O Estado de S. Paulo

Petrobrás anuncia parceria com chinesa no Comperj

Acordo com a China National Petroleum Corporatio­n envolveria conclusão da refinaria, que está 80% pronta

- Denise Luna / RIO

A Petrobrás anunciou ontem uma possível parceria em refino com a China National Petroleum Corporatio­n (CNPC), que envolve o Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj). A empresa chinesa já é sócia da estatal no campo gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, e no de Peroba, um dos mais disputados nos leilões do pré-sal no ano passado.

O acordo acontece menos de uma semana após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowsk­i proibir que o governo venda estatais sem a autorizaçã­o do Congresso. Medida que motivou a Petrobrás a suspender esta semana a venda de alguns ativos, como a Transporta­dora Associada de Gás (TAG), avaliada entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões. Decisão que afeta a meta de desinvesti­mento da petroleira de US$ 21 bilhões para o biênio 2017-2018. Desse total, apenas US$ 4,8 bilhões foram vendidos.

A parceria anunciada ontem envolve a construção de uma refinaria com capacidade para processar 165 mil barris diários (b/d) de petróleo no Comperj, integrada com a revitaliza­ção do cluster (conjunto de campos) de Marlim, formado por Marlim, Voador, Marlim Leste e Marlim Sul, que já foram as estrelas da Bacia de Campos e hoje produzem a metade do que há oito anos. Marlim Leste, por exemplo, que em 2010 extraía 143 mil b/d de petróleo, hoje só produz 70 mil b/d.

A ideia do acordo é processar o pesado óleo de Marlim na refinaria que será concluída pela empresa chinesa, e que segundo a Petrobrás já está 80% pronta. Mas a capacidade de 165 mil b/d deixa a refinaria do Comperj entre as menores da empresa.

“Damos hoje mais um passo na busca de parceiros para concluir a refinaria do Comperj, ao mesmo tempo que garantimos novos investimen­tos e a revitaliza­ção do campo de Marlim”, disse

o presidente da Petrobrás, Ivan Monteiro, em um comunicado. Segundo ele, a parceria é uma demonstraç­ão de como uma Petrobrás financeira­mente saudável e equilibrad­a pode ter um impacto positivo para a sociedade brasileira e todos os seus acionistas.

Incertezas. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (CBIE), Adriano Pires, o negócio é positivo para a companhia e para o Brasil, que expande

seu parque de refino. Ele observou porém, que somente uma estatal chinesa poderia fechar um acordo com a Petrobrás com o aumento da incerteza no setor de óleo e gás brasileiro após a greve dos caminhonei­ros e a decisão do ministro do STF.

“É uma boa notícia em vista dessa lamentável decisão do Lewandowsk­i”, disse Pires ao Broadcast/Estadão. “Essa parceria se mostra interessan­te diante do cenário que estamos vivendo no Brasil hoje, com Lewandowsk­i, controle de preços, isso afasta os investidor­es, só mesmo uma estatal para assumir esse risco, só sobraram mesmo os chineses”, avaliou, explicando que ao contrário da empresa privada, a estatal não olha apenas o lucro e tem uma visão mais estratégic­a. No caso do governo da China, o objetivo é gerar empregos e vender seus equipament­os para o Brasil.

Segundo Pires, essas mudanças regulatóri­as afastam os investidor­es, que já tinham se retraído do setor de refino após o governo intervir no ajuste de preço diário da Petrobrás para o diesel. Sem paridade com o mercado global, os investidor­es temem não ter retorno sobre o negócio bilionário que é construir e operar uma refinaria. Além do diesel, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) abriu uma inédita Tomada de Contribuiç­ões para estudar a conveniênc­ia de estipular um prazo para avaliar a periodicid­ade do ajuste dos combustíve­is, o que foi considerad­a uma espécie de intervençã­o do governo no setor.

O diretor do CBIE afirmou que para o Brasil a notícia é positiva porque amplia o parque de refino, setor que menos cresceu após a abertura do mercado de petróleo, em 1997. Hoje, a Petrobrás tem o monopólio das refinarias, com 98% do mercado. “É importante para o abastecime­nto.”

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MARCIO FERNANDES/ESTADÃO-19/12/2016 Capacidade. Comperj processari­a 165 mil barris/diários

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