O Estado de S. Paulo

Hábitos da mãe evitam filhos obesos

Estudo da Universida­de Harvard mostra que risco de obesidade infantil é 75% menor quando as mães mantêm estilo de vida saudável

- Fábio de Castro Paula Felix

A designer Camila Muffo, de 39 anos, sempre teve hábitos saudáveis e eles aumentaram depois de sua primeira gravidez. “Nunca bebi nem fumei. Quando a minha primeira filha nasceu, comecei a me alimentar melhor.” A designer conta que já percebe o impacto da vida saudável nos hábitos da filha mais velha, Alice, de 7 anos. “Ela se acostumou a comer coisas diferentes. Na minha casa não tem refrigeran­te, nem ‘junk food’.”

As conclusões de um novo estudo feito por cientistas da Universida­de Harvard (EUA) sugerem que a obesidade não deverá ser um problema para os filhos de Camila. Segundo a pesquisa, as crianças têm uma chance 75% menor de se tornarem obesas na infância ou na adolescênc­ia quando as mães, durante esse período, mantêm um conjunto de cinco hábitos: ter uma dieta saudável, manter o peso sob controle, fazer exercícios regularmen­te, consumir álcool com moderação e não fumar.

Publicado ontem na revista científica The BMJ, o estudo mostra que cada um dos bons hábitos da mãe reduz os riscos de obesidade dos filhos – e a maior queda acontece quando a mãe adota todos os cinco. “Nosso estudo foi o primeiro a demonstrar que para reduzir o risco de obesidade nas crianças um estilo de vida integralme­nte saudável das mães é mais importante que ter algum desses hábitos saudáveis de forma isolada”, disse o autor principal do estudo, Qi Sun, do Departamen­to de Nutrição da Universida­de Harvard.

Para estudar a associação entre o estilo de vida das mães e o risco de obesidade entre os filhos, os cientistas analisaram dados de dois grandes estudos nacionais que acompanhar­am, ao longo de 5 anos, cerca de 17 mil mulheres e seus mais de 24 mil filhos – crianças e adolescent­es com idade entre 9 e 18 anos – nos Estados Unidos.

De acordo com Sun, identifica­r os fatores de risco para a prevenção da obesidade infantil se tornou uma prioridade de saúde pública nos Estados Unidos. Lá, um em cada cinco crianças e adolescent­es de 6 a 19 anos de idade é obeso. “O problema é grave, já que a obesidade infantil está associada ao aumento dos riscos de vários distúrbios, incluindo diabete, doenças cardiovasc­ulares e morte prematura na idade adulta”, afirmou.

Segundo ele, os resultados destacam os potenciais benefícios de intervençõ­es baseadas nos pais para reduzir os riscos de obesidade infantil. “Precisarem­os agora fazer novas pesquisas para examinar o papel do pai no desenvolvi­mento da obesidade de seus filhos”, disse. De acordo com o estudo americano, 1.282 crianças e adolescent­es – 5,3% das que foram avaliadas – desenvolve­ram obesidade durante o acompanham­ento. O excesso de peso da mãe e o tabagismo, afirmam os pesquisado­res, foram os fatores que influencia­ram mais fortemente a obesidade das crianças.

Aquelas cujas mães mantiveram um peso saudável tiveram risco de obesidade 56% menor em comparação às crianças com mães que estavam acima do peso ou eram obesas. Entre os filhos de mulheres que não fumavam, o risco de obesidade foi 31% menor, em comparação aos filhos de fumantes.

Brasil. A preocupaçã­o com a obesidade infantil no País é a mesma – e a solução também é fazer com que os pais mudem seus hábitos, segundo Denise Lellis, pediatra da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (FMUSP). “Não há mais dúvidas de que os fatores ligados ao estilo de vida são centrais nessa epidemia de obesidade e é bastante evidente que os hábitos dos pais vão se refletir nas crianças”, disse.

Para ela, a conclusão de que os bons hábitos da mãe reduzem substancia­lmente a chance de obesidade nos filhos é coerente com tudo o que se vê na clínica e na literatura médica. “Isso faz sentido em todos os aspectos, porque a criança está

aprendendo com os pais. Se conseguire­m melhorar seu estilo de vida, isso vai se refletir na saúde infantil. Por isso acreditamo­s que incentivar mudanças no estilo de vida é o futuro para prevenir doenças crônicas.”

Segundo Denise, que participou há duas semanas, em Harvard, de um congresso que discutiu como médicos podem ajudar a mudar os hábitos da população, há um consenso de que a obesidade e as doenças crônicas estão mais associadas a um estilo de vida ruim do que à genética. “Nós sabemos hoje que a maior parte desses problemas vêm do estilo de vida – e isso é muito importante para os pediatras, porque os hábitos são adquiridos na infância”, explicou ela.

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JF DIORIO / ESTADÃO Camila, com Alice, de 7 anos. ‘Nunca bebi nem fumei. Quando minha primeira filha nasceu, comecei a me alimentar melhor’

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