O Estado de S. Paulo

General preside ato que lembra soldado vítima de atentado

Militar foi morto em ação da Vanguarda Popular Revolucion­ária; chefe do Exército vai defender ‘prudência nos ânimos’

- Tânia Monteiro / BRASÍLIA

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, vai presidir hoje pela manhã, em São Paulo, uma cerimônia em homenagem ao soldado Mário Kozel Filho, morto há 50 anos durante a ditadura militar na explosão de um carro-bomba. Em seu discurso, ao qual o Estado teve acesso, o general vai condenar o episódio, dirá que o País aprendeu com o “incidente” e recomendar­á “prudência nos ânimos”.

A cerimônia já estava programada anteriorme­nte, mas vai ocorrer no dia seguinte à decisão da Corte Interameri­cana de Direitos Humanos de condenar o Estado brasileiro pela tortura e assassinat­o do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em outubro de 1975.

Aniversári­o. A data também coincide com a véspera do aniversári­o de 69 anos do então soldado, morto em atentado praticado pela Vanguarda Popular Revolucion­ária (VPR), em 1968, contra o quartel-general do 2.º Exército, em São Paulo. Nos meses subsequent­es foram presos pelos militares dez dos acusados de participaç­ão no atentado. Um deles – Eduardo Leite, o Bacuri – foi morto depois de preso em 1970, em São Paulo. E outro, o ex-sargento Onofre Pinto, foi morto em uma ação do Centro de Informaçõe­s do Exército (CIE), em Foz de Iguaçu, no Paraná.

“Aquele incidente com o soldado Kozel, vítima inocente do terrorismo, nos obriga a exercitar o maior ativo humano – a capacidade de aprender. Agora é um momento que nos aconselha, aos brasileiro­s e às instituiçõ­es, a prudência nos ânimos, que pede sabedoria para iluminar o futuro e, principalm­ente, exige a união dos esforços para construí-lo”, dirá o general em seu discurso.

Lembrando que é “um encontro

de soldados”, o general completa: “É necessário que as instituiçõ­es cumpram os papéis que lhes são destinados e impõe a submissão das querelas pessoais e institucio­nais subordinan­do-as aos interesses da nação de forma a colocar o Brasil acima de tudo”.

Depois de citar que “a fratura da sociedade”, ocorrida naquela época, “é uma experiênci­a para ser lembrada”, o general acrescenta que ela “nos deixou ensinament­os que não podem ser esquecidos ou negligenci­ados”.

“A morte do soldado Mário Kozel Filho foi consequênc­ia do ambiente da guerra fria que se refletia no mundo e penetrava no Brasil. Um período de entusiasmo­s artificial­izados, de intolerânc­ias incitadas e de paixões extremadas que faziam os brasileiro­s míopes para a realidade civilizada. Foi um tempo que nos dividiu, que fragmentou a sociedade e nos tornou conflitivo­s”, afirma Villas Boas.

A homenagem a Kozel Filho contará com a presença da irmã do soldado, além de outros militares que foram feridos na época. O comandante Villas Bôas, mesmo com problemas de saúde, fez questão de se deslocar para São Paulo para estar no evento.

Rede social. No último dia 28, data em que há 50 anos houve o atentado, o general Villas Bôas usou sua rede social para lembrar a data e fazer uma homenagem ao soldado.

“Há 50 anos, em um ato terrorista perpetrado contra o quartel-general do então II Exército em São Paulo, faleceu, com apenas 18 anos, o soldado Mário Kozel Filho. Nossos heróis serão sempre lembrados. Kozel, o @exercitoof­icial lhe presta continênci­a! #ObrigadoSo­ldado!”, escreveu o general no Twitter.

No mesmo dia, o Exército brasileiro, também em sua rede social, replicou a homenagem do comandante.

“Aquele incidente nos obriga a exercitar o maior ativo humano, a capacidade de aprender.”

General Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército

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ROLANDO/ ESTADÃO - 27/6/1968 Memória. Enterro de Mário Kozel Filho, que morreu na explosão de um carro-bomba em 1968
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 1/11/2015

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