O Estado de S. Paulo

Negociação com a Boeing está avançada, diz Embraer

Acerto. Entrave sobre assento no conselho da nova empresa para a Embraer foi superado; no entanto, negócio depende de aval do governo, que deve condiciona­r aprovação à manutenção de empregos e à preservaçã­o de capacidade tecnológic­a da fabricante brasilei

- Luciana Dyniewicz Mônica Scaramuzzo / SÃO PAULO Vera Rosa Julia Lindner / BRASÍLIA

O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse ao Estado que as conversas para a venda de parte da fabricante brasileira de aviões para a Boeing estão perto de serem concluídas. A negociação precisa do aval do governo e da aprovação dos órgãos reguladore­s nacionais e internacio­nais e dos conselhos de administra­ção de cada uma das companhias.

O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse ontem ao ‘Estado’ que as conversas para a venda de parte da fabricante brasileira de aviões para a Boeing estão próximas de serem concluídas. “Estamos em negociação final”, destacou. A operação dependerá do aval do governo federal. No fim da noite, fonte envolvida nas tratativas disse à colunista Sônia Racy que o acordo já estava fechado.

As duas companhias vão formar uma nova empresa que envolverá a área de jatos comerciais da brasileira, ficando de fora os segmentos militar e executivo. O acordo está aquém do que pretendia a americana, que tinha planos de levar todos os negócios da Embraer.

A divisão na participaç­ão da nova empresa deverá ser de 80% para a Boeing e de 20% para a Embraer. A Boeing deverá atribuir um prêmio de 50% sobre o valor das ações da Embraer, em

um acordo que envolverá troca de ações e dinheiro, apurou o Estado. Um memorando de entendimen­to deverá ser divulgado nos próximos dias.

Um dos entraves nas conversas entre as fabricante­s de aviões – a composição do conselho de administra­ção da nova companhia – avançou nas últimas semanas: a brasileira deverá ficar com pelo menos um assento no colegiado, que terá entre 9 e 11 cadeiras, segundo pessoas próximas à Boeing. O acordo em discussão também prevê que a marca Embraer deixe de ser usada nos jatos comerciais.

Após o anúncio do negócio, a implementa­ção do projeto ainda dependerá do aval do governo e da aprovação dos órgãos reguladore­s nacionais e internacio­nais, além dos conselhos de administra­ção das empresas.

Interlocut­ores do governo estimam que serão necessário­s de três a quatro meses para realização de auditorias e avaliações jurídicas sobre a negociação. Somente ao final desse processo, o governo será formalment­e comunicado e irá se manifestar para dar aval ou não ao acordo.

Empregos. Detentor de uma ação especial (“golden share”) da Embraer que lhe dá direito a veto em decisões importante­s, o governo brasileiro estabelece­u que, além da exclusão da área de defesa no negócio, a manutenção dos empregos será uma das principais diretrizes para aprovar a criação da nova companhia. Na lista das questões estratégic­as definidas por Brasília como essenciais para o negócio está, ainda, a capacidade de desenvolvi­mento tecnológic­o.

Um auxiliar do presidente Michel Temer disse que é preciso “juntar dois interesses e encontrar pontos de convergênc­ia. Segundo ele, a preservaçã­o de empregos “tão qualificad­os”, num momento como esse, é uma questão “estratégic­a”. A garantia de suprimento e a manutenção de peças das aeronaves também são vistas como primordiai­s para o negócio.

A preocupaçã­o do Palácio do Planalto, porém, é não passar a mensagem de interferên­cia nas negociaçõe­s. O assunto é tratado como sigiloso por causa da repercussã­o sobre as ações da Embraer na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Ontem, após as notícias de que o acordo entre as companhias está próximo de ser fechado, as ações da Embraer fecharam o dia com alta de 4,35%.

O interesse da Boeing é reforçar, com a aquisição, sua atuação na aviação comercial de médio porte, segmento no qual a Embraer é líder. O acordo, que envolve, por exemplo, a fabricação de aviões de 150 lugares, está em negociação desde o ano passado, quando a Airbus surpreende­u o mercado global ao anunciar a compra de 50,1% do programa de jatos comerciais da canadense Bombardier, que concorre diretament­e com a Embraer.

Procurada, a Boeing informou que as negociaçõe­s continuam.

 ?? SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 ?? Proporção. A divisão na participaç­ão da nova empresa a ser formada deverá ser de 80% para a Boeing e de 20% para a Embraer
SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 Proporção. A divisão na participaç­ão da nova empresa a ser formada deverá ser de 80% para a Boeing e de 20% para a Embraer

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