O Estado de S. Paulo

A saída está na eficiência do Estado

- ABRAM SZAJMAN

Agreve dos caminhonei­ros foi o balde de água fria no ânimo dos setores produtivos, já abalados pela falta de articulaçã­o para a votação da reforma da Previdênci­a. A situação pode piorar, caso prosperem propostas desastrada­s, que trariam ainda mais obstáculos aos que efetivamen­te trabalham e produzem neste país.

Este é o caso da reforma tributária pontual articulada pelo governo que, ao contrário de tornar o ambiente de negócios mais fértil e menos burocrátic­o, ameaça afundar o Brasil na perversa dinâmica do aumento de impostos, cuja consequênc­ia nefasta é sempre reduzir o cresciment­o e a geração de empregos.

Ao tornar obrigatóri­o o regime “não cumulativo” de recolhimen­to do PIS e da Cofins para empresas com faturament­o acima de R$ 3,6 milhões, o governo eleva a carga tributária sobre o setor de serviços, além de ampliar a burocracia para apurar esses tributos.

Os segmentos com atividades de serviços intensivos em mão de obra seriam os mais afetados, com aumentos de até 5%. O custo com o PIS/Cofins subiria 104% em média para os setores estudados pelo Instituto Brasileiro de Planejamen­to Tributário (IBPT), que projeta também um acréscimo de R$ 50 bilhões nos recursos transferid­os da sociedade para o Estado.

Essa mudança inviabiliz­aria milhares de empresas e eliminaria mais de 20 milhões de postos de trabalho. Também pressionar­ia a inflação, com uma média de 4,3% de aumento nos preços de setores como saúde e educação. Haveria impacto em vasto conjunto de serviços consumidos pela população e utilizados pelas empresas.

Não há dúvidas sobre a necessidad­e de uma reforma tributária, que simplifiqu­e o sistema e acabe com a guerra fiscal entre os Estados. Mas ela deve ser ampla e não mero pretexto para mais um sorrateiro avanço sobre o bolso do contribuin­te.

O cerne da questão para enfrentar as mazelas nacionais não está no aumento da arrecadaçã­o e sim na eficiência ao empregar os recursos públicos. É precisamen­te essa falta de critério que está na raiz de outra iniciativa absurda, que tomou forma de projeto de lei determinan­do o desvio de 25% dos recursos do Sistema S para o financiame­nto de um Fundo Nacional de Segurança Pública.

Novamente ninguém discute ser a Segurança Pública uma prioridade nacional, diante da escalada da violência, sobretudo nas grandes cidades. Mas em vez de buscar para isso os recursos que se perdem nos descaminho­s e nos malfeitos da administra­ção pública, cogitam os legislador­es, mais uma vez, de avançar nas verbas que a Constituiç­ão Federal de 1988 destinou, em seu artigo 240, a serem geridas pela iniciativa privada, de forma a resgatar a dívida social para com os menos favorecido­s.

O conjunto de serviços sociais autônomos vinculados a entidades empresaria­is, como o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizag­em Comercial (Senac), garante ao trabalhado­r formação profission­al e educação integral. Proporcion­a, ainda, acesso às atividades culturais, esportivas e de lazer.

Para que o Brasil possa voltar a crescer é preciso qualificar o debate eleitoral que se aproxima

Sem isso, o esgarçado tecido social brasileiro já teria se rompido há muito tempo. Além de inconstitu­cional, o desvio desses recursos de sua finalidade original vai agravar os problemas de segurança da comunidade, que só podem ser resolvidos se educação e cultura – e não apenas a polícia – chegarem às áreas conflagrad­as.

Estes dois exemplos ilustram o quadro de confusão política acerca dos rumos a serem seguidos pelo País para a reconstruç­ão de sua governança. Para que o Brasil possa voltar a crescer na medida de suas potenciali­dades e necessidad­es, é preciso qualificar o debate eleitoral que se aproxima. Vamos cobrar dos candidatos um posicionam­ento claro sobre o que fazer para adequar a estrutura do Estado à capacidade contributi­va da sociedade, com foco nas suas atribuiçõe­s naturais e na elevação de sua eficiência. PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DE SÃO PAULO, ENTIDADE QUE GERE O SESC E O SENAC NO ESTADO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil