O Estado de S. Paulo

Repetir time em duas Copas é complicado.

- Muricy Ramalho

Antes de a bola rolar na Rússia, o mundo estava de olho na Alemanha. E com razão. O time de Joachin Löw é o atual campeão mundial e tinha vencido a Copa das Confederaç­ões um ano antes. A Alemanha, no entanto, não foi nada do que todos imaginavam e caiu fora na primeira fase. Mas por que uma seleção que ganha a Copa não consegue repetir a façanha na Copa seguinte? O Brasil fez isso em 1958 e 1962 e nunca mais.

No meu modo de ver, isso não acontece porque o técnico campeão aposta nos jogadores que ganharam com ele por pura gratidão. A Alemanha é um ótimo exemplo disso. Löw trouxe para a Rússia atletas como Khedira, Müller e Özil, que foram campeões no Brasil quatro anos antes, mas que estavam totalmente fora de foco e de condiciona­mento físico.

No caso da Alemanha, ainda houve outro problema. O time não mudou sua forma de atuar de uma Copa para outra. Não mudou nada. Assim, ficou mais previsível. Hoje em dia, todo mundo vê futebol o tempo todo. As seleções do grupo da Alemanha (México, Suécia e Coreia do Sul) estudaram sua forma de jogar. Na primeira fase, México e Coreia do Sul ganharam dos alemães. Não tiro os méritos dos vencedores, mas também entendo que a Alemanha facilitou demais.

O treinador é fundamenta­l nesse processo de reformulaç­ão. Times ou seleções, quando ganham torneios importante­s, tendem a se acomodar. Cabe então ao técnico tentar mudar a forma de a equipe trabalhar e jogar. O cara tem de fazer a cabeça dos jogadores, dizer a eles que o próximo campeonato é o mais importante. Não dá para sentar em cima do título.

O técnico é o maior responsáve­l pelo fracasso. Alemanha e Espanha não se deram conta disso. Hierro assumiu o time espanhol por causa da demissão do Lopetegui dois dias antes de a Copa começar. Não pode ser responsabi­lizado por nada. A Espanha acreditou no seu toque de bola e isso não foi suficiente para fazer diferença contra a Rússia. O time foi “cozinhado” pelos russos e caiu fora da competição. Tanto o treinador da Alemanha quanto o da Espanha, por exemplo, não perceberam que tinham de mudar tática e mentalment­e a maneira de jogar de seus respectivo­s times. O que estamos vendo nesta Copa é que o modelo de posse de bola sem intensidad­e não funciona mais.

Existe ainda uma dose de responsabi­lidade das federações que, na maioria dos países, assumem a seleção nacional. A AFA, que cuida do futebol argentino, trocou de técnicos três vezes. Isso é ruim, atrapalha, mas não pode ser desculpa única pelo fracasso da seleção na Copa. Sampaoli e Tite assumiram Argentina e Brasil, respectiva­mente, depois de trocas de comando. Tite teve mais tempo porque começou a trabalhar em 2016. Sampaoli foi chamado em 2017, portanto, pouco mais de um ano para o Mundial. A Argentina caiu nas oitavas.

Existe ainda outro ponto que uma seleção vencedora deve pensar para a competição seguinte, que é o lançamento de novos jogadores, de atletas jovens. A Alemanha, mais uma vez, me serve como exemplo. O time foi bem nas Confederaç­ões, ganhou o torneio, com alguns meninos, com um time jovem. Ganhou e jogou bem. Mas o técnico não teve coragem de colocar esses meninos para jogar na Copa. Um erro.

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YURI KOCHETKOV/EFE-3/6/2018
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