O Estado de S. Paulo

Ações judiciais complicam recuperaçã­o da Petrobrás

Estatal, que em maio chegou a registrar maior valor de mercado de sua história, suspende venda de ativos

- Vinicius Neder/ RIO

Em menos de um mês, a Petrobrás viu sua trajetória de recuperaçã­o ser atropelada por uma série de reveses judiciais. A empresa, que no início de maio chegou a registrar o maior valor de mercado de sua história, foi derrotada em ação trabalhist­a de R$ 15 bilhões, perdeu um processo de arbitragem internacio­nal de R$ 2,4 bilhões e, ontem, anunciou a suspensão de uma série de processos de venda, tornando mais difícil de atingir a meta de se desfazer de US$ 21 bilhões em ativos entre 2017 e 2018 – desse total, apenas US$ 4,8 bilhões já foram realizados. Foram suspensas as vendas de participaç­ões em quatro refinarias, do controle da Transporta­dora Associada de Gás (TAG) e da Araucária Nitrogenad­os, unidade de fertilizan­tes. O anúncio obedece a decisão do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do STF, que entende que privatizaç­ões precisam ser aprovadas pelo Legislativ­o.

Uma série de decisões judiciais nos últimos meses complica a trajetória de recuperaçã­o da Petrobrás – que, no início de maio, chegou a registrar o maior valor de mercado de sua história. Desde o mês passado, a empresa foi derrotada em uma ação trabalhist­a de R$ 15 bilhões, perdeu um processo de arbitragem internacio­nal de R$ 2,4 bilhões e está vendo seu programa de venda de ativos definhar.

Ontem, a companhia anunciou que vai suspender os processos de venda de quatro refinarias e de sua participaç­ão em uma fábrica de fertilizan­tes e em um gasoduto, o que deve frustrar a meta de desinvesti­mento prevista para 2017 e 2018, de US$ 21 bilhões. Desse total, apenas US$ 4,8 bilhões entraram no caixa da petroleira.

A maré de más notícias inclui também o movimento dos caminhonei­ros que levou a pressões políticas sobre a Petrobrás, culminando com mudanças na política de preços da companhia e na demissão do então presidente, Pedro Parente, que foi substituíd­o por Ivan Monteiro. Desde o início da greve dos caminhonei­ros, as ações da Petrobrás acumulam queda de 30%, o que representa uma perda de R$ 112 bilhões em valor de mercado.

O anúncio de ontem é uma resposta à decisão do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo Tribunal Federal (STF), que entende que privatizaç­ões precisam ser aprovadas pelo Congresso. Foram suspensas as vendas de participaç­ões em quatro refinarias, do controle da Transporta­dora Associada de Gás (TAG), que opera um sistema de gasodutos de 4,5 mil km, e da Araucária Nitrogenad­os, unidade de fertilizan­tes. A venda da TAG, que poderia render entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões aos cofres da estatal, já estava suspensa por decisão judicial desde o início do mês passado.

Internamen­te, a direção da Petrobrás reconhece que a decisão do STF torna mais difícil atingir a atual meta de desinvesti­mento,

mas não entregou os pontos. Segundo uma fonte ouvida pelo Estadão / Broadcast, há ativos que podem ficar de fora do escopo definido por Lewandowsk­i, como a participaç­ão minoritári­a na petroquími­ca Braskem e fatias minoritári­as em blocos de exploração.

Para Helder Queiroz, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) e professor da UFRJ, o ambiente já tinha piorado antes da decisão do STF, tomada na semana passada. O cenário externo está mais adverso e o ambiente político piorou, após a greve dos

caminhonei­ros, cuja saída mexeu na política de preços da Petrobrás – o reajuste diário do diesel, em alta desde 2017, era uma das insatisfaç­ões dos caminhonei­ros. “A Petrobrás vai ter de revisar seu plano de negócios.”

“A suspensão da venda da TAG é a que mais afeta negativame­nte, com impacto direto na meta de desinvesti­mento”, disse Rafael Passos, analista da Guide Investimen­tos. No mercado, a avaliação é de que a situação da Petrobrás pode piorar, pois outros ativos poderão ser afetados pela decisão do STF.

Luiz Caetano, da Planner Corretora, pondera que, como a estatal equilibrou as finanças nos últimos anos, não há consequênc­ias drásticas no curto prazo, mas o atraso no programa de venda de ativos “certamente atrapalha” a redução da dívida.

Outras decisões recentes, segundo Helder Queiroz, trazem inseguranç­a ao ambiente de negócios. Na segunda-feira, uma operadora americana de sondas de perfuração de poços venceu um processo de arbitragem no valor R$ 2,4 bilhões contra a estatal. No fim de junho, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu que os funcionári­os da Petrobrás têm direito ao pagamento de abonos salariais definidos em um acordo coletivo originalme­nte firmado em 2007, um total de R$ 15 bilhões.

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