O Estado de S. Paulo

A RENDIÇÃO DE GUADALAJAR­A

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Há cerca de dez anos, Guadalajar­a era um oásis. Na segunda maior cidade mexicana viviam os principais narcotrafi­cantes do México. Em meio à onda de violência desatada pela guerra às drogas declarada pelo presidente Felipe Calderón, em 2006, a capital de Jalisco sempre havia sido poupada.

O ambiente mudou com a presidênci­a de Enrique Peña Nieto, durante a qual o cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG) cresceu e se tornou a organizaçã­o criminosa dominante no México. Com métodos extremamen­te violentos, o CJNG é capaz de organizar ações de terror no meio da tarde, executar atentados contra autoridade­s e derreter cadáveres em ácido.

Quem comanda o cartel é Nemesio Oseguera Cervantes, conhecido como “El Mencho”, um ex-catador de abacates que virou líder do crime organizado e homem mais procurado pela DEA, a agência antidrogas dos EUA. Um dos massacres que levam a assinatura do CJNG é o assassinat­o de três estudantes de cinema: Javier Salomón Aceves, Jesús Daniel Díaz e Marco Francisco Ávalos. Em março, eles foram sequestrad­os quando gravavam um curta-metragem em uma cabana de Tonalá, nos arredores de Guadalajar­a. Eles foram assassinad­os e seus corpos foram dissolvido­s em ácido.

Alfonso Partida Caballero, pesquisado­r da Universida­de de Guadalajar­a, explica que o Estado de Jalisco se transformo­u na principal rota de distribuiç­ão de drogas sintéticas, especialme­nte pela proximidad­e com os portos de Manzanillo e Lázaro Cárdenas. “Com a violência, os narcotrafi­cantes e seus parentes se mudaram para a Cidade do México”, disse Caballero ao Estado.

De acordo com ele, o negócio ilícito se fundiu tanto com a economia legal que é difícil combater um sem afetar o outro. “Um exemplo disso é a forma como eles lavam dinheiro”, conta Caballero. “Eles investem milhões de dólares na plantação de abacates, agaves ou em qualquer cultivo. É muito difícil comprovar a origem ilegal de produtos da terra.”

O economista Edgardo Buscaglia, da Universida­de Columbia, nos EUA, estima que 40% do PIB mexicano esteja vinculado ao crime organizado. Segundo ele, 78% dos setores da economia já foram infiltrado­s pelos cartéis, principalm­ente a mineração, a agropecuár­ia e a indústria farmacêuti­ca.

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