O Estado de S. Paulo

Polêmica, Copa do Catar deve render US$ 6 bi para a Fifa

- Jamil Chade

Considerad­a por muitos dentro da Fifa como o “maior erro” da história da entidade, a Copa de 2022 no Catar já é uma realidade. Enquanto a bola rola nos estádios russos, um pequeno exército de 180 pessoas enviadas pelo país árabe observa cada detalhe da organizaçã­o para implementa­r um projeto similar para o próximo Mundial.

Fora dos estádios, os negócios se proliferam e os contratos estão sendo fechados numa velocidade cada vez maior.

Documentos internos da entidade obtidos com exclusivid­ade pela reportagem do Estado revelam que a Fifa espera atingir uma receita recorde de US$ 6,6 bilhões (R$ 26 bilhões) com a Copa de 2022. O valor é US$ 1 bilhão (R$ 3,86 bilhões) a mais do que se garantiu na edição de 2014, no Brasil. No informe confidenci­al, a entidade qualifica a previsão como “realista e ambiciosa”. Mas admite que 70% dos contratos com a Fifa já estão fechados. “Estamos trabalhand­o à toda velocidade”, disse ao Estado o CEO da Copa de 2022, Hassan Al Thawadi.

O Mundial de 2022 tem sido alvo de polêmicas desde o seu anúncio, em 2010, de que o Catar seria a sede, superando as candidatur­as de EUA e Austrália. Desde então, o FBI, a Justiça da Suíça e a França investigam o processo de escolha da Fifa. O próprio expresiden­te da CBF, Ricardo Teixeira, é acusado de ter vendido seu voto para o Catar.

As críticas de entidades de direitos humanos e mesmo governos estrangeir­os chegaram a levantar a possibilid­ade de que o evento poderia mudar de sede.

Ao Estado, o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter deixou claro que todo o caos gerado com as prisões dos delegados da entidade apenas ocorreu por causa da escolha do Catar em detrimento dos americanos.

“Isso ocorreu por causa da intervençã­o da política francesa, do presidente da França (Nicolas

Sarkozy), que se encontrou no Palácio do Eliseu com o príncipe herdeiro do Catar e que hoje é o emir”, contou. “Depois daquilo, Michel Platini veio até mim e me disse: ‘Desculpe-me Sepp, não posso garantir mais meus votos para os EUA’. Se isso tivesse ocorrido, não estaríamos nessa situação caótica como está ocorrendo nos EUA, com o julgamento”, apontou.

A escolha não gerou apenas um caos legal. A Fifa passou a ser conivente a um sistema trabalhist­a acusado de violar direitos humanos e, diante do calor do verão no Golfo, a Copa teve de ser postergada para novembro, afetando o calendário internacio­nal do futebol. O que está certo, porém, é que a Copa não terá 48 seleções, como queria Gianni Infantino, presidente da entidade. Os responsáve­is do país árabe indicaram que são contrários a dividir a sede – e uma ampliação significar­ia realizar partidas em outros países da região. Com a crise diplomátic­a no Golfo Pérsico, esta possibilid­ade não é realista.

Enquanto isso, em Moscou, o Catar iniciou ontem uma ampla operação de divulgação do Mundial de 2022. No parque Gorky, os organizado­res montaram uma Bayt Al Sha’ar, a tradiciona­l tenda árabe, para se comunicar com o mundo. Um museu flutuante, uma exposição e outros eventos estão programado­s.

“É importante que possamos dar ao torcedor um gosto real do que vem pela frente quando ele visitar o Catar para a Copa”, disse Fatma Al Nuaimi, diretora de comunicaçã­o das exposições. “Vamos mostrar o que já foi feito na preparação para o evento e também queremos introduzir o torcedor ao país.”

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GRIGORY DUKOR/REUTERS Infantino. Presidente da Fifa já trabalha pensando na próxima edição do Mundial

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