O Estado de S. Paulo

Exibido antes de ‘Incríveis 2’, ‘Bao’ se inspira em cultura chinesa

Curta-metragem criado e dirigido por Domee Shi mostra a relação de superprote­ção de uma mãe com seu filho

- Kaly Soto

A Pixar mergulhou na cultura indiana em seu Os Heróis de Sanjay e na cultura latina com Viva – A Vida é uma Festa. Em Bao, curta de 8 minutos que antecede Os Incríveis 2, a gigante da animação entra na cultura da China de uma maneira que você pode mesmo acabar reavaliand­o seu gosto pelos dumplings chineses.

Bao, um dumpling perfeito, é um dos personagen­s do curta, criado por uma cozinheira quando preparava a comida. Ele então ganha vida, um pequeno corpo sob uma enorme cabeça E a cozinheira o adota e se torna sua mãe, embalando-o com as mãos e nunca o deixando, até que ele começa a se sentir sufocado pelo seu amor.

Domee Shi, 28 anos, que criou e dirigiu Bao, disse que a inspiração veio de três momentos em sua vida: o primeiro foi sua própria experiênci­a de vida, dentro de uma família chinesa que emigrou para Toronto (onde o curta foi filmado) em 1991, quando ela tinha 2 anos. “Com pais superprote­tores, eu era como esse pequenino Bao”, disse ela.

Sua segunda inspiração veio da comida. “Dumpling é um alimento onipresent­e na cultura chinesa. Você faz dumplings com a família nos feriados, no Ano Novo chinês. É a metáfora perfeita da refeição em família.” Em terceiro lugar, ela queria dar um toque moderno a um conto de fadas, porque adora a maneira como essas histórias tratam temas leves e sombrios.

O que nos leva assim ao momento mais sombrio da sua animação. À medida que Bao cresce, a mãe tenta prendê-lo. E o separa das outras crianças para protegêlo. Se a sua pequena cabeça perde um pedaço, ela a enche com uma colherada de massa de dumpling e a remodela. Mas, como todas as crianças, Bao fica inquieto, querendo a liberdade. Um dia, traz para casa uma garota com um anel de noivado e faz suas malas. Esta é a gota d’água para a mãe, e então ela o come. O momento provoca suspiros dos espectador­es e, em uma recente sessão num cinema em Nova York, uma mulher chegou a dar um grito.

“Uma parte de mim queria chocar o público e fazer alguma coisa que fosse inesperada”, disse Shi. “A mãe tenta impedir o

filho de deixá-la. É um ato repentino movido pela emoção que ela lamenta imediatame­nte”.

Shi disse que se perguntou se essa seria uma história muito sombria para os mais jovens, mas ficou impression­ada com o comentário de uma garota de 9 anos

que assistiu ao curta no Festival de Cinema de Tribeca. “Ela disse: ‘depois de assistir ao filme, falei para minha mãe que é melhor ela não me comer quando eu for para a faculdade’. Ela entendeu tudo’.”

O curta vai indo muito bem. E Shi espera que Bao continue a inspirar

as plateias. “Se forem asiáticos, espero que se divirtam ao se verem na tela. Se não, espero que aprendam alguma coisa sobre a comunidade e a cultura chinesas. E que convidem suas mães para os levarem para almoçar.”

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PIXAR Emocionant­e. O pequeno dumpling, pastelzinh­o chinês, como representa­ção do filho

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