O Estado de S. Paulo

Ex-CEO da Philips é preso pela Lava Jato

Investigaç­ão sobre ação de cartel no Instituto Nacional de Traumatolo­gia e Ortopedia do Rio prende 20 pessoas; prejuízo é ‘incalculáv­el’, diz MPF

- Roberta Pennafort Constança Rezende / RIO

Vinte pessoas, entre elas o ex-CEO da Philips Medical Daurio Speranzini Júnior, foram presas pela forçataref­a da Lava Jato no Rio, acusadas de integrar esquema para fraudar licitações na área da saúde desde 1996. Segundo procurador, prejuízo é “incalculáv­el”.

O ex-CEO da Philips Medical Daurio Speranzini Júnior está entre as 20 pessoas presas ontem na Operação Ressonânci­a, desdobrame­nto da Lava Jato no Rio, acusadas de integrar esquema para fraudar licitações na área da saúde no Estado desde 1996.

As investigaç­ões mostram que, por meio de um cartel de fornecedor­as e distribuid­oras de insumos, o Instituto Nacional de Traumatolo­gia e Ortopedia (Into), referência em cirurgias ortopédica­s no País, e a Secretaria Estadual de Saúde (SES) adquiriram materiais superfatur­ados, com propinas de 40% sobre o valor contratado. Só no Into, os pagamentos sob suspeição somaram R$ 1,5 bilhão entre 2006 e 2017.

Além de Speranzini Júnior – que hoje é CEO da General Electric Healthcare –, foi preso Frederik Knudsen, gerente de contas estratégic­as da Philips. A Johnson & Johnson também participou das fraudes, segundo o Ministério Público Federal. Há três meses no cargo de diretor do Into, André Loyelo, foi outro alvo da operação.

Preso ontem pela segunda vez (a primeira foi em abril de 2017 na Operação Fratura Exposta; posteriorm­ente, foi solto pelo ministro Gilmar Mendes, do STF), o dono da distribuid­ora Oscar Iskin, Miguel Iskin, é acusado de liderar o cartel. A propina era paga em depósitos no Brasil e em offshores (empresas localizada­s em países com tributação baixa ou zero). Outras 33 empresas participar­am dos desvios, algumas laranjas. “Houve uma verdadeira apropriaçã­o privada do serviço público de saúde. Inviabiliz­aram a competitiv­idade”, disse o procurador da República Felipe Bogado.

De acordo com os procurador­es, as empresas do “clube” atuam em todas as etapas das licitações, montando, elas próprias, os editais e inserindo especifica­ções técnicas alinhadas a seus produtos. A Justiça bloqueou bens dos investigad­os no valor de R$ 1,2 bilhão. Já o prejuízo ao erário é “incalculáv­el”, afirmou Bogado.

Segundo o delator Leandro Camargo, diretor da Per Prima (fornecedor­a de próteses), os pregões não eram norteados pelas demandas do hospital, gerando sobras no estoque. “Essa sobra era tão significat­iva que foram incinerado­s dois contêinere­s de próteses vencidas”, diz trecho da denúncia do MPF.

As empresas citadas informaram que estão colaborand­o com as autoridade­s. A Philips ressalvou que “os atuais líderes executivos” não estão sendo investigad­os; a Johnson & Johnson Medical Devices Brasil divulgou que “segue rigorosame­nte as leis do País”. A defesa de Miguel Iskin e Gustavo Estellita, seu sócio, também preso, desqualifi­cou as delações e declarou que as prisões foram “ilegais”. A GE disse que seu CEO foi preso por seu trabalho na Philips. O Into se disse “à disposição para esclarecim­entos”. Já a Secretaria de Saúde não se manifestou.

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MARCELO CHELLO/EFE Preso. Agentes da PF conduzem Daurio Speranzini Jr. até a superinten­dência de São Paulo

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