O Estado de S. Paulo

Gui Amabis encerra um ciclo com ‘Miopia’ e inicia o recomeço

Quarto álbum do produtor carrega as caracterís­ticas dos anteriores; a filha Rosa, de 9 anos, é destaque

- Pedro Antunes

Gui Amabis tinha poucas horas antes de rumar ao aeroporto e seguir até Nova York, para mixar o quarto álbum dele, Miopia, com o requisitad­o Scotty Hard. Sentia uma inquietude com o resultado da gravação da música Quase um Vinho Bom, uma composição em parceria com Julia Valiengo. Tulipa Ruiz havia gravado voz na faixa, mas o cantor, compositor e produtor sentia um vazio.

Olhou para a filha, Rosa, de 9 anos. “Eu sabia que ela cantava bonitinho, era afinada”, ele lembra. Perguntou se a pequena queria gravar “no disco do papai”. “Deixa eu ouvir a música”, respondeu ela. Tocou, ela gostou e, em dez minutos, a voz dela estava gravada. “Fiz tudo em casa, com um microfone de palco que eu tinha em casa e uma placa de som”, conta. Com isso, Amabis voou para o Brooklyn. Com Hardy, ouviu do também produtor: “Sinto muito, Tulipa, mas a voz da Rosa é quem lidera essa faixa”.

Assim Quase um Vinho Bom, faixa do quarto álbum de Gui Amabis, de 41 anos, é capitanead­a pela garotinha 32 anos mais nova. Miopia, lançado recentemen­te nas plataforma­s digitais – e com CD nas lojas a partir do dia 8 deste mês –, é um álbum de fim de ciclo. Afetivo e criativo. Depois de Memórias Luso/Africanas (2011), Trabalhos Carnívoros (2012) e Ruivo em Sangue (2015), Amabis está pronto para seguir por uma nova narrativa estética, possivelme­nte “distante da união do orgânico com os samples”, ele diz. Portanto, o show desta quinta, 5, na Casa de Francisca, que celebra a chegada do álbum, é também um recomeço.

Miopia é um disco de recortes. Como a trilha sonora de um filme que encerra uma “tetralogia”? “(Risos) Pode ser!” Produtor e também autor de trilhas para cinema e TV, Amabis revisita seus álbuns anteriores com samples e ideias estéticas e, com isso, amarra todos os quatro álbuns em uma só narrativa – e compositor talentoso que é, ele também cria micronarra­tivas dentro de cada canção de Miopia, como curtametra­gens, para seguir na metáfora cinematogr­áfica.

Com isso, chegam canções já conhecidas nas vozes de outros, como Contravent­o, provável hit, já gravada por Céu, ou Miopia, que foi a primeira música composta por Amabis, lá em 2005, e gravada pelo projeto dele da época, chamado Sonantes. A faixa encerra o álbum e, em voz e violão, com Regis Damasceno, aponta para a direção com “mais buracos”, como ele diz, para qual sua música seguirá a seguir. A primeira música encerra o ciclo e o recomeça. E, de preferênci­a, com mais participaç­ões da pequena Rosa.

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JULIA BRAGA Trilha. Álbum se comunica com trabalhos anteriores

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