Casal britânico é envenenado por substância usada contra ex-espião russo
Estado crítico. Britânicos encontrados inconscientes em Amesbury foram contaminados com o agente neurotóxico Novichok, o mesmo usado contra Skripal e a filha; Saúde Pública não crê em risco para a população, mas isola áreas onde ele podem ter passado
O chefe da polícia antiterrorismo do Reino Unido, Neil Basu, confirmou ontem que o casal encontrado desacordado no dia 30 foi exposto ao agente neurotóxico Novichok, o mesmo utilizado contra o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha, Yulia.
Ele acrescentou que os dois – identificados como Charlie Rowley e Dawn Sturgess, estão em estado crítico e ainda não se sabe como a substância tóxica os atingiu. O homem e a mulher, ambos britânicos e na casa dos 40 anos, foram encontrados inconscientes em Amesbury, cidade a 11 quilômetros de Salisbury, onde os Skripal foram atacados. Não há indício de que as novas vítimas tenham alguma relação com os serviços de espionagem.
A investigação sobre um possível atentado com agente neurotóxico começou ontem. A polícia inicialmente informou ao grupo antiterrorismo de que havia um casal afetado por uma substância “desconhecida”.
“Em razão dos recentes acontecimentos em Salisbury, agentes da rede antiterrorismo estão trabalhando com os colegas da polícia do Condado de Wiltshire em relação ao incidente em Amesbury”, explicou a polícia em um comunicado.
Em um primeiro momento, as autoridades acreditaram que os dois haviam sido vítimas de uma overdose por heroína ou crack, mas depois de quatro dias a polícia informou que estavam sendo realizados exames adicionais “para estabelecer a natureza da substância que afetou os pacientes”.
O laboratório da cidade vizinha de Porton Dow confirmou o uso do agente criado na União Soviética. Os cientistas agora deverão determinar se o agente pertence ao mesmo lote usado contra os Skripal.
Cordões de segurança isolam as áreas onde as vítimas podem ter passado, e o contingente da polícia foi reforçado em Amesbury e Salisbury. As autoridades fecharam ao público o parque Queen Elizabeth de Salisbury, segundo a rádio local Spire. A polícia reforçou a presença diante da Igreja Batista de Amesbury, informou o jornal The Guardian. Autoridades acreditam que as vítimas compareceram a um culto antes de serem encontradas inconscientes.
A agência estatal de Saúde Pública avaliou que o caso “não representa um risco significativo de saúde para o público em geral”. Mas esta constatação será “continuamente reavaliada, em função das informações obtidas”, afirmou um porta-voz da agência de Saúde Pública, citado pela agência Press Association. Robert Yuill, vereador do condado de Wiltshire, disse que “a reação é menos intensa” do que no atentado contra os Skripal. “Não se pode comparar”, afirmou.
Natalie Smyth, de 27 anos, que mora na mesma zona de Amesbury das vítimas, afirmou que, no sábado, viu “caminhões de bombeiros, ambulâncias e a rua fechada”, além de agentes com trajes de proteção contra ameaças bioquímicas. “Disseram que era um incidente químico e depois que tinha relação com drogas. É muito estranho, este é um lugar muito tranquilo”, afirmou Natalie. Caso Skripal. Em março, Skripal e sua filha, Yulia, foram encontrados inconscientes e levados para um hospital de Salisbury em estado crítico depois de beber uma cerveja em um pub e almoçar em um restaurante italiano. As autoridades concluíram que os dois foram vítimas de uma tentativa de assassinato com um agente neurotóxico.
Os dois foram tratados durante semanas, recuperaram-se e receberam alta. Londres acusou Moscou de estar por trás do caso Skripal, um ex-coronel do serviço secreto russo condenado por traição por repassar segredos para o governo britânico. Ele se mudou para a Inglaterra após uma troca de espiões.
O Kremlin negou qualquer envolvimento, mas o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, denunciou que o ataque foi cometido com um agente da variedade Novichok, fabricado em laboratórios militares russos.
O ataque provocou a maior expulsão do Ocidente de diplomatas russos desde a Guerra Fria, conforme aliados na Europa e nos EUA apoiaram a primeiraministra britânica, Theresa May. Ela disse que Moscou era responsável pelo ataque ou havia perdido controle do agente nervoso. A Rússia negou envolvimento e sugeriu que o Reino Unido havia realizado o ataque para provocar histeria.