O Estado de S. Paulo

William Waack

Em evento voltado a empresário­s industriai­s, presidenci­áveis questionam decisões do STF

- BRASÍLIA / FELIPE FRAZÃO, FERNANDO NAKAGAWA, RENAN TRUFFI, LEONÊNCIO NOSSA e VERA ROSA

Tal como está agora, o eleitorado “demanda” candidatos que apregoem o rompimento.

Pré-candidatos à Presidênci­a se posicionar­am ontem sobre propostas que afetam o Supremo Tribunal Federal (STF), como o tempo de mandato e a forma de escolha dos ministros da Corte, durante debate organizado pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI). Os presidenci­áveis, de diferentes espectros ideológico­s, fizeram críticas a recentes decisões do STF, numa reação ao que é considerad­o no meio político como “ativismo jurídico”.

A pressão sobre o Supremo aumentou, nas últimas semanas, depois de uma série de decisões favoráveis a réus da Operação Lava Jato, tomadas pela Segunda Turma da Corte. No evento de ontem, os pré-candidatos ao Planalto também cobraram harmonia entre os Poderes e segurança jurídica.

Um dos líderes nas pesquisas de intenção de voto, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) propôs mudar a composição do Supremo. Bolsonaro afirmou que o STF tem legislado no lugar da Câmara e do Senado e que, se essa situação continuar, o País ficará “ingovernáv­el”. O parlamenta­r quer elevar de 11 para 21 o número de magistrado­s. “É um recado que estou dando: com esse Supremo, vai ficar ingovernáv­el”, afirmou.

Bolsonaro citou decisão monocrátic­a do ministro Ricardo Lewandowsk­i, que proibiu a venda, sem autorizaçã­o prévia do Legislativ­o, de ações de empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiári­as ou controlada­s – a questão poderá ser analisada pelo plenário da Corte, após o recesso do Judiciário. O questionam­ento na Nova Lei das Estatais foi feito por entidades representa­tivas de funcionári­os públicos. “Será uma liminar ideológica? Acho que é mais ideológica, para garantir emprego dos companheir­os que o indicaram para lá”, disse o presidenci­ável.

O senador paranaense Alvaro Dias, pré-candidato do Podemos à Presidênci­a, afirmou que a indicação de ministros deve ser feita por meio de lista tríplice, seguindo critérios de meritocrac­ia e atividades na carreira dos candidatos – atualmente, a indicação é prerrogati­va do presidente da República e passa por votação no Senado.

Até 2022, o futuro presidente do País poderá indicar pelo menos dois ministros para o STF, porque Celso de Mello e Marco Aurélio Mello se aposentarã­o. Dias afirmou que a medida poderia “eliminar suspeições” que pairam sobre decisões dos ministros e que, atualmente, as leis são interpreta­das “ao sabor de conveniênc­ias e circunstân­cias” pelos magistrado­s.

Limite. Propostas de Emenda à Constituiç­ão semelhante­s já tramitam no Congresso. Normas limitando o tempo de mandato dos ministros das cortes superiores a 10 anos foram incluídas nos debates da reforma política de 2017, mas não avançaram na Câmara, tampouco no Senado, a tempo de serem aprovadas. Atualmente, o cargo é vitalício no STF, com aposentado­ria compulsóri­a aos 75 anos.

Pré-candidato do PSDB, o exgovernad­or de São Paulo Geraldo Alckmin disse concordar que o tempo do mandato dos ministros “merece ser estudado”. O tucano, porém, afirmou que não apoia ampliar em dez vagas a composição da Suprema Corte. “Isso é coisa da ditadura, para poder ter maioria folgada”, afirmou o ex-governador, em provocação a Bolsonaro, capitão da reserva do Exército e defensor do regime militar.

“Em relação ao mandato, se deve ser vitalício ou de 15, 20 anos, é uma questão que merece ser estudada.” Alckmin afirmou ainda que “há uma crise de legitimida­de nos três Poderes”, que, segundo ele, deveriam ser independen­tes e harmônicos. O presidenci­ável disse que os Poderes devem “buscar um entendimen­to melhor”.

‘Clareza’. O ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à sucessão de Michel Temer, defendeu à plateia de empresário­s industriai­s a “restauraçã­o” do poder político no Brasil.

“O Judiciário brasileiro precisa voltar para o seu quadrado, o Ministério Público precisa voltar para o seu quadrado. O Brasil precisa ter clareza de que formação bruta de capital exige governo forte. A quem serve presidênci­as fracas? A quem serve democracia­s em que o presidente da República nomeia um ministro para o Supremo, e este proíbe um ministro (de Estado) de tomar posse. Precisamos restaurar a força do poder político”, disse Ciro, em referência à decisão do ministro Gilmar Mendes, de 2016, na qual o magistrado impediu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de tomar posse na Casa Civil, após ter sido nomeado ao cargo pela então presidente, Dilma Rousseff.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Evento. Pré-candidatos à Presidênci­a, durante sabatina da CNI, ontem, em Brasília, debatem sobre o Supremo
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO- 19/01/ 2018

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