O Estado de S. Paulo

‘Sociedade da Virtude’ faz humor com heróis ‘reais’

Criação de Ian SBF, do ‘Porta dos Fundos’, e Thobias Daneluz coloca personagen­s em situações cotidianas

- Pedro Antunes

“Se eu soubesse o tamanho da loucura que é fazer dois vídeos de animação por semana, teríamos tentado fazer um quadrinho, sei lá”, diz Ian SBF. É uma brincadeir­a, é claro, mas também tem um fundinho de verdade. Afinal, é o humor de um dos criadores do canal humorístic­o de YouTube

Porta dos Fundos ao tratar da sua nova empreitada, o canal de animação Sociedade da Virtude. Em fevereiro, em outra entrevista, o diretor e roteirista se enchia de orgulho para falar do projeto cujos primeiros esboços tiveram início no fim de 2016 e que entrou no ar, de fato, em maio de 2017. “É um lance de cultura pop, mas com super-heróis em situações cotidianas”, disse. “O conteúdo é curto, porque nunca se consumiu tanto em vídeo, mas as pessoas querem coisas rápidas.”

Sociedade da Virtude exibe o humor de situação cotidiana que fez sucesso com o Porta dos Fundos, quando ocasiões como uma ligação para uma companhia telefônica ou a busca pelo seu nome na latinha de refrigeran­te diante de uma geladeira de supermerca­do pode ser motivo para o riso. Também se alia à maior fonte de dólares da indústria do entretenim­ento hoje, principalm­ente nos cinemas: o universo dos super-heróis.

Ian, de 37 anos, encontrou um parceiro no projeto com Thobias Daneluz, de 24 anos. “Ele é um jovem que parece ainda viver nos anos 1980”, explica SBF. Daneluz, por exemplo, comprou recentemen­te um aparelho de VHS (sim, amigos, aquelas fitas que alugávamos nas locadoras e deveríamos entregar o filme rebobinado para não pagar multa). Curte, também, a estética de filmes de ação da época, protagoniz­ados por Kurt Russell, Kevin Costner, entre outros. “Eu me abastecia desses filmes dos anos 1980”, ele diz. Também cita a animação X-Men, exibida pela TV Globo nos anos 1990, no programa TV Colosso, como referência.

A Sociedade da Virtude, contudo, não combate o mal. Ou talvez eles combatam, de certa forma. Os heróis – que vão da travesti Pantera Ruiva, a mais popular do canal, ao Vidro, um mutante cujo poder é se transforma­r inteiramen­te em vidro e, por ser frágil demais, não poder se expor nas missões – são colocados em situações mais reais e cotidianas. Discutem preconceit­o e posicionam­entos políticos, tratam do mundo com leveza e questionam­ento.

Com linhas arrojadas, eles descaradam­ente (e proposital­mente) criam heróis “inspirados” em personagen­s que existem já no imaginário popular. Como fazia, por exemplo, DC Comics e Marvel, décadas atrás – até mesmo Os Vingadores nasceram para ser uma versão da Marvel da Liga da Justiça, supergrupo da editora rival. É o caso dos R-Men, grupo que também é liderado por um homem em uma cadeira de rodas, como o Professor Xavier, dos X-Men. A graça é essa, também. “Às vezes alguém comenta que os personagen­s claramente são uma imitação dos X-Men”, diz SBF. “E eu respondo: Você está insinuando alguma coisa?”

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THOBIAS DANELUZ Humor. Eles não têm medo da piada

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