Gui Amabis encerra um ciclo com ‘Miopia’ e inicia o recomeço
Quarto álbum do produtor carrega as características dos anteriores; a filha Rosa, de 9 anos, é destaque
Gui Amabis tinha poucas horas antes de rumar ao aeroporto e seguir até Nova York, para mixar o quarto álbum dele, Miopia, com o requisitado Scotty Hard. Sentia uma inquietude com o resultado da gravação da música Quase um Vinho Bom, uma composição em parceria com Julia Valiengo. Tulipa Ruiz havia gravado voz na faixa, mas o cantor, compositor e produtor sentia um vazio.
Olhou para a filha, Rosa, de 9 anos. “Eu sabia que ela cantava bonitinho, era afinada”, ele lembra. Perguntou se a pequena queria gravar “no disco do papai”. “Deixa eu ouvir a música”, respondeu ela. Tocou, ela gostou e, em dez minutos, a voz dela estava gravada. “Fiz tudo em casa, com um microfone de palco que eu tinha em casa e uma placa de som”, conta. Com isso, Amabis voou para o Brooklyn. Com Hardy, ouviu do também produtor: “Sinto muito, Tulipa, mas a voz da Rosa é quem lidera essa faixa”.
Assim Quase um Vinho Bom, faixa do quarto álbum de Gui Amabis, de 41 anos, é capitaneada pela garotinha 32 anos mais nova. Miopia, lançado recentemente nas plataformas digitais – e com CD nas lojas a partir do dia 8 deste mês –, é um álbum de fim de ciclo. Afetivo e criativo. Depois de Memórias Luso/Africanas (2011), Trabalhos Carnívoros (2012) e Ruivo em Sangue (2015), Amabis está pronto para seguir por uma nova narrativa estética, possivelmente “distante da união do orgânico com os samples”, ele diz. Portanto, o show desta quinta, 5, na Casa de Francisca, que celebra a chegada do álbum, é também um recomeço.
Miopia é um disco de recortes. Como a trilha sonora de um filme que encerra uma “tetralogia”? “(Risos) Pode ser!” Produtor e também autor de trilhas para cinema e TV, Amabis revisita seus álbuns anteriores com samples e ideias estéticas e, com isso, amarra todos os quatro álbuns em uma só narrativa – e compositor talentoso que é, ele também cria micronarrativas dentro de cada canção de Miopia, como curtametragens, para seguir na metáfora cinematográfica.
Com isso, chegam canções já conhecidas nas vozes de outros, como Contravento, provável hit, já gravada por Céu, ou Miopia, que foi a primeira música composta por Amabis, lá em 2005, e gravada pelo projeto dele da época, chamado Sonantes. A faixa encerra o álbum e, em voz e violão, com Regis Damasceno, aponta para a direção com “mais buracos”, como ele diz, para qual sua música seguirá a seguir. A primeira música encerra o ciclo e o recomeça. E, de preferência, com mais participações da pequena Rosa.