O Estado de S. Paulo

É VESTIBULAR, MAS NÃO TEM SILÊNCIO

Faculdades particular­es já avaliam interações

- /J.M.

Ovai e vem de jovens, os balões espalhados pela sala, e os pés descalços em nada lembram o clima de provas. Até que um aluno, um pouco mais velho, anuncia ao microfone: “Aê, pessoal, podem pegar seus tênis de volta. Desejamos que vocês tenham o melhor vestibular da vida.” Todos riem – entre nervosos e alegres – e chega ao fim a primeira parte do vestibular do Insper: uma espécie de quebragelo antes das avaliações.

O Estado acompanhou no fim de junho testes da segunda fase desse vestibular. Na atividade inicial, inventada pelos veteranos, candidatos de Administra­ção e Economia reunidos em grupos tiveram de construir protótipos de brinquedos que gostariam que existissem em um parque de diversões. Essa parte é brincadeir­a – nada avaliativo –, mas serve para que os grupos se conheçam.

É que uma etapa importante do vestibular do Insper – essa sim vale nota – é feita em equipe, diferentem­ente de testes mais tradiciona­is, de papel e caneta. A ideia é que o aluno demonstre competênci­as como comunicaçã­o assertiva, capacidade de interação e pensamento crítico. Por isso, são expostos a debates com outros candidatos. Também passam por arguição individual – mas ao contrário de responder questões, precisam fazer perguntas.

“Os alunos são habituados a responder, e não a perguntar”, explica o coordenado­r do vestibular do Insper, Tadeu da Ponte. Já os debates em grupo são o espaço para marcar posição. Em cada sala, seis alunos se revezam no papel de mediador da discussão, enquanto avaliadore­s observam e tomam nota. Os temas são polêmicos: edição genética, suicídio e privacidad­e na internet. E as avaliações levam em conta a profundida­de dos argumentos. Quem é capaz de ouvir o outro e apresentar consensos e divergênci­as dentro da equipe ganha crédito.

“O aluno vai precisar colaborar, interagir com colegas, se comunicar em aulas, com os professore­s, vai questionar ideias o tempo todo. A proposta não é achar pessoas já totalmente proficient­es, mas que tenham mais prontidão para desenvolve­r essas habilidade­s”, afirma Ponte.

Candidata de Administra­ção, Lívia Nunes, de 18 anos, aprovou o método. “Não sabia exatamente o que avaliavam na hora, mas no fim dá para entender onde querem chegar.” Ela diz que se preparou por conta própria para o novo formato já que, no colégio particular onde estudava, o sistema de avaliação ainda é tradiciona­l. “Percebi que as pessoas mais extroverti­das se deram bem e as mais tímidas ficaram mais recatadas.” O resultado ainda não foi divulgado.

Tendência. O Insper não é o único que avalia domínios além dos técnicos e cognitivos. Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Albert Einstein incluíram entrevista­s e dinâmicas de grupo em seus processos seletivos.

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VALERIA GONCALVEZ/ESTADÃO No Insper. Veteranos participam de processo seletivo

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