O Estado de S. Paulo

Siglas de esquerda tratam Haddad como candidato

Líderes do PT, entretanto, têm ressalvas ao ex-prefeito e sustentam o discurso de que será Lula o nome para as eleições presidenci­ais

- Pedro Venceslau

Os partidos de esquerda que apresentar­am nomes na disputa presidenci­al – PDT, PCdoB e PSB – já consideram Fernando Haddad o virtual candidato do PT à Presidênci­a após os recentes sinais emitidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. O avanço do ex-prefeito de São Paulo, porém, é alvo de forte oposição interna no PT.

A indicação de que Haddad assumiu o posto de opção preferenci­al de Lula caso a candidatur­a do ex-presidente seja barrada pela Lei da Ficha Limpa é clara aos olhos dos antigos aliados: foi escolhido para ser advogado de Lula, passou a ter trânsito livre com o ex-presidente, entrou na corrente Construind­o um Novo Brasil, que é majoritári­a no PT. Além disso, foi o nomeado para representa­r Lula em uma conversa com o general Eduardo Villas Bôas – o comandante do Exército tem se encontrado com os principais pré-candidatos à Presidênci­a.

Além disso, Haddad tem viajado o Brasil na condição de coordenado­r do programa de governo do PT e mantém contato frequente com líderes de outros partidos. É como se fosse uma espécie de embaixador de Lula.

Para o presidente do PDT, Carlos Lupi, a escolha do PT foi feita. “O Haddad é o candidato do PT há mais de um ano. Ele foi escolhido por Lula. Quem quiser se iludir, que se iluda. Escreva, anote e depois me cobre.”

Questionad­o pelo Estado sobre uma eventual candidatur­a, Haddad respondeu de forma lacônica. “Não sou candidato”, afirmou o ex-prefeito, que disse que ingressou na corrente majoritári­a do PT a pedido de Lula.

Um dos focos de resistênci­a a Haddad, no entanto, vem justamente de São Paulo, cidade que foi governada por ele. Reservadam­ente, petistas paulistano­s dizem que o ex-prefeito se manteve distante do partido quando estava no poder. E temem que isso se repita caso ele chegue ao Palácio do Planalto.

A entrada na CNB aproximou Haddad de lideranças com trânsito na máquina partidária, como Rui Falcão e Emidio Souza. Um deputado petista que integra a direção nacional do partido disse que Lula costuma emitir sinais trocados e que, por isso, seria precipitad­o considerar Haddad como o plano B.

Esse mesmo petista avalia que o ex-prefeito está se expondo demais e considera o ex-governador baiano Jaques Wagner como o favorito de Lula. O problema é que Wagner resiste.

“Ele (Haddad) foi atrás da carteira da OAB para se apresentar como interlocut­or. Foi mais uma oferta que demanda. Também há sinais de outros. Não percebo sinalizaçã­o do próprio presidente”, disse Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, braço teórico do PT.

Assim como Haddad, Wagner também nega que possa disputar o Palácio do Planalto e repete o discurso da executiva petista de que não há uma plano B para Lula. Mesmo assim, o nome dele é citado por pessoas próximas ao ex-presidente como o preferido do líder petista.

Um sinal disso foi a decisão de entregar ao ex-governador da Bahia a missão de ler a carta que Lula escreveu para o lançamento de sua candidatur­a presidenci­al em um evento em Contagem, Minas Gerais. Mas Wagner desistiu em cima da hora de

fazer a leitura.

Procurada, a presidente do PT, senadora Gleisi Hofmann, disse, por meio de sua assessoria, que não trabalha com nenhum plano B e nem C para a eventualid­ade de Lula não poder entrar na disputa. A versão oficial do PT é de que Haddad foi convidado para ser advogado

de Lula para fazer articulaçõ­es institucio­nais da pré-candidatur­a do ex-presidente.

O partido argumenta ainda que Haddad precisa ter acesso a Lula para discutir o programa de governo do partido. O último encontro entre os dois ocorreu anteontem, na sede da Polícia Federal em Curitiba.

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DENIS FERREIRA NETTO / ESTADÃO Curitiba. Haddad deixa sede da PF após visitar ex-presidente na condição de advogado

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