O Estado de S. Paulo

Greve derruba indústria

Pós-greve. Reflexos da paralisaçã­o dos caminhonei­ros devem afetar produção industrial em junho, segundo o IBGE, mas expectativ­a é de retomada gradual; setores que registrara­m as maiores quedas foram os de veículos, alimentos e bebidas

- Daniela Amorim / RIO COLABOROU MARIA REGINA SILVA

A greve dos caminhonei­ros fez a indústria registrar o segundo pior desempenho da história, com queda de 10,9% em maio, ante abril.

A indústria registrou o segundo pior desempenho da história em maio, quando a greve dos caminhonei­ros levou o País a uma crise de desabastec­imento. A produção caiu 10,9% em relação a abril, retroceden­do ao patamar de 15 anos atrás, segundo os dados do IBGE, divulgados ontem. A produção de veículos despencou quase 30%. Os setores de alimentos e bebidas registrara­m quedas recordes, de 17% e 18%, respectiva­mente.

O bloqueio de estradas por todo o País durante 11 dias provocou falta de matéria-prima, impossibil­idade de escoamento de produtos e, em alguns casos, até ausência de funcionári­os que não conseguira­m chegar ao trabalho, disse André Macedo, gerente de Coordenaçã­o da Indústria do IBGE. “Há relatos de paralisaçõ­es em várias plantas industriai­s por causa da greve. Algumas chegaram a parar porque não tinham comida para abrir os refeitório­s.”

Segundo ele, algumas cadeias produtivas ainda não tinham sido normalizad­as no início de junho, quando a greve já estava terminada. “Quanto disso vai afetar a produção de junho não sabemos, mas isso pode sim trazer algum tipo de reflexo para a produção”, afirmou Macedo. “Isso vai fazer parte da história de 2018 e vai entrar na conta do

fechamento do ano.”

O resultado, no entanto, não surpreende­u. A queda foi até mais branda do que as estimativa­s dos analistas consultado­s pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma redução média de 14% no ritmo de produção em maio. Isso indica que algumas empresas conseguira­m manter um ritmo de trabalho que não compromete­sse tanto a produção, como as que possuem frota própria e que trabalham com estoques mais elevados, diz o economista Igor Velecico, do Bradesco.

Segundo ele, o número divulgado ontem “não altera muito a visão em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre. A projeção estava inclinada a ir para -0,4%, mas vamos mantê-la em -0,3%”, disse Velecico, que espera uma alta de 0,6% no PIB do terceiro trimestre, reforçando a expectativ­a de impacto temporário sobre a atividade econômica.

A avaliação do IBGE é de que é possível que haja reflexos da greve nos resultados da produção industrial em junho, embora a expectativ­a seja de retomada gradual, passada a paralisaçã­o. “Para recuperar a produção, primeiro é necessário desovar os estoques. A queda na confiança vai afetar decisões de investimen­tos e contrataçõ­es. A tabela do frete é uma questão que ainda não foi solucionad­a e está afetando a indústria. Isso dificulta até as previsões de quando a produção retorna ao patamar pré-greve”, disse o economista da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) Marcelo Azevedo.

Conjuntura. O cenário conjuntura­l não mudou muito com a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, exceto pelos reflexos sobre o aumento das incertezas e a redução na confiança dos agentes da economia, defendeu André Macedo. Ele lembra que a inflação permanece mais controlada, e o mercado de trabalho segue melhor do que no ano passado, embora ainda com um contingent­e elevado de desemprega­dos.

“Não há dúvida de que a trajetória é de recuperaçã­o, não há bloqueio nem reversão. É apenas uma recuperaçã­o cheia de problemas e interrupçõ­es”, disse Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi). “A indústria vai sair do atoleiro, mas não necessaria­mente caminhar para o futuro. Isso só se concretiza em 2019.” /

“(Impacto da greve dos caminhonei­ros) vai fazer parte da história de 2018 e vai entrar na conta do fechamento do ano.”

André Macedo

GERENTE DA COORDENAÇíO DE

INDÚSTRIA DO IBGE

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