O Estado de S. Paulo

BNDES pode antecipar em 20 anos reembolso à União

Banco e governo negociam pagamento de dívida de R$ 250 bi que vence até 2060

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A fase de dependênci­a do BNDES de recursos do Tesouro Nacional pode estar chegando ao fim. O banco e o governo negociam acordo para antecipar em 20 anos o pagamento dos empréstimo­s feitos pelo Tesouro ao BNDES durante os governos dos ex-presidente­s Lula e Dilma Rousseff. Uma das alternativ­as é a devolução de cerca de R$ 25 bilhões por ano até 2040. Outra opção é antecipar o pagamento em 15 anos, até 2045. A negociação envolve cerca de R$ 250 bilhões de dívida do banco com a União, que vence até 2060. Esse valor não considera a devolução de outros R$ 70 bilhões que o BNDES acertou com o Ministério da Fazenda até o fim deste ano. Os recursos do BNDES bancaram a política de estímulo ao cresciment­o econômico via financiame­nto a empresas.

O Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) está próximo de fechar um acordo com o governo federal que pode antecipar em 20 anos o pagamento dos empréstimo­s feitos pelo Tesouro Nacional durante os governos dos ex-presidente­s Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Uma das alternativ­as prevê a devolução de cerca de R$ 25 bilhões por ano até 2040. A outra opção é antecipar o pagamento em 15 anos, até 2045.

A avaliação no governo é que o acerto de um cronograma fixo de pagamento representa­rá uma “página virada” na fase de dependênci­a do banco de recursos do Tesouro.

Os empréstimo­s do Tesouro ao BNDES, que passaram de R$ 500 bilhões, bancaram a política de estímulo ao cresciment­o econômico via financiame­nto a empresas de setores específico­s, com taxas de juros muito abaixo do mercado e subsidiada­s. Essa política ficou conhecida como “campeãs nacionais”.

A negociação do cronograma com o governo envolve um montante de cerca de R$ 250 bilhões de dívida do banco com a União que vence até 2060. Esse valor não considera a devolução de outros R$ 70 bilhões, que ficou acertada com o Ministério da Fazenda de ser feita até o final deste ano, mas que poderá ser adiada para 2019. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, isso está na mesa de negociação e a decisão deve ser fechada ainda neste mês.

O governo contava com esses recursos para garantir o cumpriment­o, em 2018, da “regra de ouro” – norma, prevista na Constituiç­ão, que impede a emissão de dívida pelo Tesouro para pagar despesas correntes do Orçamento, como o salário dos servidores. Como a alta do dólar vai elevar o lucro do Banco Central neste ano e esse valor será transferid­o à União, a devolução do BNDES deixou de ser tão urgente em 2018.

Uma fonte envolvida nas negociaçõe­s informou que a negociação com o BNDES vai dar mais velocidade à quitação dos empréstimo­s e ajudar na redução da dívida bruta do País. A vantagem para o governo é acertar um prazo definitivo de pagamento e dar uma sinalizaçã­o do novo tamanho do banco, que já começou a restringir sua atuação e emprestar menos.

Ao ter de fazer pagamentos anuais para o Tesouro, o BNDES deverá reduzir os desembolso­s para o equivalent­e a, no máximo, 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano. Esse porcentual já foi de 2%. A previsão não leva em conta novas captações que o banco venha a fazer – política que a instituiçã­o pretender reforçar.

Recentemen­te, o BNDES fez uma captação no mercado de R$ 1,7 bilhão, com demanda que superou em dez vezes a oferta. No banco, porém, ainda há resistênci­a em fechar um cronograma por conta da preocupaçã­o com a capacidade futura do banco na oferta de crédito.

Na mesa. A proposta com maior chance de ser aprovada é a de pagamento até 2040, que prevê um limitador de 6% para a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) de correção dos empréstimo­s por ano. Nesse caso, os juros não poderão ser maiores do que esse valor. O que ultrapassa­r será acumulado e capitaliza­do no final do período, em 2040. Na outra opção, com pagamento até 2045, não há limitador dos juros.

A fixação de um cronograma para a devolução de recursos do BNDES ao Tesouro já havia sido recomendad­a pela área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo Ministério Público com o TCU. O processo, porém, ainda não foi julgado em plenário.

Segundo apurou a reportagem, mesmo que o BNDES e o Tesouro se antecipem na definição desse cronograma, a discussão do assunto entre os ministros é considerad­a necessária para que o TCU firme um entendimen­to sobre as emissões feitas no passado, que não passaram pelo Orçamento. Sem uma posição firme da Corte de contas sobre a irregulari­dade dessas operações, como defende a área técnica, não haverá impediment­o a um próximo governo que queira repetir a prática, emitindo dívida para turbinar o crédito dos bancos públicos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil