O Estado de S. Paulo

A diversific­ada culinária russa vai além do estrogonof­e

- Gonçalo Junior ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

Na Rússia, não há um prato nacional como arroz, feijão e bife. Nenhum russo responde com certeza sobre um prato repetido várias vezes por semana. Eles gostam de variar até mesmo no dia a dia. “Não gostamos de repeteco”, diz a intérprete e guia turística Anastassia Bystenko, resumindo dezenas de outros relatos ouvidos pela reportagem. O Estado optou pela melhor receita em qualquer cozinha: experiment­ar e variar.

Na entrada, o mais comum é a sopa borch. Ela é vermelha, brilhante e cheirosa, de comer com os olhos. O vermelho vem da beterraba cortada em pequenas tiras, misturada com cenoura, batata, repolho e caldo de carne. Para tornar o caldo mais grosso, os russos comem com um creme especial chamado smetana, parecido com um creme de leite natural (não de caixinha). “Embora seja um prato da cozinha ucraniana, é amado na Rússia”, diz a jornalista Daria Kornilova.

Como aperitivo, panquecas com caviar vermelho. Sua cor também é viva, o que lembra o sagu, por exemplo. Na hora em que ele explode na boca, é salgado, com o gosto do mar. A porção com três panquecas e uma colher de caviar custa 850 rublos (R$ 52). O caviar negro é mais caro e custa 60 mil rublos o quilo (R$ 3,7 mil).

O pelmeni é um ravióli cozido com recheio de carne bovina. À moda siberiana, ele é servido com molho de soja, alho triturado, ketchup e mostarda forte. Em dia de festa, as famílias tradiciona­is, principalm­ente nos arredores de Moscou, fazem a própria massa em casa, com ralador, farinha de trigo e muita disposição. No dia a dia, todo mundo compra a massa pronta para finalizar em casa. Custa 580 rublos (R$ 36).

Prato principal: estrogonof­e. Para os turistas, comer estrogonof­e na Rússia é como comer feijoada no Brasil. Obrigatóri­o. O restaurant­e Bella Pasta serve pratos russos e italianos no centro de Moscou. Por 500 rublos (R$ 30), é possível comer um estrogonof­e razoável. Como no Brasil, ele leva creme de leite e molho de tomate. Diferença: é servido em uma base de purê de batata, sem arroz.

No lotado Café Pushkin, outro ponto turístico da capital, o estrogonof­e vem em um prato dividido em três partes: a carne, o pepino em outro compartime­nto e, por fim, batata frita (não em palitos, em cubinhos). A carne desmancha de tão macia, creme no ponto certo. Valeu o preço salgado de 1.650 rublos ou R$ 102. O gerente explica que é o prato mais pedido entre os brasileiro­s, mas não revela quantos vende por dia.

Nas ruas. A Rússia também tem comida de rua. Da boa. Aquele cheiro familiar de churrasco toma conta da feira de antiguidad­es e lembrancin­has no bairro de Ismaelov. Dezenas de espetos enfileirad­os em uma churrasque­ira ao ar livre. Os russos também gostam de espetinho. Aqui ele se chama shashlyk (carne cortada). Tem de cordeiro, vitela, frango e porco com legumes, cebola, pimentão e tomatinhos. A dissolução da União Soviética não significou a separação dos hábitos alimentare­s das repúblicas. Existem pratos de uma região apreciados por outra. O espetinho é da Geórgia e a Ucrânia criou a sopa de beterraba. Pelo menos na culinária, o país não se dividiu.

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FOTOS EVERTON OLIVEIRA/ESTADÃO Sabores. Panquecas com caviar vermelho (acima) e o estrogonof­e do Café Pushkin, em Moscou: sem arroz

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