Europa x América, como sempre. A conta é de 11 Copas para lá e 9 para cá.
Por alguns minutos, anteontem o Japão esteve próximo de romper a rotina de o Mundial de seleções repetir a história do torneio equivalente ao de Clubes: tornar-se disputa entre Europa e América do Sul nas etapas decisivas. O bravo conjunto nipônico teria sido o representante solitário da Ásia, se mantivesse os dois gols de vantagem. Tomou a virada, caiu e assim se juntou a outros três times da região, cinco africanos, três das Américas Central e do Norte, além da equipe australiana.
O funil aperta e, após os jogos de ontem, restam na corrida pelo título seis europeus – Rússia, Suécia, Croácia, França, Inglaterra e Bélgica –, fora os bravos Uruguai e Brasil. A Colômbia deu adeus e segue caminho idêntico ao de Peru e Argentina. Vá lá que não se imaginava Espanha e Alemanha defenestradas tão cedo; nem por isso, o continente delas tem peso menos representativo num campeonato que começou com 32 times.
O quadro não surpreende – com exceções de praxe, como a Coreia do Sul semifinalista em 2002 (da qual foi uma das anfitriãs), raramente formações de centros menos badalados do futebol avançam da fase de grupos. Pegam-se exemplos, aqui e ali, de quem esteve nas oitavas ou nas quartas (Camarões em 1990, Gana em 2010). Realidade dura: a Fifa abre vagas para todo canto, como forma de democratizar o acesso à Copa – e fazê-la política e financeiramente mais rentável –, mas o abismo técnico persiste.
Certa vez, Pelé previu time da África campeão do mundo. Afirmação simpática, delicada, própria do Rei. Pode ser, quem sabe, algum dia; porém, ainda muito distante. Os africanos, assim como os asiáticos, evoluíram, dão calor em europeus e sul-americanos, exportam talentos, se mostram mais organizados, divertem-se. A Bélgica sentiu na pele o quanto foi difícil seguir adiante. Na hora H infelizmente se escancaram as limitações e voltam para casa sem ao menos o pódio.
A balança andava equilibrada; neste século pende em favor da Europa, para onde a taça foi nas três últimas edições. Depois do Brasil em 2002, fizeram a festa Itália, Espanha e Alemanha, esta com direito em 2014 a ser o primeiro europeu a vencer nas Américas. A conta no momento é de 11 Copas para a Europa e 9 para a América do Sul. A esperança de romper a hegemonia do Hemisfério Norte concentra-se de novo na turma da amarelinha, e os vizinhos uruguaios correm por fora. Mesmo assim, se ambos superarem as quartas se pegam nas semis e só um terá chance de chegar à decisão em Moscou.
O tema merece ampla discussão. E, sem parecer superficial, não é equivocado constatar que as três grandes escolas sul-americanas ao longo da história se impuseram pelo talento e capacidade de revelar craques. Os europeus têm mérito na disciplina e organização tática (italianos e alemães não são tetracampeões por acaso).
Em décadas mais recentes se valem também do dinheiro. Não só lhes sobra recursos para investir nas pratas da casa, como deram salto de qualidade na importação desenfreada de pé de obra e acima de tudo na miscigenação das sociedades. Os fluxos migratórios, combatidos por xenófobos, contribuem para dar mais ginga, criatividade, ousadia para seleções antes duronas. Bonito ver negros e descendentes de asiáticos ou do Leste Europeu a vestirem camisas como as de Dinamarca, Suécia, Bélgica, Alemanha.
Viva a diversidade! Noves fora isso, que Brasil e Uruguai desbanquem os europeus. Ora, essa!