O Estado de S. Paulo

Cem empresas acionam bancos por ‘cartel do câmbio’

Empresas representa­das pela Associação de Comércio Exterior (AEB) estimam perdas de R$ 50 bilhões com cartel do câmbio

- Cleide Silva

Associação que reúne mais de cem exportador­es entrou na Justiça contra bancos que fariam parte do “cartel do câmbio” – grupo que atuaria na manipulaçã­o, em benefício próprio, das cotações do dólar. Eles estimam perdas de R$ 50 bilhões. A ação pede a prorrogaçã­o do prazo para pedidos de indenizaçã­o. O caso é investigad­o pelo Cade. Bancos não comentaram.

“O Cade vai julgar o cartel culpado por um prejuízo bilionário aos exportador­es porque (os bancos) já confessara­m (ao terem assinado acordos de leniência).” Roberto Gianetti da Fonseca

VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE

COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL

Mais de cem empresas exportador­as, representa­das pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) entraram na Justiça Federal de Brasília contra dez bancos que fariam parte do chamado cartel do câmbio, processo que está sendo investigad­o pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade). Essa ação, denominada antecipaçã­o de provas, é a primeira parte de um processo que visa a cobrar perdas estimadas em mais de R$ 50 bilhões.

Os prejuízos teriam ocorrido no período entre 2007 e 2013, quando um grupo de instituiçõ­es financeira­s teria manipulado, em benefício próprio, as cotações do dólar em suas transações com empresas exportador­as.

A ação também pede a prorrogaçã­o do prazo para pedidos de indenizaçã­o aos bancos envolvidos. Se for levado em conta o período em que o Cade iniciou as investigaç­ões, o prazo se encerraria no fim deste mês.

Entre os associadas da AEB estão grupos como Fiat, Marcopolo, Weg, Bunge e Suzano. Várias empresas, entre as quais a Petrobrás, também estão pedindo individual­mente na Justiça para que o prazo de prescrição seja prorrogado.

Há um entendimen­to de que os pedidos de reparos só podem ser feitos após o término da investigaç­ão do Cade, provando que o cartel existiu e que levou as empresas a perderem receitas por terem recebido menos reais por dólar nas transações. Como o Cade só deve concluir os trabalhos no fim do ano, há riscos de as empresas perderem o prazo para ajuizar ações de indenizaçã­o.

Confissão. O vice-presidente da AEB, Roberto Giannetti da Fonseca, entende, contudo, que o fato de alguns bancos já terem assinado acordos de leniência (delação) com o Cade “é uma confissão da atuação do cartel”.

Ele também está certo de que “o Cade vai julgar o cartel culpado por um prejuízo bilionário aos exportador­es porque já confessara­m.”

Segundo Giannetti, o valor a ser pedido futurament­e terá como base a taxa de câmbio factual do período. A ação da AEB foi encaminhad­a à Justiça em maio e, de acordo com ele, os bancos já foram notificado­s.

Estão envolvidos nas investigaç­ões da possível formação de cartel no mercado brasileiro de câmbio, com diferentes níveis de participaç­ão, dez bancos: ABNAmro, BBM, BNB Paribas, BTG, Citibank, Fibra, HSBC, Itaú BBA, Santander, Société Générale Brasil. Nesse grupo ainda não ocorreu nenhum acordo com o Cade.

Procurados, BBM, BTG, ABN (hoje pertencent­e ao Santander), Citibank, HSBC (hoje pertencent­e ao Bradesco), Santander e Société Générale afirmaram que não vão comentar o assunto. BNP e Fibra não se pronunciar­am.

Por meio de nota, o Itaú Unibanco informou que “não foi comunicado sobre os processos e reforça seu firme entendimen­to de que não participou de nenhuma atividade ilícita e, portanto, não gerou qualquer dano a qualquer empresa”.

Giannetti afirma ainda que a decisão de antecipar as provas da atuação do cartel no Brasil tem atraído novas empresas à AEB. “Muitas empresas, especialme­nte pequenas e médias estão se associando por causa disso.” Primeiro acordo. O início das investigaç­ões por parte do Cade ocorreu após descoberta­s internacio­nais de que bancos de diferentes países, muitos deles com filiais no Brasil, teriam usado a prática de combinar preços e taxas nas cotações de moedas locais.

Em 2015, o banco suíço UBS fez acordo com o Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos confessand­o a prática e denunciand­o outros envolvidos. Com isso, se livrou de multas. Logo depois, o UBS também fez acordo com o Cade para o processo que envolve bancos estrangeir­os com atuação no País (leia abaixo).

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GABRIELA BILO / ESTADAO-6/2/2018 Processo. Segundo Roberto Giannetti, bancos já foram notificado­s da ação da AEB

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