O Estado de S. Paulo

Imigração legal aos EUA deve cair 12% com Trump

Governo argumenta que política rígida deriva de preocupaçõ­es com segurança nacional e esforço em preservar empregos de americanos

- Abigail Hauslohner e Andrew Ba Tran THE WASHINGTON POST / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Enquanto o debate sobre imigração se concentra na tentativa de desencoraj­ar a imigração ilegal separando-se famílias na fronteira, o governo Trump se prepara para investir em outra antiga meta: reduzir a imigração legal.

O número de pessoas recebendo visto permanente para viver nos EUA pode cair 12% nos dois primeiros anos do presidente Donald Trump no poder, segundo dados do Departamen­to de Estado analisados pelo Washington Post.

Entre os países mais afetados estão os de maioria muçulmana incluídos na lista de proibição de viagens do presidente – Iêmen, Síria, Irã, Líbia e Somália. O número de novas entradas nos EUA de pessoas desses países deverá cair 81% até 30 de setembro, fim do ano fiscal. Na semana passada, a Suprema Corte manteve a proibição, abrindo caminho para uma queda ainda mais dramática no número de chegadas desses países. A imigração legal de países de maioria muçulmana como um todo deverá cair um terço.

O governo Trump argumenta que sua política de imigração deriva de preocupaçõ­es com a segurança nacional e do esforço de preservar empregos para americanos. Funcionári­os e especialis­tas em imigração levantaram a preocupaçã­o de que o enfoque do governo mirando certas nacionalid­ades configure discrimina­ção a países pobres e de população não branca.

A análise do Post também constatou declínio entre nacionalid­ades não atingidas pelo bloqueio de viagens de Trump, incluindo quase todos os países que tipicament­e recebem o maior número de vistos dos EUA para imigrantes. O número de vistos a pessoas de México, República Dominicana, Filipinas, China, Índia, Vietnã, Haiti, Bangladesh, Jamaica, Paquistão e Afeganistã­o também diminuiu. Entre os dez países que mandam mais imigrantes para os EUA, apenas El Salvador deve receber mais vistos no governo Trump: um aumento de 17% nos dois primeiros anos fiscais. O número de vistos para africanos deve cair 15%.

Já o fluxo de imigrantes legais da Europa cresceu ligeiramen­te, embora o número total de vistos para europeus seja muito menor que os concedidos a imigrantes da África, Ásia e América Latina.

Não ficou claro se a queda nos vistos reflete um declínio do interesse em migrar para os EUA, já que o Departamen­to de Estado não libera detalhes sobre os pedidos.

A redução na imigração ilegal é o oposto da tendência vista com o presidente Barack Obama. Durante os mandatos de Obama, o número de vistos para imigrantes aumentou 33%, chegando a 617.752 no ano fiscal de 2016, o maior índice em décadas.

Trump disse que deseja limites adicionais na imigração em parte por acreditar que imigrantes representa­m uma competição injusta para trabalhado­res americanos. Mas alguns de seus críticos dizem que Trump procura desacelera­r a transição para uma população americana “majoritari­amente minoritári­a”, citando a propósito suas observaçõe­s preconceit­uosas contra muçulmanos e sua qualificaç­ão recente de Haiti, El Salvador e nações africanas como “países de merda”.

O deputado Cedric Richmond, democrata da Luisiana e presidente da bancada formada por negros do Congresso, disse que a proposta de Trump de “Fazer os EUA grandes novamente” na verdade é a proposta de “Fazer os EUA brancos novamente”. O governo nega que suas políticas de imigração sejam discrimina­tórias.

O argumento econômico de Trump contra a imigração é que o desemprego caiu para 3,8%, o menor índice em quase duas décadas. Entretanto, alguns lembram que há setores empresaria­is americanos com falta de empregados e um freio na imigração legal poderia prejudicar ainda mais um mercado de emprego no qual 6,6 milhões de vagas não estão preenchida­s. Calcula-se que a imigração legal supere a ilegal na proporção de 3 por 1, segundo estatístic­as do Pew Research Center.

O governo Trump já conseguiu fazer mudanças significat­ivas na imigração sem a participaç­ão do Congresso, em parte dando a funcionári­os consulares orientação para mudar o modo como pedidos de vistos de entrada são avaliados e processado­s, informaram funcionári­os e especialis­tas independen­tes.

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