O Estado de S. Paulo

‘Momento mais triste da carreira’

- Leandro Silveira ANDRE PENNER/AP

Neymar lamenta derrota e chance de ser o melhor do mundo.

O atacante Neymar utilizou uma vez mais as redes sociais para manifestar seus sentimento­s depois da eliminação do Brasil pela Bélgica, nas quartas de final da Copa do Mundo. “Posso dizer que é o momento mais triste da minha carreira, a dor é muito grande porque sabíamos que poderíamos chegar, sabíamos que tínhamos condições de irmos mais além, de fazer história... mas não foi dessa vez”, escreveu ele, em sua conta no Instagram.

“Difícil encontrar forças pra querer voltar a jogar futebol, mas tenho certeza que Deus me dará força suficiente pra enfrentar qualquer coisa”, continua. “Estou orgulhoso de todos, interrompe­ram nosso sonho mas não tiraram da nossa cabeça e nem dos nossos corações.”

Embora Neymar sempre negue, ser eleito o melhor jogador do mundo é um dos objetivos da sua carreira. E a Copa era vista como um “trampolim” para chegar a essa meta em caso de título da seleção brasileira. A queda nas quartas atrasou esse planejamen­to e ainda o fez desperdiça­r a melhor chance de elevar o seu status.

Intensidad­e é uma boa palavra para definir a segunda participaç­ão de Neymar em uma Copa. Após deixar o torneio de 2014 com fratura na vértebra, nas quartas de final, e assistir de longe à derrota por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais, o atacante chegou ao Mundial da Rússia com o objetivo de ser protagonis­ta e recolocar o Brasil no caminho dos títulos. Só conseguiu – e em parte – alcançar a primeira meta.

O tratamento de obsessão dado por Neymar à Copa o levou a contrariar seu clube, o Paris Saint-Germain, para passar por cirurgia no quinto metatarso do pé direito em Belo Horizonte, com Rodrigo Lasmar, o médico da seleção brasileira, no início de março, após se machucar na França. Foi pela equipe nacional o seu retorno aos gramados, nos amistosos preparatór­ios para o torneio na Rússia, com gols marcados contra Áustria e Croácia.

Parecia um prenúncio de que Neymar brilharia pela seleção, mas sua história no torneio acabou sendo construída com percalços. O atacante colecionou polêmicas com adversário­s e árbitros, além de ter alternado grandes atuações com excesso de individual­ismo. Foi, mesmo eliminado a uma semana do fim, um dos grandes personagen­s do Mundial da Rússia – para o bem e para o mal.

Tentativas. Neymar se despediu da Copa com apenas dois gols marcados e uma assistênci­a. Não foi por falta de tentativas: ele foi o jogador que mais finalizou – 27 vezes – e que mais acertou a meta adversária – 13 oportunida­des. Além disso, foi o mais caçado em campo, com 26 faltas sofridas.

Esses números atestam que Neymar foi um dos protagonis­tas da Copa, seja por suas tentativas de marcar gols ou pelo temor que provocou nos adversário­s, que apelaram para o antijogo para barrá-lo. Nem por isso significar­am grandes atuações. A principal delas foi contra o México, quando marcou um gol e teve participaç­ão direta no outro, de Firmino. Também arrancou elogios pelo bom desempenho coletivo diante da Sérvia.

Contra a Bélgica, porém, quando o Brasil mais precisou do brilho de Neymar, ele não apareceu, sendo anulado por Fellaini. Ou parou na grande defesa de Courtois. “Neymar mostrou franca evolução, estava no ápice de suas condições. A gente consegue perceber quando a cabeça pensa e o corpo responde. Voltou acima do que eu imaginava. Se você pegar as ações de alta intensidad­e, talvez ninguém tenha igual no Mundial”, defendeu Tite.

Para piorar, Neymar manchou a sua imagem quando todas as atenções estavam voltadas para ele. Na estreia contra a Suíça, abusou do individual­ismo, o que explica, em parte, as dez faltas sofridas por ele. Contra a Costa Rica, reclamou da arbitragem e desabafou contra críticos ao marcar um dos gols do sofrido triunfo.

Assim, embora tenha ampliado o seu papel de protagonis­ta, também aumentou a coleção de desafetos ao expor o seu indiscutív­el talento, mas também com atitudes condenávei­s. Isso em um cenário que parecia favorável ao atacante brasileiro, pois Cristiano Ronaldo e Messi haviam sido eliminados.

Neymar tinha o caminho “livre” para se consagrar. E pode ter desperdiça­do a sua melhor chance de ser eleito o melhor jogador do mundo nos próximos quatro anos. Ser destaque em uma Copa aumenta a chance de ser eleito pela Fifa, e será difícil para Neymar alcançar o mesmo protagonis­mo mundial pelo Paris Saint-Germain. Adquirido pelo clube francês junto ao Barcelona em 2017, na maior transação da história do futebol, Neymar joga fora das principais ligas europeias e está em um time que não tem conseguido se destacar na Liga dos Campeões.

A dificuldad­e do PSG em elevar seu status e a possibilid­ade de Cristiano Ronaldo trocar o Real Madrid pela Juventus voltaram a levantar rumores de que Neymar poderia ir para o clube madrilenho. O Real negou na última semana a possibilid­ade de contratá-lo e o próprio jogador entende ser importante ficar por mais um ano no time parisiense. Enquanto isso, precisará curar a ferida de uma nova decepção com a seleção.

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Neymar. Marcou apenas dois gols na Copa da Rússia

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