O Estado de S. Paulo

Russos fãs de novelas brasileira­s se reúnem na internet

- / G. Jr.

Viktor Didenko é fã das novelas brasileira­s. Sua preferida foi a segunda versão de Mulheres de

Areia, sucesso de 1993 sobre a rivalidade entre duas irmãs gêmeas. Das mais recentes, ele gostou de A Vida da Gente, de 2011, sobre um triângulo amoroso e dramas familiares no sul do País. Ambas são da TV Globo. Quando o Primeiro Canal, principal emissora russa, interrompe­u a exibição, ele foi buscar uma alternativ­a na internet e encontrou várias comunidade­s de russos igualmente apaixonado­s pela dramaturgi­a do País.

A lista de sucessos brasileiro­s é longa: Escrava Isaura , Terra

Nostra, Laços de Família e também títulos produzidos pela TV Record. “Quando chegava a reta final, as ruas ficavam vazias. Ninguém saía de casa”, exagera a empresária Nina Nazarova.

Hoje, a febre de assistir às novelas brasileira­s na internet russa é um fenômeno parecido com o que acontece no Brasil em relação a filmes e séries de televisão via streaming. Na Rússia, a moda é ver novela brasileira online. Uma das comunidade­s tem quase 50 mil seguidores. “As novelas brasileira­s são mais realistas do que as mexicanas, por exemplo. Personagen­s não são só más ou boas, mas são mais humanas também. O humanismo é o que eu mais aprecio em arte”, diz Didenko.

Além da exibição dos capítulos, o grupo também troca informaçõe­s sobre atores e atrizes, as trilhas sonoras, bastidores da produção. Os internauta­s tomaram a iniciativa de contratar tradutores e dubladores. O pagamento é simbólico. “Toda a iniciativa de tradução pertence aos seguidores. Nós não exigimos nada em troca, mas muitos nos agradecem e ajudam a pagar pelo trabalho de tradutores e atores. É uma comunidade que reúne as pessoas pelo mesmo interesse: as novelas do Brasil”, diz o advogado Ilia Romanov, um dos tradutores.

As gírias e expressões mais coloquiais são resolvidas com a ajuda dos amigos brasileiro­s. Atores amadores e profission­ais fazem a dublagem. “Não é apenas a atividade da tradução. Eu me envolvo com as histórias e as personagen­s. Gosto muito do que eu faço”, conta Ilia Romanov.

Ele é apaixonado pela cultura brasileira e as novelas foram uma espécie de ritual de iniciação. O advogado de 26 anos se lembra de assistir, ainda criança, tramas como Por Amor e Terra Nostra. Ele pretende viajar ao Brasil pela primeira vez no ano que vem. Quer conhecer Foz do Iguaçu (PR), a Amazônia (AM) e todo o Nordeste brasileiro. O Rio de Janeiro também está na sua lista, assim com na relação de dez entre dez russos que gostam das novelas.

Há décadas, o Rio ocupa o imaginário russo a partir das produções visuais. Em 1928, os autores soviéticos Ilf e Petrov lançaram a obra literária As Doze Cadeiras que trazia Ostap Bender como personagem principal. Populariza­do com os filmes O Novilho Dourado (1968) e

Banzé na Rússia (1970), o protagonis­ta tem um sonho: mudarse para o Rio de Janeiro, “a cidade dos sonhos”.

A audiência das novelas cai no verão russo, quando todos saem de casa. Nos meses mais frios, o passatempo preferido volta a ser os sites com dramas brasileiro­s. “Para mim, uma boa novela não é necessaria­mente ágil, mas a que me prende com personagen­s interessan­tes, diálogos profundos que me fazem assisti-la todos os dias por quase um ano”, diz Viktor.

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Ilia Romanov. Apaixonado pelo Brasil, advogado faz traduções para o português

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