O Estado de S. Paulo

Mulheres complexas estão no centro de ‘Sharp Objects’

Com 8 episódios, minissérie da HBO que estreia neste domingo, 8, às 22h, traz a atriz Amy Adams em seu primeiro papel como protagonis­ta na TV

- Mariane Morisawa

Em tempos de Time’s Up, a representa­ção feminina na frente e atrás das câmeras é a reivindica­ção da vez em Hollywood. A minissérie da HBO Sharp Objects, que entra no ar neste domingo, 8, às 22h, atende a todos os requisitos: é baseada em Objetos Cortantes, primeiro livro da escritora Gillian Flynn, lançado no Brasil pela Intrínseca, tem uma showrunner em Marti Noxon e uma trinca de atrizes nos papéis principais.

Amy Adams, em sua estreia como protagonis­ta na TV, faz a jornalista Camille, que volta à sua cidade natal para reportar o desapareci­mento de uma garota. Patricia Clarkson interpreta Adora, mãe de Camille, e a jovem Eliza Scanlen é Amma, a caçula. A relação entre as três é complicada, para dizer o mínimo. “As mulheres em geral estão lidando com muita raiva”, afirmou Marti Noxon em entrevista ao Estado, em Los Angeles. “Nessa história, a raiva é importante. Temos essas três gerações de mulheres e como elas lidam com seus sentimento­s mais pesados. Esse tipo de história de crime e mistério preenche certo vazio das mulheres do mundo porque apresenta uma solução.”

Noxon descobriu Gillian Flynn numa feira de livro de escola. Viu a capa de Garota Exemplar e ficou intrigada. “Quis saber quem era essa escritora, tão perversa de um modo delicioso.” Em seguida, leu outros dois livros da autora, Lugares Escuros e Objetos Cortantes. “Camille ficou comigo.” A produtora quis os direitos imediatame­nte, mas descobriu que eles estavam vendidos para um filme. “Achei que ia desaparece­r, porque personagen­s femininas assim não costumam ser bem desenvolvi­das no cinema. Na TV podíamos deixar as personagen­s viverem e respirarem.”

Noxon convenceu Jason Blum, detentor dos direitos, a investir numa minissérie em oito episódios. O projeto ganhou volume, atraindo a HBO, Amy Adams, cinco vezes indicada para o Oscar, e o diretor Jean-Marc Vallée (de Livre e da série Big Little Lies).

Adams confessa que hesitou um pouco, apesar da qualidade do material. Eram oito horas fazendo uma mulher alcoólatra, que se mutila para lidar com a dor do passado. Voltar à pequena Wind Gap é remexer a relação para lá de conflituos­a com a mãe e ser apresentad­a à sua irmã caçula, que tem um jeito totalmente diferente de encarar o amor opressivo de Adora. “Com as mulheres, a violência é muito mais psicológic­a do que física”, disse Adams. “Gillian faz isso muito bem, usando uma família para ver o lado obscuro e as consequênc­ias da violência através das gerações.”

Para Patricia Clarkson, muitas vezes as grandes histórias femininas são sobre mulheres que sofreram imensament­e. E isso é bom. “Não temos de ser heroínas, ou exemplos, não temos de liderar países.” Foi nisso que Flynn pensou quando começou a escrever seu primeiro livro: personagen­s femininas complexas, difíceis de gostar, não necessaria­mente heroicas, que não via na literatura da época. “Meu objetivo sempre foi criar mulheres com um leque de emoções. Não somos só isso ou aquilo.” Em 2006, foi duro encontrar quem investisse. Em 2018, o jogo virou.

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HBO Amy Adams. Como a sofrida jornalista Camille

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