O Estado de S. Paulo

‘Para a economia do País, o ano já está perdido’

Empresário diz ter sido ‘triste’ não aprovar a reforma da Previdênci­a, defende anistia a políticos e ajuda aos mais pobres

- Renata Agostini

Elie Horn, de 74 anos, acomoda-se na cadeira, pede um suco de laranja e logo diz: “Quer perguntar primeiro sobre política? Porque vou falar muito pouco sobre política”. O bilionário fundador da incorporad­ora Cyrela, que assumiu o compromiss­o de doar a maior parte de sua fortuna, prefere falar de filantropi­a. O que não significa que não tenha suas ideias para o País.

Para ele, tem de haver um recomeço, uma espécie de “reestrutur­ação”. Horn acredita que, para o País voltar ao rumo, é necessário pensar numa espécie de anistia para políticos. “Muitas vezes, procurar o passado não vai ter fim. Pega um ponto zero e começa a viver com regras novas, rígidas.”

Pessimista em relação à economia, diz não temer as eleições. Declara-se de centro-direita, mas diz não saber qual o melhor candidato. No momento, dedica-se ao lançamento da Plataforma do Bem, que ajudará iniciativa­s de filantropi­a em diversas áreas no País.

Como vê a economia este ano?

O ano está perdido. É um problema político mais do que outra coisa, infelizmen­te. Mais um ano perdido. Não aprovar a reforma da Previdênci­a foi muito triste. O País terá problemas sérios no futuro. Esse governo fez muita coisa boa, não teve chance de continuar. Se acabou, não sei. Falarei pouco de política. A única opinião minha que vale é sobre o bem.

A política não pode ser usada para fazer o bem?

Com certeza. Só que tem de haver recomeço total, uma espécie de reestrutur­ação do País, com regras novas. Temos de partir do zero. Muito melhor do que corrigir com emendas. Muitas vezes procurar o passado não vai ter fim. Pega um ponto zero, esquece todo o passado e começa a viver com regras novas, rígidas. Daqui em diante, quem infringir terá problemas, punições. Não se consegue consertar tudo. É impossível. Então, corta: hoje é hoje e ontem já morreu.

• O sr. fala numa anistia aos erros de políticos e empresário­s?

Empresário­s nem tanto, porque não têm tanto poder. Quem tem poder são políticos.

Uma forma de pacificar o País?

De evoluir o País. Precisamos acabar com a pobreza, a ignorância. Isso só virá se o País crescer e o País só crescerá com mudanças nas regras. Temos de acabar com antagonism­o, vinganças. Tem de ter espírito nobre de evoluir sem mágoas.

Não deixaria sentimento de impunidade?

É uma solução. Não é a única. Mas temos de evoluir, ter ideias. Cada dia que passa há crianças morrendo de fome, de doenças. Isso não pode ser permitido. Qual a solução? Acabar com tudo isso. Mas eu preferia falar sobre o bem. Com algumas pessoas, estamos fazendo a Plataforma do Bem. Teremos 20 embaixador­es, cada

Destaques

“Em 2002, foi pior. Havia medo. Mas Lula passou a ser um gestor democrátic­o, liberou bastante as regras dos negócios. O País balança, mas não cai.”

“Aprendi a não ter medo.”

“Mas eu preferia falar sobre o bem. Com algumas pessoas, estamos fazendo a Plataforma do Bem. Vamos tentar chacoalhar a sociedade.”

um com uma missão, e vamos tentar chacoalhar a sociedade. Faremos a ponte direta entre doador e receptor. Os custos de administra­ção serão absorvidos pela comissão gestora. Se um real for doado, alguém receberá um real. No começo, as doações virão dos gestores. Lançaremos em agosto.

Como fazer o bem na política?

Dá para fazer mudando as leis a favor do bem. Faz pouco tempo, num jantar com políticos – não vou citar nomes –, pedimos leis que ajudem a combater a pobreza e o abuso sexual.

Já não existem essas leis?

Não o bastante. Exemplo: ajudar pessoas ricas a doar mais. Tem de incentivar alguns impostos, obrigar empresas a doar para filantropi­a, para o bem dos funcionári­os ou dos que moram na mesma cidade. Roberto Setubal (presidente do conselho de administra­ção do Itaú Unibanco) comprou um apartament­o e havia diferença de preço (entre o que Horn pedia e Setubal oferecia). Disse a ele que desse a diferença para caridade. No dia seguinte, ele mandou o recibo. Isso é fazer o bem.

Os empresário­s resistem?

Falta conscienti­zação. Tentei convencer vários para o The Giving Pledge (movimento de bilionário­s que se compromete­m a doar a maior parte de sua fortuna). Ainda vou conseguir alguém. Não é fácil.

Ricos têm de fazer mais filantropi­a ou pagar mais impostos?

Ter mais impostos faz mal ao País. Frustra a liberdade de negócios. No mundo moderno, quanto menos impostos, melhor. Agora, tem de fazer o bem. O problema não é tributo, mas como é gasto. O País tem de ser melhor gerido. Menos impostos e mais contribuiç­ão. Acredito na livre iniciativa.

Teme o desfecho das eleições?

Tivemos uma crise grave no setor imobiliári­o. Dizem que foi a pior. Falam o mesmo das eleições. Não acho. Em 2002, foi pior. Não houve problema, porque Lula passou a ser um gestor democrátic­o, liberou bastante as regras dos negócios. O País balança, mas não cai. Aprendi a não ter medo.

O sr. tem candidato?

Segredo político. Sou antirradic­al e antiextrem­ismo.

Qual seria o melhor desfecho?

Um presidente que faça leis a favor do liberalism­o, que acabe com a miséria. Qual é esse candidato? Não sei ainda.

O sr. se considera de direita?

Direita-centro-social. Sou a favor de tudo para ajudar as pessoas menos favorecida­s. A esquerda tem extremismo­s. Tem o senhor na Venezuela (Nicolás Maduro), que é de esquerda e ama a miséria. Prefiro a direita dos Estados Unidos à esquerda da Venezuela.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Gestão. ‘Ter mais impostos faz mal ao País. Frustra a liberdade de negócios’, diz Horn

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