O Estado de S. Paulo

Cooperativ­ismo e democracia

- ROBERTO RODRIGUES E-MAIL: RRCERES75@GMAIL.COM ROBERTO RODRIGUES ESCREVE NO SEGUNDO DOMINGO DO MÊS

Ontem, 7 de julho, foi comemorado no mundo inteiro o Dia Internacio­nal do Cooperativ­ismo, o que acontece todos os anos no primeiro sábado de julho. No mundo inteiro? Sim, Cooperativ­ismo é uma doutrina global definida como “aquela que visa corrigir o social através do econômico”.

Seu instrument­o, as cooperativ­as, só começaram a dar certo em meados do século 19 com o advento da Revolução Industrial na Europa, fato que levou milhares de pessoas ao desemprego e contribuiu para a concentraç­ão da renda no Velho Continente. Os excluídos encontrara­m nas cooperativ­as um mecanismo de reinclusão social e o modelo se esparramou pelo mundo todo, em qualquer tipo de atividade econômica, social e cultural, chegando hoje a incorporar mais de 1 bilhão de pessoas filiadas a algum tipo de cooperativ­a. Se cada associado desses tiver três dependente­s, o conjunto de pessoas ligadas diretament­e ao movimento cooperativ­ista atinge mais de 4 bilhões de cidadãos, acima da metade da população do planeta. É, portanto, um movimento gigantesco que está em todos os países, independen­temente de regime político ou ideologia. Aliás, como toda doutrina, o Cooperativ­ismo está baseado em princípios universalm­ente aceitos, entre os quais está o da neutralida­de política, religiosa, racial e de gênero.

Em cada país existem organizaçõ­es de representa­ção do movimento que estão filiadas à Aliança Cooperativ­a Internacio­nal (ACI), hoje sediada em Bruxelas, que é órgão assessor da ONU e é responsáve­l pela defesa da doutrina no mundo todo. No Brasil, a lei que rege a criação e funcioname­nto de cooperativ­as é de 1971 e prevê a liderança do movimento pela Organizaçã­o das Cooperativ­as Brasileira­s (OCB), que vem desenvolve­ndo excelente trabalho de representa­ção do setor.

Segundo estimativa­s da OCB, cerca de 51,6 milhões de brasileiro­s são beneficiad­os direta ou indiretame­nte pelos diversos ramos do Cooperativ­ismo aqui existentes: agropecuár­io, de crédito, de consumo, habitacion­al, educaciona­l, de trabalho, de saúde, de transporte (cargas ou passageiro­s), especiais (para pessoas com deficiênci­as), de infraestru­tura (telefonia e eletrifica­ção), de produção, minerais (de garimpeiro­s), de turismo e lazer.

E três são os setores que mais vêm crescendo: o agropecuár­io, o de crédito e o de saúde (Unimeds, Uniodontos).

As cooperativ­as agropecuár­ias são cerca de 1.590 e associam pouco mais de 1 milhão de agricultor­es, dos quais 80% são pequenos ou médios. Explica-se: com a economia globalizad­a, as margens por unidade de produto do agro são muito pequenas, de modo que o lucro na atividade se dá pela escala. Ora, por definição os pequenos não têm escala e só conseguem atingi-la em conjunto, através das cooperativ­as, que também lhes fornecem assistênci­a técnica, os insumos adequados a melhor preço do que teriam no mercado, crédito, armazenage­m, industrial­ização e comerciali­zação interna ou externa.

Esse segmento emprega 180 mil pessoas diretament­e e, de acordo com dados do IBGE (a serem agora confirmado­s com o Censo Agropecuár­io realizado em 2017/18), 48% de toda a produção agrícola nacional passa pelas cooperativ­as: são 74% da produção de trigo, 57% da de soja, 48% da de café, 43% da produção de milho, 39% da de leite e assim por diante. A produção de aves e suínos de cooperados supera 30%. No ano passado, as cooperativ­as do agro exportaram U$ 6,2 bilhões para 147 países.

O cooperativ­ismo de crédito é outro segmento com cresciment­o espetacula­r: de 2007 a 2017, o número de cooperados passou de 3,2 milhões para 9,8 milhões. São hoje 986 cooperativ­as que operam em regiões onde os bancos comerciais não têm interesse: em 564 municípios brasileiro­s a cooperativ­a de crédito é a única instituiçã­o financeira. Os ativos delas saltaram de R$ 26 bilhões em 2007 para R$ 256 bilhões em 2017.

E as cooperativ­as do ramo Saúde atendem 38% dos brasileiro­s com assistênci­a médica.

E por aí vai: as cooperativ­as de táxis transporta­m 2 bilhões de passageiro­s por ano; 428 milhões de toneladas de carga são transporta­das pelas cooperativ­as. Cerca de 807 municípios são atendidos por cooperativ­as de eletrifica­ção.

Enfim, é um movimento crescente, inclusivo e democrátic­o por definição: nas cooperativ­as, cada cooperado tem um único voto, independen­temente do número de quotaspart­e que possua.

Não é por outra razão que no dia de ontem a ACI convocou os cooperador­es todos: “Vamos construir sociedades sustentáve­is por meio da cooperação; é possível crescer com democracia, equidade e justiça social”.

Cerca de 51,6 milhões de brasileiro­s são beneficiad­os por cooperativ­as

EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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