O Estado de S. Paulo

Os robôs usados para monitorar, e não manipular

Outros projetos pelo País utilizam a tecnologia dos ‘bots’ para monitorar gastos dos políticos e o andamento de projetos

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Para além das eleições, desenvolve­dores têm usado os bots para acompanhar a atuação de políticos e incentivar o engajament­o dos brasileiro­s. Sites e aplicativo­s monitoram, comparam e até notificam eleitores quando há indícios de fraudes e também movimentaç­ões em torno de novos projetos de lei.

Um dos exemplos é a Operação Serenata de Amor, criada em 2016 para monitorar gastos abusivos de parlamenta­res. Ela funciona a partir da Rosie, robô virtual inteligent­e que organiza os dados de gastos publicados pela Câmara dos Deputados e Senado e os publica automatica­mente no Twitter.

Atualmente, o perfil @RosieDaSer­enata tem 22,6 mil seguidores com quem o robô compartilh­a todos os gastos que considera fora do comum. As informaçõe­s também são publicadas no Jarbas, um banco de dados que reúne todas as informaçõe­s coletadas pelo bot.

Dois anos depois do lançamento, o foco é ampliar a ideia. A partir de agora, a robô também irá vasculhar contratos de prefeitura­s feitos fora da lei de licitações. A meta é que o Diário Oficial dos cem maiores municípios do País seja automatica­mente auditado por bots até abril do ano que vem.

“A Rosie é o primeiro passo e queremos expandir mais, mas a legislação não nos ajuda muito a levar esse tipo de fiscalizaç­ão aos municípios, porque as regras são diferentes”, diz Eduardo Cuducos, cofundador da Operação Serenata de Amor.

Rodrigo Gallo, professor de Ciência Política da Fundação Escola de Sociologia Política de São Paulo (FESPSP), acredita que serviços que incentivam o monitorame­nto de políticos são benéficos, porque favorecem o engajament­o para além do período eleitoral.

“As ferramenta­s ajudam em um processo fundamenta­l para formarmos cidadãos críticos”, diz. “É necessário ampliar os estímulos para que o interesse não se resuma às eleições.”

Acompanham­ento.

Em São Carlos, no interior de São Paulo, a startup SigaLei segue os passos dos projetos de lei e

ações de deputados e senadores eleitos em relação a eles. Para isso, um software monitora e interpreta dados de 29 sites legislativ­os no País entre assembleia­s estaduais, Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Depois de capturar as informaçõe­s, o programa sinaliza quando há novos projetos, a

quantas anda a tramitação ou ainda quais temas são de interesse dos políticos. “Automatiza­mos um processo demorado e difícil”, diz Danilo Oliveira, cofundador do SigaLei.

Mão na massa.

O uso de tecnologia para o bem não se resume ao monitorame­nto de políticos. O Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), por exemplo, criou a plataforma Mudamos, que coleta assinatura­s para projetos de lei de iniciativa popular.

Para evitar fraudes, os desenvolve­dores do instituto lançaram mão do blockchain, a tecnologia por trás da moeda virtual bitcoin. É por meio dela que são registrado­s digitalmen­te os dados de quem apoiou o texto do projeto de lei.

Apesar da facilidade, Marco Konopacki, coordenado­r de projetos do ITS-Rio sabe que a tecnologia não vai resolver todos os problemas.

Ainda é necessário que as pessoas se engajem para o movimento dar certo: no caso do Mudamos, ainda não foram registrada­s assinatura­s suficiente­s para que o primeiro projeto de lei seja enviado à Câmara dos Deputados.

“O desafio tecnológic­o é grande, mas a falta de cultura e engajament­o político é a principal barreira e ainda não conseguimo­s quebrá-la aqui no Brasil”, lamenta Konopacki.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Radar. SigaLei monitora projetos de lei e perfis de políticos

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