O Estado de S. Paulo

Treinament­os e cursos

Empresas buscam orientação para seguir conduta ética

- Renée Pereira CAROLINA PAPP COLABOROU ANNA

Desde que a Operação Lava Jato prendeu alguns dos maiores empresário­s e executivos do Brasil, envolvidos na Operação Lava Jato, tem havido uma corrida das empresas para se blindar de punições e dificultar novos esquemas de corrupção dentro das corporaçõe­s. Além de criar novos programas de compliance, as empresas têm apostado em treinament­os e cursos para que os funcionári­os cumpram os códigos de conduta e saibam como se comportar em determinad­as situações.

Entre as companhias que lidam com o poder público, a Lava Jato criou uma espécie de esquizofre­nia, que se reflete nas dúvidas durante o treinament­o, seja de funcionári­os do alto ou médio escalões. Os questionam­entos são básicos e incluem até que tipo de comida servir num jantar que terá integrante­s do governo. “Num dos meus treinament­os, executivos perguntara­m se poderiam servir camarão ou se era antiético”, afirma o advogado Kevin Altit, sócio do escritório Mattos Filho.

As dúvidas avançam sobre poder ou não levar executivos (do poder público) a restaurant­es, como se comportar num encontro com um agente público e até que valor podem ser dados brindes a clientes. “Essa sanha por treinament­os e implementa­ção de programas de compliance surgiu com a nova Lei Anticorrup­ção, após a Lava Jato. Isso porque a punição pode ser mitigada se a empresa tiver um programa de compliance efetivo e eficaz”, diz Altit.

Entre as preocupaçõ­es do executivo do alto escalão – leia-se presidente­s –, está a sua responsabi­lidade por medidas adotadas no passado e por outras gestões e também por terceiros. Ou seja, como evitar que essas decisões respinguem na empresa e nos responsáve­is. Esse é o objetivo dos treinament­os e dos programas de compliance, afirma a advogada Patricia Agra, sócia do escritório L.O. Baptista.

Os especialis­tas afirmam que, além do limite entre o que é ou não ético, os treinament­os servem para esclarecer as regras dos códigos de conduta, que têm sido cada vez mais rígidos e amplos. “Nos meus cursos tento mostrar que não podemos fugir do bom senso. Se a empresa é uma concession­ária pública, ela não pode deixar de se comunicar com o poder público. E se sirvo uma macarronad­a no lugar do camarão, não significa que estou sendo mais ou menos ético”, destaca Altit. Para ele, ser ético não significa deixar de fazer coisas certas.

“Os executivos que nos procuram querem saber qual a principal iniciativa de prevenção de fraudes”, afirma a coordenado­ra-geral de pós-graduação do Ibmec/SP, Rina Pereira. Segundo ela, que dá cursos para as empresas, o objetivo é trabalhar os dilemas que as empresas têm em relação a corrupção

Custos. Patrícia Agra afirma que, apesar da corrida pela implementa­ção de programas de compliance, muitas companhias menores ainda estão fora desse universo. Isso porque a criação de códigos de conduta e todos os canais para evitar a corrupção custam caro. Pode variar entre R$ 500 mil e R$ 3 milhões, afirmam especialis­tas. “Infelizmen­te, muitas empresas ainda têm programas para inglês ver. A procura pela implementa­ção cresceu bastante, mas deveria ser maior”, diz Patrícia.

Segundo a coordenado­ra do Proinfo – departamen­to de pesquisa em governança e compliance – da Fundação Instituto de Administra­ção (FIA), Fábia Cunha, apesar de a legislação e a regulação nas áreas de governança terem melhorado significat­ivamente nos últimos anos, é preciso agora focar na execução – sobretudo na ponta da cadeia, o que abrange pequenas e médias empresas. “É preciso que haja um desdobrame­nto da cultura de compliance em toda a cadeia produtiva, chegando nos pequenos, nos fornecedor­es, na gestão de terceiros.”

Altit, da Mattos Filho, concorda. Mas ele vê avanços desde a Lava Jato. Segundo o advogado, durante muitos anos, as empresas compravam programas de compliance e engavetava­m. Ou seja, não havia efetividad­e nas regras. Hoje as corporaçõe­s estão de olho não só na questão da corrupção, mas como lidar com crises em geral. É o caso do acidente em Mariana e o incêndio em tanques de combustíve­l no Porto de Santos, em 2015.

“As empresas querem saber como atuar num momento de crise como esses e também se antecipar a esses problemas, serem proativos”, diz o sócio da Mattos Filho./

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO-18/8/2017 ?? Lava Jato. Operação levou à prisão importante­s executivos
FELIPE RAU/ESTADÃO-18/8/2017 Lava Jato. Operação levou à prisão importante­s executivos
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil