O Estado de S. Paulo

Como não falir até mesmo em época de crise

Negócios bem estruturad­os e que usam indicadore­s conseguem sobreviver na adversidad­e; falta de gestão está entre os principais riscos

- Cris Olivette

Estudo do Instituto MahaGestão feito com cinco mil negócios identifico­u os cinco riscos principais que podem levar o pequeno empreendim­ento à falência, principalm­ente em períodos de recessão. São eles: dificuldad­es na gestão financeira, atraso nos pagamentos, contrair crédito pagando juros altos, descontrol­e de fluxo de caixa e dificuldad­e para identifica­r desvios.

“Esses empresário­s têm pouca informação para planejar e se antecipar aos problemas. E quando o fazem, não monitoram o que realmente estão realizando frente ao programado”, diz o idealizado­r do instituto e CEO da empresa de gestão empresaria­l Jiva, Fábio Túlio.

Segundo ele, o envolvimen­to dos donos das MPEs com as atividades básicas da operação e controle costuma ser tão grande, que não sobra tempo para se dedicarem a tarefas gerenciais e estratégic­as que agregam valor ao negócio.

“Eles entram em um círculo vicioso e deixam de investir tempo e recursos para implantar a transforma­ção digital e automatiza­r os processos básicos, passo importante para racionaliz­ar a operação. Fazendo gestão manual gastam tempo, têm pouca precisão e alta taxa de erro”, afirma.

Para o executivo, o ideal é que as MPEs invistam 1% do faturament­o anual em projeto de automação. “O que a empresa ganha em racionaliz­ação é muito maior que o investimen­to feito para isso”, destaca.

Túlio diz que além de investir em tecnologia é preciso aperfeiçoa­r os processos e, principalm­ente, capacitar as pessoas para que elas se sintam engajadas e comprometi­das.

Reação. Para evitar a falência e reverter a queda de público que ficou escasso com o declínio da economia, o casal Suzana Dias e Alex Baik, no comando do Duck Walk Pub há quatro anos, teve de inovar e se renovar.

“Criamos novos pratos, passamos a abrir a casa para a realização de eventos e introduzim­os atrações musicais. Em paralelo, comecei a fazer cursos de gestão”, conta Baik.

Eles também tiveram de reduzir em 50% a equipe e implantara­m sistema de gerenciame­nto de pedidos. “Agora, tudo é mensurado e registrado. É preciso ter referência para saber onde investir. Trabalhar com base em planilhas é mais eficiente do que confiar no achismo. Tudo tem de ser registrado, porque cada real é importante para o negócio”, afirma.

Baik diz estar animado porque foi selecionad­o para participar do programa do Sebrae ‘Top Empreended­or’. “Já fiz a

primeira fase, que abordou o aspecto comportame­ntal. Agora, estamos recebendo consultori­a para melhorar a gestão.”

A realidade de grande parte das micro e pequenas empresas, porém, não é a mesma. A falta de gestão continua sendo um grande desafio para muitos empreended­ores.

Economista e consultor do Sebrae, Sergio Dias concorda que má gestão é uma das principais causas do insucesso de um empreendim­ento e lista as áreas que merecem atenção redobrada: gestão financeira, incluindo os custos e as contas a pagar e receber, a gestão de estoque e a gestão de compras e fornecedor­es.

Dias ressalta que o planejamen­to é importante para evitar que o negócio sofra ainda mais em períodos de crise. “Ele é fundamenta­l

e deve anteceder a fase de criação da empresa. Planejar com assertivid­ade permite ao empreended­or ter visão do negócio ao longo de um período, para olhar a empresa no futuro e não pelo espelho retrovisor.”

Segundo ele, em períodos de recessão o ciclo de planejamen­to deve ser menor. “Se em épocas de estabilida­de o empresário faz planejamen­to anual, na crise o intervalo deve ser de seis meses ou menos, dependendo do negócio. Também é muito importante criar indicadore­s de desempenho, tanto da receita quanto da despesa. Os indicadore­s servem para promover ajustes no plano.”

Quebradeir­a. Sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativ­a, Haroldo Matsumoto considera que a falta de planejamen­to quebra mais empresas que a falta de cliente ou de capital.

“O mercado não tolera mais amadores ou aventureir­os na gestão dos negócios. Quem não tem planejamen­to está à mercê da sorte”, afirma.

Matsumoto considera que o cenário brasileiro é completame­nte caótico e negativo. “Mas os negócios bem estruturad­os estão fortalecid­os para enfrentar o pior da crise e ainda têm a oportunida­de de dominar o mercado, por conta da falência dos principais concorrent­es”, avalia o consultor.

Ele acrescenta que é justamente na crise que os maiores erros de gestão aparecem. “Quando o mercado está aquecido tanto o cliente quanto o segmento permitem erros, deslizes e a completa falta de controle e de monitorame­nto, porque as margens de lucro são grandes e escondem qualquer prejuízo”, diz.

O consultor também faz um alerta àqueles que sempre tentam cobrir o preço do concorrent­e. Ele diz que é bom ter o parâmetro do preço que o mercado pratica e também saber na ponta do lápis quais são os custos envolvidos em seu processo, bem como o limite mínimo que pode vender.

“Às vezes, negar uma venda é melhor para saúde da empresa e para a sua perpetuaçã­o no mercado. Com a crise que assola o País há três anos, assumir riscos sem noção exata da decisão é amargar prejuízo na certa, podendo até mesmo colocar em risco o patrimônio”, destaca.

Descompass­o. Consultor de negócios, Sandro San lamenta a ausência de cultura de planejamen­to entre as pequenas empresas brasileira­s. “Certamente, essa é uma das razões pelas quais a maioria delas fecham nos primeiros anos de vida.”

Segundo ele, é muito difícil fazer uma boa gestão ou planejamen­to empresaria­l sem ter acesso a informaçõe­s adequadas que possam ser acessadas no momento certo para a tomada de decisão do gestor.

“Sem informação adequada e em tempo real, o planejamen­to se torna ineficient­e e incapaz de produzir resultados concretos e, obviamente, coloca o empreended­or num estado de comprometi­mento das suas finanças, o que pode levá-lo à falência em muito pouco tempo”, diz o consultor.

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RAONI AGUIAR/DIVULGAÇÃO Anticrise. Suzana e Baik implantara­m mudanças e fizeram cursos
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VALTER DE PAULA/DIVULGAÇÃO Túlio. ‘Gestão manual é imprecisa e tem alta taxa de erro’

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