Pressionadas pela concorrência, Embraer e Boeing fecham acordo
Acordo foi anunciado, ontem, depois de nove meses de negociações, que culminaram com a venda de 80% da área de aviação comercial da Embraer para a companhia americana; empresa perdeu R$ 3 bilhões na Bolsa de Valores após o anúncio
A Embraer fechou a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a Boeing. O negócio cria uma nova companhia, avaliada em US$ 4,8 bilhões (R$ 19 bilhões), na qual a brasileira terá 20% de participação. Além das ações, a Embraer – que concentrará apenas as áreas de defesa e jatos executivos – receberá US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões). A forte concorrência no setor levou as partes a agilizar o negócio. As ações da Embraer caíram 14,29% ontem. Uma das razões para a tensão dos investidores é o risco de o presidente que será eleito em outubro desfazer o negócio.
Após nove meses de negociações, vencendo um vaivém de interesses que envolveu duas multinacionais e vários órgãos do governo brasileiro, a Embraer fechou ontem a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing. O negócio cria uma nova companhia, avaliada em US$ 4,8 bilhões (R$ 19 bilhões), na qual a brasileira terá apenas 20% de participação. Com a venda, que ainda precisa do aval do governo, a Embraer receberá US$ 3,8 bilhões (R$ 15 bilhões) e lhe restarão apenas suas áreas de Defesa e jatos executivos – que historicamente têm menor participação nos resultados da companhia. O mercado financeiro reagiu mal ao acordo, antecipado pela colunista Sonia Racy no Broadcast e divulgado ontem pela manhã. As ações da Embraer tiveram queda de 14%, fechando a R$ 23,10, com perda de quase R$ 3 bilhões em valor de mercado. A retração, porém, veio após período de forte alta. De dezembro, quando as negociações foram reveladas, até o fechamento anterior ao anúncio, a companhia tinha registrado valorização de 64% na Bolsa.
Uma das razões para a tensão dos investidores, segundo analistas, é o risco político da transação, já que há pouca clareza sobre o resultado da próxima eleição. O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse ontem que as companhias querem entregar os documentos finais para a avaliação do governo entre outubro e e novembro. A ideia é garantir que o negócio seja sacramentado ainda na gestão de Michel Temer. Dado o tamanho da operação, porém, fontes do mercado consideram o cronograma apertado. A estimativa das empresas é que o negócio seja totalmente concluído no fim de 2019.
O acordo anunciado embute um prêmio sobre o preço dos papéis da Embraer. A avaliação apenas da área de jatos comerciais, em US$ 4,8 bilhões, é semelhante ao valor total da companhia (US$ 5,1 bilhões, na quarta-feira), que inclui ainda as áreas de Defesa e executiva.
Inicialmente, a Boeing queria ficar com 100% da Embraer. Detentor de uma ação especial (“golden share”) na Embraer, resquício da época em que a companhia era estatal, que lhe dá direito a veto em assuntos como venda de participações, o governo descartou essa hipótese para preservar a soberania da área de Defesa. Como os segmentos de aviões militares e executivos são deficitários – registraram prejuízo de R$ 350 milhões em 2017 –, parte das discussões entre as empresas e o Planalto se concentrou na busca de alternativas de receita para a parte da Embraer que não será vendida.
Para garantir a continuidade da Embraer, o governo exigiu uma participação mínima dela de 20% na joint venture, que terá capital fechado. A expectativa é que o aumento de rentabilidade da nova empresa de aviação comercial gere dividendos para compensar as deficiências das outras duas áreas.
Para o especialista em setor aéreo André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company, as áreas militar e executiva da Embraer têm bons produtos, mas enfrentarão desafios. No segmento executivo, o empecilho são as margens apertadas. Na Defesa, a questão é a dependência de clientes de governo – em especial o brasileiro.
O contrato prevê que a Embraer possa vender sua fatia na nova empresa para a Boeing a qualquer momento dos próximos dez anos. Como se trata de uma joint venture, e não da Embraer, o governo não terá direito a veto nesse caso.