O Estado de S. Paulo

Thierry Henry faz trabalho psicológic­o com Lukaku

EX-TREINADOR E COMENTARIS­TA DO SPORTV

- Almir Leite ENVIADO ESPECIAL / KAZAN

Quando pediu para contratar Thierry Henry para a comissão técnica da Bélgica, o técnico espanhol Roberto Martínez queria colocar junto com os jogadores alguém com mentalidad­e vencedora. Quando começou a trabalhar, o ex-atacante francês, carrasco do Brasil na Copa de 2006, percebeu que deveria dar atenção especial a um atleta: o grandalhão Lukaku.

Henry era admirador do futebol do atacante, mas o via como alguém sem objetivida­de e que se abatia facilmente. Primeiro procurou conquistar a confiança de Lukaku. Depois, começou a trabalhar em duas frentes: ensinar-lhe os segredos da área e torná-lo mais confiante.

Negro, Lukaku reclamava que era tratado com preconceit­o no país. “Quando faço gol, sou belga. Quando perco, falam que sou belga de origem congolesa”, queixou-se o artilheiro a Henry, de acordo com uma fonte que convive com o francês.

Henry, também negro e com pai nascido em Guadalupe e mãe na Martinica, ilhas do Caribe e departamen­tos ultramarin­os da França, usou seu próprio exemplo para fazer Lukaku mudar a maneira de pensar. “Eu também era alvo de situações desse tipo, por causa da minha origem, mas resolvi deixar as críticas de lado e fazer meu trabalho. É o que você deve fazer.”

O atacante, hoje com 25 anos, seguiu o conselho, e seu futebol cresceu. Prova disso é que, nos últimos 11 jogos, ele fez 13 gols.

Para o bom aproveitam­ento de Lukaku também serviram, segundo o amigo de Henry, as recomendaç­ões técnicas do francês. Ele mostrou ao belga que era preciso aproveitar sua força física com objetivida­de, procurando se colocar sempre entre os zagueiros para cabecear ou chutar a gol e, mesmo nas arrancadas, tentar o chute assim que aparecesse uma brecha, para surpreende­r o goleiro.

Com o grupo, de maneira geral, Henry teve a missão de torná-lo mentalment­e forte e com espírito vencedor. Um guru. Os belgas eram considerad­os bons atletas, mas tinham espírito derrotista na avaliação do técnico Martínez. Henry tratou de mudar isso, se dando como exemplo. Os prêmios individuai­s, assim como os títulos conquistad­os no Barcelona e no Arsenal, além da Copa de 1998 pela França, se tornaram exemplos. Ele trabalhou para colocar na cabeça de Hazard, De Bruyne, Witsel e Lukaku que era possível. Espécie de “sim, sim pode.”

Até agora, tudo deu certo. Desde que Martínez e seu auxiliar assumiram, em 2016, a Bélgica perdeu uma vez em 24 jogos – para a Espanha por 2 a 0, em 1.º de setembro daquele ano, na estreia da dupla. Depois disso, foram 18 vitórias e cinco empates.

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ODD ANDERSEN/AFP Auxiliar técnico. Ele reforçou a confiança do atacante

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