O Estado de S. Paulo

Bélgica sintetiza o melhor da Europa

Bélgica sintetiza o estilo europeu: a mistura de conceitos dominantes em diversos países do continente

- Gonçalo Junior

Seleção mistura conceitos de jogo que estão em alta em campeonato­s como o espanhol e o inglês.

Na Copa de 2010, o técnico Roberto Martínez foi para a África do Sul acompanhar a seleção chilena que era dirigida por Marcelo Bielsa, um treinador genial, mas com poucos títulos de expressão. O espanhol ficou encantado. Tentou implementa­r algumas ideias no modesto Wigan, conquistou um título da Copa da Inglaterra, mas acabou rebaixado no Campeonato Inglês. Foi criticado por adotar um esquema muito ofensivo, quase suicida. Oito anos depois, o treinador ampliou seu leque de inspiraçõe­s e reúne suas raízes espanholas, a experiênci­a na Inglaterra e um auxiliar francês para organizar a geração mais talentosa da história da Bélgica. Mas ainda falta muito: a exemplo dos tempos do Wigan, a defesa é seu ponto fraco e levou gol até da Tunísia.

A seleção belga sintetiza a maneira como o europeu joga futebol hoje em dia. A equipe transformo­u uma mistura dos principais conceitos que estão em moda nas principais ligas europeias, como Inglaterra e Espanha, em sua própria identidade e seu jeito de jogar. A seleção rival do Brasil é belga, mas o futebol é multinacio­nal.

A rapidez do toque de bola e jogo acelerado são vistos com maior frequência no futebol inglês (volta e meia, os comentaris­tas de tevê usam o torneio como referência até para o futebol brasileiro). Objetivida­de e verticalid­ade. O apreço pela posse de bola e pela jogada trabalhada pode ser traços dos franceses e dos espanhóis. Em alguns casos, existe até exagero – na partida em que foi eliminada, a Espanha bateu o recorde de mil passes numa partida. Por fim, a intensidad­e e a eletricida­de também são próprias da Espanha, especialme­nte dos times de Madrid. Obviamente, são estereótip­os e simplifica­ções.

O lateral-direito Felipe Mattioni, que disputa a Série B pelo Juventude (RS), conhece bem o estilo de Roberto Martínez, que foi seu treinador no Everton em 2015 e 2016. “É um futebol agressivo. Exige muito fisicament­e, cobra marcação por pressão. Por ter nas mãos muitos talentos e jogadores maduros, a Bélgica vem mostrando que é um grande time”, opina o brasileiro.

O time divide com o Uruguai o privilégio de ter 100% de aproveitam­ento na Copa. É o melhor ataque do torneio. Já soma 12 gols – média de três por partida. O treinador promete manter essa filosofia diante do Brasil no jogo de sexta-feira, que vale vaga nas semifinais. “Não podemos mudar o que somos, e somos uma equipe ofensiva. Tanto o Brasil quanto nós temos a caracterís­tica de marcar gols e buscar a vitória”, disse. A Bélgica tem 12 gols na Copa.

“A seleção brasileira vai buscar a bola, mas a diferença será o que cada um vai fazer com ela. Para enfrentar o Brasil, precisamos atacar e defender com os 11 jogadores”, avaliou o treinador.

Falhas. Ele sabe que seu time não é essa maravilha toda. Um favorito à Copa não pode levar gols da Tunísia ainda na fase de grupos, principalm­ente na manjada bola aérea. Diante do Japão, as falhas na defesa ficaram mais evidentes. O time demorava na recomposiç­ão defensiva, tinha problemas de posicionam­ento e, consequent­emente, cedia espaços generosos. Os volantes saem para o jogo como se fossem meias, mas nem sempre são eficientes na marcação. Apesar das vinte e quatro finalizaçõ­es a gol (oito no alvo), o time só construiu a virada explorando os pontos fracos e não necessaria­mente melhorando seu desempenho. Vale lembrar que os belgas cruzaram muitas bolas na área para explorar a imposição física de seus atacantes.

Esse espanhol metódico de 44 anos se destacou por times pequenos e médios da Inglaterra. Ele levou o Wigan ao título da Copa da Inglaterra em 2013, superando o Manchester City, então dirigido pelo italiano Roberto Mancini. Levou o Wigan ao primeiro título de sua história, uma Copa da Inglaterra, mas também sofreu um rebaixamen­to no Campeonato Inglês. Quem trabalhou com ele diz que é estudioso, detalhista e dá espaço para que os jogadores falem na preparação das partidas. Também permite que o auxiliar técnico Thierry Henry seja quase um copiloto – esse é o toque francês da equipe belga.

Martínez assumiu o comando do time em 2016 com a responsabi­lidade de converter talento em resultados. O antecessor, Marc Wilmots, levou a Bélgica às quartas de final do último Mundial e da Eurocopa. Como cabeças de chave pela segunda Copa seguida, os belgas – e seu treinador – querem subir de patamar no futebol mundial. E sabem que o jogo com o Brasil é a melhor escada possível.

O Brasil busca a bola. Para enfrentá-lo, precisamos atacar e defender com os 11 jogadores

Roberto Martínez,

TÉCNICO DA SELEÇÃO BELGA

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ABEDIN TERKENAREH/EFE Esquenta. Jogadores da Bélgica treinam no estádio Guchkovo, em Moscou

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