O Estado de S. Paulo

Nas entranhas do corrosivo combate ao narcotráfi­co

A violência é brutal em ‘Sicário – Dia do Soldado’ no qual nem vilões nem mocinhos são o que parecem ser

- Mariane Morisawa ESPECIAL PARA O ESTADO LOS ANGELES

Sicário – Dia do Soldado tem o mesmo mundo, clima e dois atores do filme original de 2015. Mas muita coisa mudou na continuaçã­o, a começar pelo diretor: saiu o franco-canadense Denis Villeneuve (Blade Runner 2049, A Chegada), entrou o italiano Stefano Sollima (da série de TV Gomorra). “Demorei até achar um projeto nos Estados Unidos que pudesse ter meu toque”, disse Sollima em entrevista ao Estado, em Los Angeles. “Foi uma transição tranquila. Eu disse que queria fazer meu filme. Estou velho demais para copiar o trabalho de alguém.”

Emily Blunt não aparece, mas Benicio del Toro, como o advogado Alejandro Gillick, e Josh Brolin, no papel de Matt Graver, o agente americano dado a missões secretas e pouco legais, estão de volta. Segundo Del Toro, “é uma grande oportunida­de explorar a evolução do personagem. Ele se reabilita, tem uma consciênci­a, um rastro de consciênci­a pelo menos”.

Depois que um grupo de terrorista­s do Oriente Médio passa pela fronteira entre México e EUA infiltrado como imigrantes latino-americanos e comete um atentado em solo americano, as autoridade­s decidem fazer uma missão de pressão e retaliação contra um dos cartéis que ganham dinheiro com o transporte pela divisa. Assim, decidem sequestrar Isabel Reyes (Isabela Moner), a filha adolescent­e do chefe de um cartel – não por acaso o mesmo que assassinou a mulher e a filha de Alejandro. Mas o plano é limitado: Alejandro e Matt vão pegar a menina no México, escondê-la em território americano e depois devolvê-la. Mas claro que as coisas não saem como esperado. “Meu personagem era muito arrogante. Achava que não tinha como perder. Agora Taylor (Sheridan, roteirista) decidiu tirar essa arrogância e destruir suas convicções. No primeiro filme, Emily era a emoção, e meu personagem e de Benicio não. Agora, se não reagirmos emotivamen­te, fica claro que fazemos parte da máquina. É uma história mais profunda e pessoal do que a primeira, um thriller de mistério”, contou Brolin.

O filme atua numa zona cinzenta em que os supostos vilões talvez não sejam o que parecem, e os mocinhos também não. Com toda a tensão na fronteira entre México e EUA, os temas abordados estão mais atuais do que nunca.

Para Sollima, tratar de um assunto tão americano sendo estrangeir­o não é nada de mais. “Só mudei de paisagem. É a mesma coisa na Itália. É um tópico contemporâ­neo”, lembrou, referindo-se à crise dos refugiados na Europa. “Nós, italianos, mandamos gente para o mundo todo e agora queremos fechar as portas”, criticou. Mas ele admite que sua perspectiv­a pode ser um pouco diferente. “Por vir de fora, talvez tenha mais objetivida­de, seja mais neutro no caso específico americano.”

O cineasta não teve medo de explorar a violência explícita, mas se explicou: “Não gosto da ação pela ação. Mas gosto de colocar um personagem numa situação extrema. Tento não usar violência extrema se não for necessário para a história”.

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RICHARD FOREMAN, JR./SONY PICTURES/AP Benicio del Toro. O misterioso Alejandro Gillick

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