Robôs nas eleições
Força-tarefa busca evitar manipulação política nas redes
As brigas acaloradas sobre política nas redes sociais deixaram o desenvolvedor paulista Thiago Rondon intrigado no fim do ano passado. Ele percebeu que muitos brasileiros não sabiam que trocavam farpas e xingamentos com robôs na internet. Os chamados bots, que compartilham postagens, fazem acusações e até atacam ativistas, invadiram esses sites nos últimos anos. Para evitar que as pessoas fossem enganadas no período pré-eleições, Rondon desenvolveu o PegaBot, um serviço que ajuda a descobrir se um usuário do Twitter é humano ou não. É uma entre várias novas ferramentas criadas no País para reduzir o impacto negativo que a tecnologia pode ter nas eleições.
A preocupação de Rondon é justificada. Mundialmente, os bots ganharam destaque após serem apontados como um recurso usado em tentativas de manipulação política nas redes sociais.
Uma investigação do Twitter, por exemplo, mostrou que mais de 50 mil robôs virtuais, controlados por russos, estiveram engajados numa campanha para favorecer o então candidato Donald Trump durante as eleições dos EUA. Na ocasião, eles retuitaram mensagens publicadas por Trump na rede social quase 500 mil vezes, segundo o Twitter.
O Twitter não é a única plataforma onde isso ocorreu. No Facebook, maior rede social do mundo com mais de 2 bilhões de usuários, o avanço dos bots também tem sido observado com preocupação – e foi apontado também como uma forma usada por russos para tentar influenciar eleitores nos EUA.
No Brasil, a preocupação cresceu depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu autorizar, pela primeira vez em 2018, a propaganda eleitoral na internet: entre especialistas, há a apreensão de que os bots sejam usados para ampliar ainda mais o alcance e a discussão sobre essas propagandas.
Hoje, segundo a pesquisa do TIC Domicílios 2016, divulgada em setembro do ano passado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI), 61% dos brasileiros estão conectados – em 2014, esse número era de 55%. “Essa eleição é, sem dúvida, o início de toda uma era de novas campanhas políticas”, diz Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab, centro de pesquisa de direito e tecnologia. “As mudanças ampliam os diálogos, mas também trazem novas técnicas de manipulação.”
Checagem.
No site do PegaBot, de Rondon, é possível avaliar qualquer conta pública do Twitter. O veredicto é dado por um algoritmo de inteligência artificial, responsável por traçar o comportamento do usuário e dizer a probabilidade de um robô estar por trás do perfil. Para isso, o programa leva em consideração fatores que incluem com quem aquele perfil se relaciona, que tipo de postagens costuma publicar, o nível de emoção que coloca em suas mensagens e o tempo entre um tuíte e outro.
Rondon afirma que a principal intenção é mitigar os riscos de interferências nas eleições. “Se as pessoas se conscientizarem da existência dos robôs nas redes, podem ficar mais preparadas para o debate nesse período”, diz.
No site do PegaBot, Rondon faz questão de
Escolha. Além de evitar a manipulação, há quem esteja preocupado em auxiliar o eleitor a eliminar a dúvida sobre em quem votar. A rede Minha Campinas, formada por professores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pretende lançar, em agosto, uma plataforma para ajudar a escolher candidatos a deputados estaduais e federais.
O site exibe um questionário com perguntas sobre suas posições sobre vários temas, como aborto, legalização da maconha e reforma trabalhista. As pessoas votam e, ao final do quiz, o serviço indica os candidatos com posições similares.
A rede já havia testado o projeto em uma escala menor nas últimas eleições municipais, em 2016. Na ocasião, o site Vota Campinas registrou mais de 7 mil cruzamentos dos bancos de dados de eleitores e candidatos. A expectativa é que ao menos 150 mil pessoas usem o Vota SP nas eleições deste ano.