veterano Otávio Augusto e uma expressiva galeria feminina, incluindo Débora Nascimento, Giselle Motta e Flávia Garrafa. Querem mais? Na parte francesa, destaca-se outro veterano, o ator, diretor, roteirista, produtor e cantor Pierre Richard, de filmes como Le Jouet e Loiro, Alto, de Sapato Preto, ambos refilmados em Hollywood. Entre os demais filmes prontos de Guizé está Terapia do Medo, incursão de gênero de Roberto Moreira, rodado no litoral paulista. Cléo Pires faz gêmeas e o filme é um suspense com toques de sobrenatur­al. De novo, Guizé muda. “Acho que vai ser bem bacana.” Cinema, cinema – e a televisão? “Volto em setembro, com a segunda temporada do (reality show) Popstar. Sabe, né? Aquele que o André Frateschi venceu no ano passado. Vou participar com nossa banda de punk rock.”

E ele explica – a Tio Che, criada no ABC Paulista, surgiu muito politizada. Ele é guitarrist­a e vocalista. “Nossas primeiras músicas eram realmente muito engajadas, alimentada­s pelo mito de Che Guevara, que era muito forte para a gente. O Tio Che é o primo pobre do Tio Sam.” Guizé está muito animado com o Popstar. A banda já se apresentou em shows – arrebentou no Recife –, tem CDs gravados, mas o Popstar “oferece a possibilid­ade de atingir um público maior e mais diversific­ado”.

Tivemos uma preparador­a que fez um trabalho muito sério, uma coisa assim xamânica que foi muito importante para o filme ‘Além do Homem’”

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IMAGEM FILMES Entrega. Ator busca as motivações mais profundas dos seus personagen­s

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