Entre muita dúvida, uma certeza: o acordo vai sair
Anegociação entre a brasileira Embraer e a americana Boeing para criação de uma terceira empresa conjunta faz do mercado um ninho de suricatos – ao menor ruído, há uma explosão de atividade e a cotação das ações dispara. O acordo na vida real não está funcionando assim. A especulação faz parte do jogo na fase dos ajustes, em que os protagonistas são obrigados a manter silêncio de monges trapistas.
Mas, em meio a tantas dúvidas, há uma certeza: o acordo vai sair. Os ajustes ainda estão em discussão e estão sob análise na área militar, segundo alto funcionário do Palácio do Planalto que acompanha o processo. A Embraer estatal foi criada sob a Força Aérea Brasileira (FAB) em 1969, que mantém a “golden share”, ação que dá direito a veto.
Embora haja um esboço do modelo final, certos tópicos ainda dependem de definições – como a manutenção do núcleo de engenharia da Embraer no País, a localização das linhas de montagem e a propriedade intelectual dos projetos.
A Boeing tem interesse na agilidade brasileira de localizar novos mercados, agregar produtos. A combinação de negócios também é importante para a Embraer. A companhia investiu pesadamente na nova geração de jatos civis, a família E-2, para até 130 passageiros, e do KC390, de transporte militar. O portfólio tem ótimas perspectivas, mas exige ampla campanha de vendas – que terão mais chance de êxito com ajuda da Boeing.
O caminho rumo à nova empresa terá de passar pela remoção das rebarbas nas áreas sensíveis, como a garantia de recursos para a Embraer Defesa e Segurança (EDS), responsável pelos projetos da Defesa. Depois, com aval definitivo do governo, voltará para cada uma das duas diretorias, os conselhos, consultorias independentes e até pela escolha do nome que se dará ao empreendimento. Restará a análise da CVM, no Brasil, e da equivalente nos Estados Unidos, a SEC. Diante de tantas obrigações, o fechamento do acordo pode coincidir com as próximas eleições.