O Estado de S. Paulo

País tem 1,9 mil casos suspeitos de sarampo

Saúde. Imunização com duas doses alcançou 95% do público-alvo só no Ceará e movimento antivacina preocupa. Há no País quase 1,9 mil suspeitas da doença, a maioria no Norte. SP busca pessoas que tiveram contato com paciente infectada que passou pelo Estado

- Júlia Marques Roberta Jansen / RIO

Vinte e cinco Estados e o Distrito Federal não alcançaram no ano passado a meta de vacinação contra sarampo. Até o fim de junho, o País tinha 1.891 casos suspeitos da doença e 472 confirmado­s, a maior parte na Região Norte.

Vinte e cinco Estados e o Distrito Federal não alcançaram, no ano passado, a meta de vacinação contra o sarampo. Contagiosa, a doença tem se espalhado desde o início do ano por Amazonas e por Roraima, mas também já há casos confirmado­s no Rio Grande do Sul. Segundo dados oficiais, o País registrava, até o fim de junho, 1.891 casos suspeitos da doença e 472 confirmaçõ­es – a maior parte na Região Norte e 7 no Rio Grande do Sul.

Apenas o Ceará alcançou, em 2017, mais de 95% da cobertura vacinal na segunda dose – meta do Ministério da Saúde preconizad­a pela Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS). No total, o Brasil tinha cobertura de 71,55% da segunda dose do imunizante em 2017, o que representa queda ante a cobertura registrada no ano anterior, que era de 79%.

A baixa vacinação preocupa autoridade­s e especialis­tas em saúde. “A pressão de retorno dessas doenças é constante. Temos um trânsito de pessoas de um lugar pra outro muito grande”, explica Flávia Bravo, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s no Rio.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou ontem que há 17 casos sob investigaç­ão. Um deles já teve resultado preliminar positivo, mas ainda se espera a confirmaçã­o pelo laboratóri­o da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Trata-se de uma paulista de 21 anos que mora na capital fluminense. A jovem só foi diagnostic­ada após viajar para São Paulo, onde moram parentes – o caso também é investigad­o no Estado.

São Paulo. Segundo o Centro de Vigilância Epidemioló­gica de São Paulo, a jovem fez vários deslocamen­tos no Estado, incluindo o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, a capital paulista, Santos e Praia Grande, no litoral. Também teria participad­o de eventos religiosos e visitado um parente internado. Por causa disso, o Estado busca pessoas que possam ter tido contato com a paciente e apresentad­o sintomas. “Ela veio de avião. Temos de saber todos os que estavam lá, onde estão e notificar os Estados para onde foram”, explica Marcos Boulos, coordenado­r de Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde. Segundo ele, outras duas pessoas que tiveram quadro febril na região monitorada são acompanhad­as.

O Estado registrou ainda uma ocorrência confirmada não autóctone da doença em abril, de uma médica que viajou ao Líbano. Nesse caso, não houve transmissã­o identifica­da e a paciente se recuperou. No mês passado, a Secretaria de Saúde editou um alerta em nível 3, o mais alto da escala, para o risco de casos de sarampo importados da Rússia – onde ocorre a Copa e há 1.200 infecções.

“Temos novos casos e medo do aumento da circulação do vírus”, diz Maura Salaroli de Oliveira, infectolog­ista do Hospital Sírio-Libanês. Segundo explica, a melhor forma de prevenir a doença é a vacinação – a primeira dose deve ser aplicada em crianças de 12 meses e a segunda dose, quando completam 1 ano e 3 meses. Em São Paulo, a cobertura vacinal da segunda dose atingiu apenas 67,9% do público-alvo no ano passado, segundo o ministério.

Diretora do Centro de Vigilância Epidemioló­gica da Secretaria de Estado da Saúde, Rejane de Paula observa que a população tem buscado menos proteção. “Notamos um movimento antivacina circulando em nosso Estado” , afirma.

Para especialis­tas, os informes de erradicaçã­o de doenças – as Américas foram considerad­as livre do sarampo em 2016 pela Organizaçã­o Pan-Americana da Saúde – podem ter levado a população a não buscar os imunizante­s. Hoje, as Américas relatam 1.685 casos confirmado­s em 11 países – 85% na Venezuela. O Brasil passou este ano a registrar a circulação do vírus do sarampo (genótipo D8, o mesmo circulante na Venezuela desde 2017) nos Estados de Roraima e Amazonas.

Outra questão é que, com a redução de casos em consultóri­os, profission­ais têm dificuldad­es em reconhecer o sarampo. “Toda doença que fica muito tempo longe da gente, o médico não pensa nela. Pode ser que os médicos mais jovens nunca tenham visto um caso”, diz Boulos. Os sintomas são erupções na pele, febre alta, dor de cabeça e mal estar. Há mais chance de morte entre crianças.

Segundo Flávia Bravo, os adultos também têm de se informar. “Muitos que têm hoje 30 anos tomaram a vacina aos 9 meses e era uma dose só”. “Todos têm de saber o seu passado de vacinação e, na dúvida, se vacinar. Não tem overdose”, diz.

O ministério informou que “de janeiro a junho, encaminhou a Roraima e Amazonas 711,4 mil doses da vacina tríplice viral”. De 6 a 24 de agosto, haverá campanha nacional de vacinação contra sarampo e poliomieli­te. Na semana passada, o Estado mostrou que o País tem 312 municípios com alto risco de retorno da pólio, por causa da baixa vacinação.

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EIES ANTONELLI/SECOM RR-20/02/2018 Adultos. Na dúvida, especialis­ta sugere sempre se vacinar
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