Governo quer manter capacidade da Embraer
As atenções do governo em relação à possível fusão entre Embraer e Boeing vão além da já conhecida proteção aos projetos da empresa na área militar. “A grande preocupação do Ministério da Defesa é a preservação da nossa capacidade tecnológica, de nossa soberania, por tabela, dentro dessa área”, afirmou ontem o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, em reunião na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Ele explicou que há preocupação, por exemplo, com o que acontecerá com os “milhares” de engenheiros altamente qualificados que atuam em projetos da Embraer que estão em fase final, como o jato comercial E-2 e o cargueiro KC-390.
Aos deputados, ele explicou que em função de o governo deter a golden share da Embraer, foi constituído um grupo de trabalho para acompanhar as negociações. Segundo ele, o grupo ainda não recebeu proposta concreta de negócio. “Estão analisando para oportunamente apresentar isso ao governo.”
O comandante explicou que a negociação entre Embraer e Boeing se impôs quando a linha de jatos leves da principal rival da empresa na área de jatos comerciais, a canadense Bombardier, foi comprada pela Airbus. “Isso colocou o Brasil numa disputa direta com as grandes e acendeu uma luz amarela.”
Embora seja a terceira fabricante de aeronaves do mundo, a Embraer não chega nem a 10% do tamanho da Boeing ou da Airbus, afirmou Rossato. “É um Davi contra um Golias em qualquer disputa que seja feita”, admitiu Rossato. Por isso, disse, a Embraer tem “discutido as possibilidades que tem.”
Quando o governo foi informado das negociações entre as duas empresas, a primeira precaução foi proteger os projetos da área militar. Ficou acertado, então, que nenhuma joint venture os afetaria, ou seja, foi criada uma blindagem. “Mas nós temos uma preocupação também em ver o futuro da Embraer e o que está sendo discutido.”
Rossato também defendeu a conclusão de acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA para utilização da base de lançamentos de Alcântara (MA). Ele explicou aos deputados que os americanos detêm perto de 80% de “tudo o que existe no mercado” na área espacial. “O acordo com os EUA é fundamental”, afirmou.