Como não falir até mesmo em época de crise
Negócios bem estruturados e que usam indicadores conseguem sobreviver na adversidade; falta de gestão está entre os principais riscos
Estudo do Instituto MahaGestão feito com cinco mil negócios identificou os cinco riscos principais que podem levar o pequeno empreendimento à falência, principalmente em períodos de recessão. São eles: dificuldades na gestão financeira, atraso nos pagamentos, contrair crédito pagando juros altos, descontrole de fluxo de caixa e dificuldade para identificar desvios.
“Esses empresários têm pouca informação para planejar e se antecipar aos problemas. E quando o fazem, não monitoram o que realmente estão realizando frente ao programado”, diz o idealizador do instituto e CEO da empresa de gestão empresarial Jiva, Fábio Túlio.
Segundo ele, o envolvimento dos donos das MPEs com as atividades básicas da operação e controle costuma ser tão grande, que não sobra tempo para se dedicarem a tarefas gerenciais e estratégicas que agregam valor ao negócio.
“Eles entram em um círculo vicioso e deixam de investir tempo e recursos para implantar a transformação digital e automatizar os processos básicos, passo importante para racionalizar a operação. Fazendo gestão manual gastam tempo, têm pouca precisão e alta taxa de erro”, afirma.
Para o executivo, o ideal é que as MPEs invistam 1% do faturamento anual em projeto de automação. “O que a empresa ganha em racionalização é muito maior que o investimento feito para isso”, destaca.
Túlio diz que além de investir em tecnologia é preciso aperfeiçoar os processos e, principalmente, capacitar as pessoas para que elas se sintam engajadas e comprometidas.
Reação. Para evitar a falência e reverter a queda de público que ficou escasso com o declínio da economia, o casal Suzana Dias e Alex Baik, no comando do Duck Walk Pub há quatro anos, teve de inovar e se renovar.
“Criamos novos pratos, passamos a abrir a casa para a realização de eventos e introduzimos atrações musicais. Em paralelo, comecei a fazer cursos de gestão”, conta Baik.
Eles também tiveram de reduzir em 50% a equipe e implantaram sistema de gerenciamento de pedidos. “Agora, tudo é mensurado e registrado. É preciso ter referência para saber onde investir. Trabalhar com base em planilhas é mais eficiente do que confiar no achismo. Tudo tem de ser registrado, porque cada real é importante para o negócio”, afirma.
Baik diz estar animado porque foi selecionado para participar do programa do Sebrae ‘Top Empreendedor’. “Já fiz a
primeira fase, que abordou o aspecto comportamental. Agora, estamos recebendo consultoria para melhorar a gestão.”
A realidade de grande parte das micro e pequenas empresas, porém, não é a mesma. A falta de gestão continua sendo um grande desafio para muitos empreendedores.
Economista e consultor do Sebrae, Sergio Dias concorda que má gestão é uma das principais causas do insucesso de um empreendimento e lista as áreas que merecem atenção redobrada: gestão financeira, incluindo os custos e as contas a pagar e receber, a gestão de estoque e a gestão de compras e fornecedores.
Dias ressalta que o planejamento é importante para evitar que o negócio sofra ainda mais em períodos de crise. “Ele é fundamental
e deve anteceder a fase de criação da empresa. Planejar com assertividade permite ao empreendedor ter visão do negócio ao longo de um período, para olhar a empresa no futuro e não pelo espelho retrovisor.”
Segundo ele, em períodos de recessão o ciclo de planejamento deve ser menor. “Se em épocas de estabilidade o empresário faz planejamento anual, na crise o intervalo deve ser de seis meses ou menos, dependendo do negócio. Também é muito importante criar indicadores de desempenho, tanto da receita quanto da despesa. Os indicadores servem para promover ajustes no plano.”
Quebradeira. Sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa, Haroldo Matsumoto considera que a falta de planejamento quebra mais empresas que a falta de cliente ou de capital.
“O mercado não tolera mais amadores ou aventureiros na gestão dos negócios. Quem não tem planejamento está à mercê da sorte”, afirma.
Matsumoto considera que o cenário brasileiro é completamente caótico e negativo. “Mas os negócios bem estruturados estão fortalecidos para enfrentar o pior da crise e ainda têm a oportunidade de dominar o mercado, por conta da falência dos principais concorrentes”, avalia o consultor.
Ele acrescenta que é justamente na crise que os maiores erros de gestão aparecem. “Quando o mercado está aquecido tanto o cliente quanto o segmento permitem erros, deslizes e a completa falta de controle e de monitoramento, porque as margens de lucro são grandes e escondem qualquer prejuízo”, diz.
O consultor também faz um alerta àqueles que sempre tentam cobrir o preço do concorrente. Ele diz que é bom ter o parâmetro do preço que o mercado pratica e também saber na ponta do lápis quais são os custos envolvidos em seu processo, bem como o limite mínimo que pode vender.
“Às vezes, negar uma venda é melhor para saúde da empresa e para a sua perpetuação no mercado. Com a crise que assola o País há três anos, assumir riscos sem noção exata da decisão é amargar prejuízo na certa, podendo até mesmo colocar em risco o patrimônio”, destaca.
Descompasso. Consultor de negócios, Sandro San lamenta a ausência de cultura de planejamento entre as pequenas empresas brasileiras. “Certamente, essa é uma das razões pelas quais a maioria delas fecham nos primeiros anos de vida.”
Segundo ele, é muito difícil fazer uma boa gestão ou planejamento empresarial sem ter acesso a informações adequadas que possam ser acessadas no momento certo para a tomada de decisão do gestor.
“Sem informação adequada e em tempo real, o planejamento se torna ineficiente e incapaz de produzir resultados concretos e, obviamente, coloca o empreendedor num estado de comprometimento das suas finanças, o que pode levá-lo à falência em muito pouco tempo”, diz o consultor.