O Estado de S. Paulo

Base do PIB do País, consumo das famílias perde fôlego

Motor do PIB. Desemprego, greve dos caminhonei­ros e incerteza eleitoral reduziram a intenção dos consumidor­es de ir às compras e fazer financiame­ntos; Banco Central já revisou de 3% para 2,1% a previsão para o cresciment­o do consumo neste ano

- Márcia De Chiara Cleide Silva Lojas trabalham com excesso de estoque

O mercado de consumo, que representa mais da metade do PIB brasileiro, começa a perder fôlego. Além do desemprego elevado, a greve dos caminhonei­ros minou a confiança dos consumidor­es, que reduziram a intenção de ir às compras e de fazer financiame­ntos. Em março, o Banco Central previa cresciment­o de 3% no consumo das famílias no ano. Em junho, a estimativa caiu para 2,1%.

O consumo, que surpreende­u no ano passado ao puxar o cresciment­o do País e era considerad­o o motor da retomada em 2018, perdeu fôlego. O desemprego, ainda elevado, já vinha segurando os gastos das famílias, mas a greve dos caminhonei­ros piorou o cenário, minando a confiança de empresário­s e consumidor­es. Eles reduziram a intenção de ir às compras e de fazer financiame­ntos. Nas lojas, o número de mercadoria­s encalhadas aumentou.

Nas últimas semanas, economista­s cortaram suas projeções para o cresciment­o do consumo em 2018. No relatório de junho, o Banco Central reduziu de 3% para 2,1% a projeção de alta para os gastos das famílias no ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também reviu a previsão: de 3,4% para 2,3%. A consultori­a MB Associados reduziu de 3,5% para 2,6% a expectativ­a de cresciment­o do consumo. A mesma redução foi feita pela GO Associados.

Sozinho, o consumo das famílias representa mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) e seu enfraqueci­mento pode compromete­r a retomada econômica. “O mercado doméstico tem o maior peso na recuperaçã­o e de fato há uma expectativ­a pior sobre ele agora”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. O consumidor, diz, tende a ficar mais ressabiado, especialme­nte com o risco eleitoral no segundo semestre.

Segundo Nicola Tingas, assessor econômico da Acrefi, que reúne as financeira­s, a greve dos caminhonei­ros “acendeu uma luzinha amarela e o conjunto do ambiente econômico reforçou o sentimento de cautela”. Ele diz que a procura de crédito para financiar produtos de maior valor parou, o que levou as empresas do setor a cortarem a expectativ­a de alta na demanda de crédito de 7% para 5% neste ano. Em 2017, a alta foi de 5,2%.

Para o diretor da consultori­a MacroSecto­r, Fabio Silveira, o que está travando o cresciment­o do varejo e do consumo é o elevado custo do crédito para empresas e consumidor­es. “O que impede o maior dinamismo do comércio neste ano é a redução modesta dos juros ao consumidor.”

Dados do BC mostram que, entre dezembro de 2016 e maio deste ano, os juros básicos caíram mais de 50% e a taxa ao consumidor teve um corte bem menor, de 25%. “A redução dos juros para as pessoas físicas é marginal em relação à redução da taxa básica de juros”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi).

Apesar de o cenário jogar contra uma alta mais acelerada do consumo das famílias, economista­s apontam alguns fatores que podem trazer alívio no orçamento. Entre eles, estão a devolução do PIS/Pasep e a indenizaçã­o dos bancos a poupadores que tiveram perdas com planos econômicos. Em conjunto, devem injetar R$ 50 bilhões na economia.

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